‘Racismo religioso’: estátua de Iemanjá é depredada em praia no Maranhão

A estátua de Iemanjá fica na praia Olho D'água, em São Luís, no Maranhão. (Divulgação/Sedihpop)

24 de julho de 2023

10:07

Marcela Leiros – Da Agência Amazônia

MANAUS – Uma estátua de Iemanjá, orixá de religiões de matrizes africana, foi depredada, nesse domingo, 23, na praia Olho D’água, na cidade de São Luís, no Maranhão. Lideranças religiosas chamaram o ato de vandalismo motivado por intolerância religiosa. Já o governo do Estado chamou a depredação de “ataque de racismo religioso”.

O monumento, criado pelo artista plástico Sereno, fica na Praça de Iemanjá. A depredação atingiu apenas o rosto da imagem, instalada no local há cerca de 30 anos, que ficou em pedaços. De acordo com o pai de santo Paulo de Aruanda, o ato criminoso foi uma “violação planejada”.

Vamos chamar de vandalismo. Ela [a ação] tem um caráter deliberado. O vândalo não quebrou as mãos, não pichou a vestimenta, foi apenas e tão somente arrancado o rosto“, disse ele, em um vídeo gravado no local.

Lideranças religiosas estiveram no local onde a estátua fica localizada. (Divulgação/Sedihpop)

O pai de santo lembrou que a instalação da estátua de Iemanjá, divindade considerada a rainha do mar na Umbanda e Candomblé, no local foi resultado de uma negociação entre as lideranças de religiões de matriz africana e o Governo do Estado do Maranhão. As lideranças pediram providências.

Pedimos providências imediatas, para que os praticantes desta violência (mais uma) contra os símbolos religiosos e as práticas do povo de terreiro no Maranhão sejam identificados e punidos conforme a legislação do Brasil“, cobrou Paulo de Aruanda. “Pedimos também a imediata recuperação das imagens, e que sejam tomadas medidas de segurança para a proteção da mesma“.

O rosto da imagem ficou destruído. (Divulgação/Sedihpop)

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A Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop) lembrou que o monumento é alusivo ao processo de luta dos povos de terreiro maranhenses por reconhecimento e liberdade religiosa. A pasta afirmou ainda que, além de um dano ao patrimônio público, o vandalismo “trata-se de um ataque de racismo religioso aos povos tradicionais de terreiro que deve ser repudiado e combatido”.

Uma equipe da secretaria esteve no local para articular, junto à Secretaria de Segurança Pública (SSP), a apuração e investigação do ato e, também, buscar a restauração da imagem com a Agência Estadual de Mobilidade Urbana e Serviços Públicos (MOB) e a Secretaria de Estado da Cultura (Secma).