Produtora brasileira cria game baseado nas lutas e resistências dos povos indígenas do Brasil

Produtora brasileira arrecada, na internet, para construir um game que reflete as lutas dos povos originários do Brasil (Divulgação)

27 de janeiro de 2023

20:01

Mencius Melo – Agência Amazônia

MANAUS – A produtora brasileira Split de séries como “Hello Kitty & Friends – Supercute Adventures” e “Turma da Mônica” lançou, recentemente, campanha de financiamento coletivo na plataforma Catarse para a construção de um game inspirado nas lutas dos povos originários do Brasil. “Entre as Estrelas” retrata a jornada das irmãs Ari e Tai em uma aventura onde a magia e os encantos permeiam a história. Além de divertir, de forma original, o jogo ainda lança luzes sobre o debate socioambiental. Quem quiser contribuir basta acessar www.catar.se/estrelas.

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A animação que está sendo produzida pela Split contou com a participação de profissionais de diversos povos indígenas (Divulgação)

O roteiro de “Entre as Estrelas” não chega a ser estranho ao Brasil de 2023. “Quando queimadas criminosas expulsam uma comunidade inteira de seu lar, duas irmãs são separadas pelo ataque de grileiros e se veem obrigadas a tomar rumos diferentes na luta pela sobrevivência – da sua própria, de seu povo e de toda a região em que cresceram”, diz a sinopse do jogo.

O jogo e a narrativa foram inspirados nos povos Guarani Kaiowá e Kadiwéu, e na equipe de criação estão profissionais indígenas de variados povos. “Esse jogo é muito importante para mim, por falar sobre a questão indígena atual do Brasil e atentar à população de que, muito antes desse território ser ‘Brasil’, ele é um território indígena, que chamamos de ‘Pindorama’, e que existem várias narrativas que remontam os nossos antepassados, os nossos pais, os nossos avós“, declarou Nicolle Ansay, roteirista e produtora do projeto.

Arrecadação

A campanha de arrecadação na plataforma Catarse vai até o dia 27 de fevereiro de 2023. Até o momento, arrecadou R$ 135 mil com apoio de 1.500 pessoas. A Catarse é uma plataforma de cultura jovem e geek. Além de arrecadar para a construção do game, a Split vai repassar 15% da verba arrecadada para associações indígenas, como Associação Jovens Indígenas (AJI), Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e Articulação Nacional das Mulheres Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga). 

As irmãs Tai e Ari adentram em uma jornada de magia para salvar seu povo e sua terra das ambições de grileiros (Divulgação)

Membro da equipe técnica do game, Ian Wapichana, instrumentalista e compositor do jogo, comentou sobre a felicidade de fazer parte: “Quando a gente está numa luta pela igualdade, equidade, transformação social e espiritual, a gente leva o nosso povo junto, que é a junção de todos esses (povos) que existem até hoje, mesmo após a colonização”, contextualizou.

Para o antropólogo Alvatir Carolino, ideias como a da produtora Split são muito bem-vindas: “É recorrente que as abordagens sobre povos originários, indígenas, tenham sempre a perspectiva naturalista ou divinizada. Portanto, quando produtos da indústria cultural trazem abordagem que situam indígenas na perspectiva de agentes sociais mobilizados frente às invasões e usurpações de suas territorialidades e modos de vida, considero louvável, oportuno e necessário”, avaliou o cientista.

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