PF desmancha quadrilha que mandou ilegalmente mais de 400 brasileiros aos EUA

O esquema partia do Estado de Rondônia e atravessava brasileiros por meio da fronteira com o México (Divulgação/PF)

13 de fevereiro de 2023

20:02

Iury Lima – Da Agencia Amazônia

VILHENA (RO) – Uma quadrilha de ‘coiotes brasileiros’ que levou mais de 400 pessoas ilegalmente para os Estados Unidos da América (EUA) foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) nesta segunda-feira, 13, com apoio da Agência de Investigações de Segurança Interna dos EUA e da embaixada americana em Brasília.

O grupo movimentou cerca de R$ 16,5 milhões contrabandeando migrantes, segundo a polícia. O esquema partia do Estado de Rondônia e atravessava brasileiros por meio da fronteira com o México. A Justiça determinou a prisão preventiva de cinco suspeitos e a prisão domiciliar de um sexto investigado.

Os agentes também estão cumprindo dez mandados de busca e apreensão em Rondônia, Amazonas, Tocantins e Goiás. Uma quantia de R$ 8 milhões em bens dos investigados também foram bloqueados na operação que leva o nome de Yankee.

Esquema contava com parceiros em vários Estados brasileiros e nos EUA; mais de 400 pessoas foram enviadas do Brasil, ilegalmente, pelos coiotes (Polícia Federal/Divulgação)

Quase 500 vítimas

Uma empresa de turismo em Rondônia, sediada no município de Buritis, a 320 quilômetros de Porto Velho, era responsável por organizar a logística do esquema, emitindo passaportes, compra de passagens aéreas e auxílio nos voos que seguiram para o México. Chegando ao País latino, os brasileiros tinham de atravessar a pé até o território norte-americano.

Os donos da empresa vinham sendo monitorados pela PF desde 2021, após receber informações do Oficialato de Ligação da Polícia Federal, em El Paso, cidade no Estado do Texas, sobre brasileiros de Rondônia e envolvidos no contrabando de pessoas com destino aos Estados Unidos, por intermédio de organização criminosa. 

A polícia diz que identificou centenas de pessoas, “a maioria, residentes no Estado de Rondônia, que conseguiram ingressar em território americano com o apoio dos denominados coiotes”. Ainda de acordo com a PF, o grupo contava com membros espalhados por outros Estados brasileiros, inclusive, nos EUA, que recebiam migrantes brasileiros que conseguiam cruzar as fronteiras ilegalmente.

“Por outro lado, mesmo com o pagamento dos valores cobrados, muitos desses migrantes não conseguiram cruzar a fronteira do México com os Estados Unidos, sendo detidos e deportados para o Brasil”, diz a PF em nota. Foram, pelo menos, 444 vítimas em um período de 4 anos, entre 2019 e 2022. A polícia afirma que o número ainda deve subir. 

Agência de turismo em Rondônia operava a parte logística do contrabando de pessoas para os EUA (Divulgação/PF)

Abandonada para morrer

Com o desmanche da quadrilha nesta segunda-feira, as histórias de duas brasileiras voltaram a ganhar repercussão. Uma passou por momentos de terror, enquanto a outra foi abandonada por amigos de infância para morrer no deserto durante a travessia.

Lenilda dos Santos, de 49 anos, morreu ao atravessar a pé do México para os Estados Unidos em busca de melhores condições de vida para a família e para poder pagar a faculdade das filhas.

Ela saiu da cidade de Vale do Paraíso, em agosto de 2021. A travessia no deserto começou no dia 6 de setembro, após ter ficado com amigos e com um dos coiotes esperando a hora de cruzar a fronteira. Debilitada, Lenilda chegou a desmaiar. Os acompanhantes de viagem e o coiote responsável pelo trajeto clandestino decidiram seguir o caminho sem ela, prometendo voltar para buscá-la.

A mulher, que era técnica de enfermagem, ainda caminhou por um dia inteiro até o local de encontro marcado para o resgate, mas ninguém apareceu. Lenilda morreu quatro meses antes de se tornar avó de uma menina.

Lenilda dos Santos, de 49 anos, deixou Rondônia com destino aos EUA e morreu abandonada no deserto antes de cruzar a fronteira com o México (Reprodução/Redes Sociais)

O homem que atuava como ‘coiote’, intermediando a imigração ilegal de Lenilda, foi identificado como Anderson Jerônimo de Souza. Ele foi preso em julho do ano passado pela Polícia Federal (PF).

Sequestro e abuso sexual

Já em dezembro de 2021, uma jovem de 24 anos, também brasileira, foi resgatada após ter sido roubada e estuprada pelos contrabandistas.

A família usou as redes sociais para denunciar o caso e pedir ajuda na arrecadação de recursos para o tratamento da moça. Ela foi encontrada amarrada e em estado grave perto de uma fazenda. A vítima chegou a ficar em coma em um hospital do México.

Condenações

Os investigados vão responder na Justiça federal pelos crimes de organização criminosa, contrabando de migrantes e lavagem de dinheiro. Caso condenados, devem ficar presos por mais de 23 anos.