Premiado 24 vezes, filme feito em RO, ‘O Território’ é sucesso na COP27

'O Território' cumpre o dever de defender o protagonismo indígena no combate à emergência do clima, além de fazer ecoar em todo o globo o clamor por proteção e respeito para os povos originários (Bruna Guerra/Reprodução)

16 de novembro de 2022

19:11

Iury Lima – Da AGÊNCIA AMAZÔNIA

VILHENA (RO) – A luta por sobrevivência e pela conservação da floresta, tida como lar pelos indígenas Uru-Eu-Wau-Wau, de Rondônia, vem ganhando o mundo com seus 83 minutos em tela. História real que faz chorar de emoção e revolta, denunciando extração ilegal de madeira, grilagem e até assassinatos. A mais recente amostra de sucesso foi em painéis da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27), que acontece no Egito, até a próxima sexta-feira, 18.

Premiado, internacionalmente, 24 vezes, “O Território” defende o protagonismo indígena, no combate à emergência do clima, além de fazer ecoar em todo o globo o clamor por proteção e respeito para os povos originários. 

“É a primeira vez que vejo um filme como esse ser apresentado numa Conferência do Clima”, disse a indigenista e presidente da ONG Kanindé, Neidinha Suruí, à AGÊNCIA AMAZÔNIA. Ela é uma das pessoas envolvidas nos bastidores e pôde, ao lado da filha, a ativista Txai Suruí – que mais uma vez, foi uma potente voz na COP -, acompanhar toda a repercussão do documentário, no evento da ONU.

Txai apresentou o longa durante participação no pavilhão Brazil Climate Action Hub, onde citou as populações nativas do País como exemplo em diplomacia ambiental. “O Brasil é muito visado por causa da nossa Amazônia, por causa da nossa floresta, por causa da importância que esse lugar tem para o mundo”, disse ainda a ativista.

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‘O Território’ foi apresentado por Txai Suruí, na COP27, no Egito (Neidinha SuruÍ/Reprodução)

Relevância internacional

Integrante de uma lista de 25 documentários selecionados pela International Documentary Association (IDA) para a categoria principal da 38ª edição do prêmio da entidade, o IDA Documentary Awards, “O Território” teve grandes chances de competir por uma estatueta do Oscar, em 2023, visto que o IDA funciona como uma espécie de termômetro para a mais importante premiação do cinema.

Dirigido por Alex Pritz, em parceria com os indígenas, o longa foi a única obra brasileira a figurar entre os finalistas. O resultado foi publicado na última sexta-feira, 11.

Com 97% de aprovação no Rotten Tomatoes, o filme acumula prêmios e marcas invejáveis, como ter sido o único do Festival Sundance de Cinema 2022, reconhecido como o melhor pelo público e pelo júri.

Representatividade

Neidinha Suruí, mentora do jovem indígena Bitaté Uru-Eu-Wau-Wau, na construção da narrativa apresentada por ele, como personagem e uma das vozes que conduzem toda a trama de “O Território”, diz que o sucesso está na maneira em que o filme se conecta a quem assiste e luta pelas mesmas causas, independentemente do continente ou da língua falada.

“E eu acho que, devido à importância do filme, os organizadores o trouxeram para cá [COP27], pois ele mexe, realmente, com as pessoas. Ele informa de maneira muito clara o que está acontecendo na Amazônia (…) o que acontece na Amazônia é muito parecido com o que acontece em vários países e, aí, as pessoas acabam se identificando com o filme”, avaliou a indigenista.

A indigenista, ambientalista e presidente da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Neidinha Suruí, em uma das cenas de ‘O Território’ (O Território/Divulgação)

“Para mim, é muito clara essa identificação das pessoas, e elas sempre vêm conversar com a gente, dizendo: olha, isso é muito parecido, fala muito com a gente porque é como, também, acontece no nosso País, na nossa terra”, contou Neidinha, alegremente. “Eu considero que o filme consegue mostrar que a pressão imposta por desmatadores, por quem não respeita a natureza, contra as ‘maiorias minorizadas’, é muito parecida em todo canto”, concluiu. 

O filme

“O Território”, coproduzido entre Brasil e Estados Unidos, além da direção de Alex Pritz, teve participação de cineastas brasileiros indígenas e não indígenas.

O longa reúne imagens reais capturadas durante três anos, que mostram o dia a dia dos moradores de comunidades, enquanto arriscam as próprias vidas para montar equipes de mídia e vigilância da própria TI, na tentativa de revelar a verdade e toda a “sorte” de crimes ambientais cometidos dentro da reserva, que tem quase 2 milhões de hectares.

Toda a produção resultou num olhar imersivo sobre a incansável luta do povo Uru-Eu-Wau-Wau contra grileiros, fazendeiros, posseiros, garimpeiros e o avanço do desmatamento em plena Amazônia Legal.

Cineastas indígenas e não indígenas se unem para revelar a pressão sofrida pela Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau (O Território/Divulgação)

Reflexo de quatro décadas de desmatamento descontrolado, desde que a etnia foi contatada pela primeira vez, pela Fundação Nacional do Índio (Funai), no início dos anos 1980, a destruição de floresta, além de permear a reserva, passou a adentrar a unidade e culminar em episódios violentos contra a resistência dos indígenas, como o assassinato do líder e ativista Ari Uru-Eu-Wau-Wau, morto em 2020 por denunciar atividade madeireira ilegal. A prisão de um suspeito ocorreu somente agora, em 2022, dois anos depois.

Hoje, a TI tem menos de 200 habitantes. A área abrange 12 municípios de Rondônia e funciona como importante corredor etnoambiental da Amazônia brasileira.

Assista ao trailer de ‘O Território’

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