29 de dezembro de 2023

15:12

Daleth Oliveira – Da Revista Cenarium Amazônia

BELÉM – O livro “Reise in Chile, Peru und auf dem Amazonenstrome” (“Viagem no Chile, Peru e no Rio Amazonas”), que havia sido furtado do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) em 2008, foi recuperado pela Polícia Federal na Argentina. Em nota divulgada nesta quinta-feira, 28, a instituição informou que ainda não tem previsão da obra ser devolvida à Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, localizada no Campus de Pesquisa do Museu, em Belém (PA).

De autoria do zoólogo alemão Eduard Poeppig, a obra de 1836 foi localizada e apreendida pela aduana argentina e constava na lista da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) na relação de bens culturais roubados. A entrega à embaixada do Brasil em Buenos Aires foi realizada no dia 21 de dezembro.

O livro foi avaliado em cerca de 20 mil euros. Segundo o Museu Emilio Goeldi, “a publicação é valiosa para a história das descobertas e expedições na América do Sul e contém ilustrações e mapas raros“, diz a nota.

“Esta é uma obra muito importante por relatar pesquisas e viagens de campo de um naturalista alemão no século 19 em algumas regiões da América do Sul como Chile, Peru e áreas que fazem fronteira com o próprio Rio Amazonas. Esses relatos são memórias científicas muito importantes para estudos no presente e também para o próprio futuro, para que a sociedade tenha acesso a materiais bibliográficos como esse que testemunham períodos de sociedades, fauna e flora que hoje já nem existem mais“, explica Rodrigo Paiva, chefe da Biblioteca Ferreira Penna, Museu Goeldi.

A Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna é a biblioteca principal do MPEG. Foi organizada por Emílio Goeldi no final do século 19, é uma das mais antigas e das maiores do Norte. É uma referência nas áreas de atuação do Museu Goeldi (MPEG) – Amazônia, Ciências Naturais, Ciências Humanas, Ciências da Terra e Ecologia. A Coleção de Obras Raras faz parte do acervo da Biblioteca Ferreira Penna.

Obra recuperada

O livro “Reise in Chile, Peru und auf dem Amazonenstrome” é o segundo recuperado do conjunto de 40 in-fólios e 20 livros roubados da Coleção de Obras Raras da Biblioteca Ferreira Penna do Museu Goeldi. O furto, descoberto em dezembro de 2008, motivou a construção de uma sala – cofre no museu, aprimorando a segurança do acervo.

“Em 2014, no dia 11 de março, a Polícia Federal brasileira comunicou ao Museu Goeldi que foi encontrada nos Estados Unidos uma das edições furtadas em 2008. Tratava-se de Rerum Medicarum Novae Hispaniae, um in-fólio escrito em latim pelo médico e botânico espanhol Francisco Hernandez, em 1628, e cujo valor monetário é estimado em torno de US$ 200.000,00. A publicação foi encontrada em Nova York por um livreiro que comprava obras raras e desconfiou quando foi oferecida a publicação. O especialista da Galeria Swan (NY) entrou em contato com as autoridades brasileiras, que, então, tomaram as medidas legais para restituir o patrimônio ao Museu Goeldi, um mês depois de sua localização“, detalha a nota do Museu.

Para a instituição, o caso dos roubos das obras raras reflete os desafios enfrentados pelo Brasil pela “salvaguarda e contra o roubo e tráfico de bens culturais da nação brasileira, processo no qual um bem público se torna privado nas mãos de colecionadores“. Entretanto, o órgão tem trabalhado para melhorar o sistema de segurança de suas obras.

“Nos últimos anos temos trabalhado de forma incansável junto a outras instituições e sobretudo junto ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações para levantar fundos financeiros com um grande propósito de melhorar a segurança do acervo institucional de obras e áreas especiais do Museu, garantindo que esse acervo hoje seja um dos mais protegidos da Região Norte, além de referência mundial. Hoje, por exemplo, temos alguns artefatos com segurança reforçada com biometria digital e portas automáticas para melhor proteção e acondicionamento dessa coleção“, conta Rodrigo Paiva.

Avaliação de danos ao livro

De acordo com o Museu, após a devolução, o livro será avaliado quanto a possíveis danos, como rasgos e manchas, antes de ser incorporado ao acervo de obras raras e especiais. “Ao chegar na instituição, ele passará por um processo de avaliação técnica que verificará possíveis questões de agentes físicos, biológicos e químicos que possam ter afetado a estrutura do material bibliográfico. Depois disso, vamos realizar o processo de recuperação”, descreve.

“Após essa etapa de avaliação e recuperação é que esse livro passará então a compor novamente o acervo de obras de áreas especiais do Museu Emilio Goeldi. Essa é uma etapa é que nós denominamos antes de tudo como quarentena e pós-quarentena, para que o livro não venha a contaminar outros materiais que já estão no acervo com melhores condições de conservação e preservação“, finaliza Rodrigo Paiva.

Editado por Yana Lima

Revisado por Gustavo Gilona