Problema com internet faz audiências do caso Bruno e Dom serem suspensas no AM

À esquerda, o indigenista Bruno Pereira, e à direita, o jornalista Dom Phillips (Thiago Alencar/REVISTA CENARIUM)

22 de março de 2023

21:03

Gabriel Abreu – Da Agência Amazônia

TABATINGA (AM) – Pelo terceiro dia consecutivo, o problema de conexão com a internet nos presídios onde os suspeitos da morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips estão causou a suspensão de três audiências sobre o caso. O terceiro adiamento ocorreu nesta quarta-feira, 22, em Tabatinga (distante 1.107 quilômetros de Manaus). Foram definidos os dias 20, 21 e 22 de março para realização das audiências, mas a internet seguiu sendo barreira para ouvir as testemunhas e os réus.

A previsão inicial era realizar a oitiva das 12 testemunhas de acusação e defesa, além do interrogatório dos três réus, Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”; Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Dantos”; e Jefferson da Silva Lima, conhecido como “Pelado da Dinha”O juízo da Vara Única da Subseção Judiciária de Tabatinga deu início no dia 20 de março às audiências de instrução do processo.

Sede do Fórum da Justiça Federal, em Tabatinga (Reprodução)

No primeiro dia, houve atraso no início dos trabalhos em razão da falta de internet nos presídios federais de Catanduvas e Campo Grande, Paraná e Mato Grosso do Sul, respectivamente, local de custódia de Amarildo, Jefferson e Oseney. No dia 20, somente uma testemunha foi ouvida.  

No dia 21, os trabalhos foram retomados às 7 horas, com a oitiva das testemunhas que estavam previstas para o primeiro dia. Por conta, novamente, das dificuldades, não foi permitido que pudessem ser ouvidas todas as testemunhas previstas para essa data, sendo ouvidas outras 3 testemunhas do dia 20, uma delas ouvida na qualidade de informante.

Nesta quarta-feira, 22 , os trabalhos foram retomados às 8 horas e, durante a oitiva da segunda testemunha do dia, mais uma vez, o ato precisou ser suspenso, por ausência de internet nos presídios. Após 2 horas de aguardo, sem a solução da instabilidade de internet nos presídios, o magistrado encerrou a audiência desta data. 

Em nota, a assessoria de comunicação da Justiça Federal informou que “em razão dos atrasos que decorreram das falhas de internet, haverá a designação de novas datas para finalização das oitivas e realização dos interrogatórios“.

“Parte das testemunhas estão sendo ouvidas, presencialmente, e parte de modo remoto. Os réus participam dos atos por videoconferência e serão interrogados após a oitiva de todas as testemunhas, conforme determina a lei”, finaliza nota.   

Entenda o caso

O indigenista licenciado da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Bruno da Cunha Araújo Pereira, e o jornalista britânico Dominic Mark Phillips, o “Dom Phillips”, foram assassinados em junho de 2022 na região amazônica, dentro da Terra Indígena Vale do Javari, a segunda maior reserva indígena do País.

Eles desapareceram quando faziam uma expedição para uma investigação, na Amazônia, e foram vistos, pela última vez, no dia 5 de junho, quando passavam em uma embarcação pela Comunidade São Rafael.

Além dos três acusados, a Polícia Federal (PF) apontou que o mandante intelectual do crime é Ruben Villar, conhecido como “Colômbia”. As investigações mostraram que “Colômbia” forneceu as munições e embarcações para a execução do crime, motivado por conta da fiscalização para combater a pesca ilegal na região.

Ruben Villar Coelho, conhecido como ‘Colômbia’, é apontado como chefe do esquema de lavagem de dinheiro do narcotráfico, por meio da pesca ilegal no Vale do Javari (Divulgação)

De acordo com a PF, as investigações mostraram que “Colômbia” forneceu as munições e embarcações para a execução do crime, motivado por conta da fiscalização para combater a pesca ilegal na região“Nós tivemos as provas dele fornecendo as munições, temos uma ligação dele com um dos suspeitos de cometer o crime, na antevéspera dos assassinatos. Nós estamos conscientes de que há indícios veementes de que ele é o autor intelectual do crime”, disse Eduardo Fontes.

Coletiva de imprensa em que a Polícia Federal (PF) aponta ‘Colômbia’ como mandante dos assassinatos (Jander Souza/REVISTA CENARIUM)

“Colômbia” já vinha sendo apontado como o mandante do crime pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). O delegado afirmou que nunca tinha descartado o envolvimento do suspeito.

“Nunca descartamos nenhuma linha investigativa, e toda estratégia se revelou exitosa. Não tenho dúvidas, nós temos um mandante. Indícios veementes apontam para “Colômbia” como mandante”, afirmou o delegado.

Ruben Dario da Silva Villar, o Colômbia, é apontado ainda como um dos mandantes do assassinato do colaborador da Funai Maxciel Pereira dos Santos, em 2019, pela Polícia Federal. O crime ocorreu na Avenida da Amizade, em Tabatinga, quando Maxciel foi alvo de disparos na nuca, enquanto estava de moto com a esposa e a enteada.