‘Qual o papel da primeira-dama?’ Pergunta tomou conta das redes após críticas de jornalista a Janja, esposa de Lula

Futura primeira-dama foi criticada por atuação ativa na campanha de Lula (Ricardo Stuckert/Reprodução)

14 de novembro de 2022

14:11

Ívina Garcia – Da Agência Amazônia

MANAUS — A tag “Respeita a Janja” está entre os assuntos mais comentados no Twitter desde a última sexta-feira, 11, após comentários da jornalista Eliane Cantanhêde serem considerados machistas e misóginos por internautas durante o programa “Em Pauta”, do GloboNews.

A comentarista política criticou a posição de Rosângela Lula da Silva, conhecida como Janja, no gabinete de transição entre o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). “Ela estava ali sentada, mas ela não é presidente do PT, ela não é líder política, ela não é presidente de partido, enfim, por que ela estava ali? Qual era o papel da primeira-dama?”, questionou a comentarista.

Veja vídeo:

Janja tem 56 anos, é socióloga e se filiou ao PT quando tinha 17, é formada em Ciências Sociais e tem MBA em Gestão Social e Sustentabilidade, também se especializou em História, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

A futura primeira-dama foi anunciada como chefe do gabinete de Lula, responsável pela cerimônia de posse, marcada para acontecer no próximo dia 1º de janeiro de 2023, quando também assumirá o posto de 38º primeira-dama do Brasil, sucedendo à esposa de Bolsonaro, Michelle Bolsonaro.

Janja foi ativa e discursou em várias oportunidades durante a campanha de Lula (Ricardo Stuckert)

A jornalista da GloboNews ainda relembrou a atuação de outras primeiras-damas, enaltecendo aquelas com comportamento mais restrito em comparação a atuação de Janja. Cantanhêde citou Ruth Cardoso, esposa de Fernando Henrique Cardoso, que, segundo a comentarista, tinha “brilho próprio“, mas não “protagonismo“.

Ela [Ruth Cardoso] não tinha protagonismo, não tinha voz nas decisões políticas, se tinha, era a quatro chaves, dentro do quarto do casal, ou seja, já incomoda, sim, porque ela [Janja] vai começar a participar de reunião, já vai dar palpite e daqui a pouco, ela vai dizer ‘esse aqui vai ser ministro, esse aqui não pode’. Isso dá confusão. Se é assim na transição, imagina quando virar primeira-dama“, afirmou a jornalista.

Jornalista e cientista política no Amazonas, Liege Albuquerque julgou como “infeliz” como Cantanhêde se expressou. “Até porque ela cobriu dona Ruth, sabia que ela participava ativamente do governo de Fernando Henrique, ela não vai ser a primeira, e espero que não seja a última, que trabalha em prol do Brasil“, pontuou.

Liege também destaca que mesmo não eleita, o papel da primeira-dama vai além de só “ficar de enfeite” ao lado do marido. “Ela [Janja] é uma mulher formada, inteligente e, com certeza, tem muito ao que acrescentar ao Brasil”, afirmou.

Oficialmente, a posição não é considerada cargo oficial, portanto, não possui atribuições, salário ou funções definidas, mas ao longo dos anos, as primeiras-damas do Brasil desenvolvem papéis ligados a causas sociais e representatividade.

Colega de bancada de Cantanhêde, o jornalista André Trigueiro respondeu às críticas da amiga sugerindo que o termo primeira-dama fosse reformado. “Acho importante demolir esse termo viu ‘Lili’ [em referência à Eliane Cantanhêde], não sei a tua opinião, mas ‘primeira-dama’ não favorece o sindicado que você pertence“, disse o jornalista.

Trigueiro, inclusive, disse ser preciso reinventar o imaginário acerca do papel da “mulher do homem mais poderoso do Brasil” que “já ficou muito claro, nesse governo, não será propriamente alguém que vai cumprir o papel de dona de casa, subserviente ao marido“, disse André, relembrando fala de Lula durante a festa da vitória em São Paulo, onde afirmou que “lugar de mulher é onde quiser“.

Janja e Lula durante discurso da vitória em São Paulo (Reprodução/Twitter)

Em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, Janja falou sobre seu papel ao lado de Lula, ela afirmou que carrega uma posição ativa, que soma, e não quer ser vista como alguém que está ao lado dele. “Hoje, acho importante que quem olhe para ele também me veja. Isso não acontecia antes. Só se olhava para ele. Hoje, ele tem um complemento, uma soma, que sou eu. Não é porque estou do lado dele. É porque sou essa pessoa propositiva, que não fica sentada, que vai e faz“, afirmou.

Acho que compromisso meu com certeza é trazer à luz alguns temas que carrego na minha história, que é a questão de violência contra as mulheres. Quero atuar bastante nisso, fazer essa discussão com a sociedade. Não é com medida provisória que resolve essa situação“, afirmou Janja, que defende pautas envolvendo a maior presença feminina na política, combate à fome e ao racismo.

Repercussão

Nas redes sociais, apoiadores, políticos e personalidades saíram em defesa de Janja. A deputada federal eleita por São Paulo, Marina Silva, escreveu no Instagram um texto defendendo a atuação de Janja e falando sobre a relevância da socióloga durante toda a campanha de Lula.

Eliane Cantanhêde poderia ter celebrado que a futura primeira-dama, ao mesmo tempo em que deixa de ser mera figurante e inova com sua atuação, estimula a capacidade política de outras mulheres, as inspira e as encoraja para ocuparem o lugar relevante que lhes cabe nos ambientes decisórios nas esferas pública e privada“, escreveu Marina Silva.

Já o senador Randolfe Rodrigues ressaltou o trabalho da futura primeira-dama e ressaltou que o tempo de primeiras-damas “recatadas e do lar” já passou.

A atriz Leandra Leal falou do orgulho de ter uma futura primeira-dama inteligente e ativa:

A senadora Simone Tebet também publicou apoio a Janja, no Twitter. Tebet postou uma foto com a futura primeira-dama ressaltando o papel importante dela ao lado do presidente eleito, Lula.

A cantora Daniela Mercury lembrou que Janja já havia falado sobre ressignificar o papel de primeira-dama: