Pré-candidato à Presidência, Lula promete ministério para políticas indígenas e ‘revogaço’ no ATL

O petista foi saudado ao levantar a possibilidade da criação de um ministério específico para políticas voltadas aos indígenas (Yusseff Abrahim/CENARIUM)

12 de abril de 2022

21:04

Yusseff Abrahim – Da Revista Cenarium

BRASÍLIA – Único entre os pré-candidatos à Presidência da República a participar do Acampamento Terra Livre, até o momento, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) roubou a cena, nesta terça-feira, 12. O petista foi saudado ao levantar a possibilidade da criação de um ministério específico para políticas voltadas aos indígenas.

“Se a gente criou o Ministério da Igualdade Racial, se a gente criou o Ministério dos Direitos Humanos, se a gente criou o Ministério da Pesca, porque a gente não pode criar um ministério para discutir as questões indígenas?”, questionou para uma plenária lotada.

Em outro momento, Lula também foi muito aplaudido ao reconhecer que será impossível governar pelos povos originários sem a revogação de várias medidas impostas pelo governo atual.

“É preciso criar o “Dia do Revogaço”, e tudo que foi decreto criando empecilho terá que ser revogado imediatamente. A gente não pode permitir que aquilo que foi conquista da luta de vocês seja tirado por decreto para dar direito àqueles que acham que têm que acabar com a nossa floresta”, aponta.

Durante a sua participação, Lula recebeu a Carta Aberta do Acampamento Terra Livre com um conjunto de reivindicações.

Em mais um dia dedicado ao fortalecimento de candidaturas indígenas, o Acampamento Terra Livre recebeu parlamentares, lideranças políticas e várias pré-candidatas e pré-candidatos de várias partes do Brasil.

Ao afirmar que veio de um dos Estados onde mais se tenta invisibilizar a luta indígena, a deputada federal Natalia Bonavides (PT/RN) criticou a postura hostil aos povos originários do presidente Jair Bolsonaro, mesmo antes de assumir a Presidência, e ressaltou que existem deputados articulando para evitar a aprovação de propostas que significam retrocessos.

“A gente não pode esquecer que Bolsonaro desejou o extermínio da população indígena do nosso País e que ele tentou botar em prática esse desejo fazendo essa política de destruição. Nós não vamos aceitar que se revertam demarcações postas, que se aprovem esses projetos que legalizam invasões contra Terras Indígenas, que legalizam veneno contra o nosso povo e a destruição do meio ambiente”.

Entre os pré-candidatos presentes, a codeputada estadual e pré-candidata à reeleição para a Alesp, Chirley Pankará (PSOL/SP), destacou a similaridade da sua trajetória com a do ex-presidente, como migrante de Pernambuco, para convidá-lo a conhecer a realidade das aldeias de São Paulo e da invisibilidade da população indígena em grandes centros.

“Como é difícil resistir em uma cidade que nos invisibiliza tanto, que invisibiliza o povo nordestino. É importante conhecer e acompanhar as aldeias de São Paulo e dos indígenas que moram no contexto urbano”.

A hora das candidaturas indígenas

A participante do ATL 2022, Tamikua Txihi, é uma liderança da Terra Indígena do Jaraguá, em São Paulo. Para ela, as candidaturas indígenas se fazem urgentes e necessárias.

“Nós não queremos ser mais tutelados. Enquanto povos indígenas, sempre soubemos fazer política dentro do nosso território, que é cuidar da nossa comunidade, cuidar do futuro de nossas crianças e compartilhar os recursos entre todos”, comentou Tamikua, que atua no coletivo Feminismo Comunitário de Abya Yala, que introduz práticas políticas para mulheres inspiradas na luta política de Bartolina Sisa, heroína do povo Aymara, da Bolívia, que lutou contra o domínio espanhol.

A participante do ATL 2022, Tamikua Txihi, é uma liderança da Terra Indígena do Jaraguá, em São Paulo. Para ela, as candidaturas indígenas se fazem urgentes e necessárias (Yusseff Abrahim/CENARIUM)

Natural de Vila da Penha, no município de Santo Antônio do Iça, no Amazonas, Oziel Ticuna, é estudante do quinto período de Administração da UnB. Ele acredita que o movimento indígena precisa evoluir para conquistar espaços de representação política.

“Muita das vezes, a gente não tem a visibilidade. Nós estamos organizando o povo. Então, para mim, é importante votar no ‘parente’, para a gente ter força, direito e que ele continue representando a gente. É muito importante”.

Oziel esteve no evento representando a Associação dos Acadêmicos Indígenas da Universidade de Brasília (AAIUnB).