Reforma Tributária: entenda o que governadores da Amazônia defendem

Da esquerda à direita: Wilson Lima, Mauro Mendes, Clécio Luís e Wanderlei Barbosa. (Tom Molina/Revista Cenarium Amazônia e Roque de Sá/Agência Senado)

30 de agosto de 2023

11:08

Adrisa De Góes – Da Agência Amazônia

MANAUS (AM) – Os governadores da Amazônia Legal estiveram presentes no Senado Federal nessa terça-feira, 29, participando do debate sobre a Reforma Tributária, que substitui todos os tributos sobre o consumo por um imposto sobre o valor agregado. Entre os pontos discutidos pelos chefes do Executivo da região, destacaram-se a importância da Zona Franca de Manaus (ZFM) e a representatividade dos Estados da Amazônia no Conselho Federativo do Imposto sobre Bens e Serviços (CF-IBS).

Os 27 chefes de Unidades da Federação e do Distrito Federal foram convocados para discutir os possíveis impactos da proposta nos Estados. Também estiveram presentes senadores, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), o relator da Reforma Tributária, senador Eduardo Braga (MDB, e o secretário extraordinário da Reforma, Bernard Appy, do Ministério da Fazenda.

Plenário do Senado Federal (Tom Molina/Revista Cenarium Amazônia)

Dos noves representantes da região amazônica, apenas quatro se inscreveram para discursar no plenário, pelo tempo máximo de dez minutos. Os representantes do Acre, Pará, Maranhão, Rondônia e Roraima não apresentaram o posicionamento. A sessão teve duração de cinco horas e 30 minutos e está disponível na íntegra no YouTube da TV Senado.

Amapá
Governador do Amapá, Clécio Luís. (Tom Molina/Revista Cenarium Amazônia)

A criação do Conselho Federativo do Imposto sobre Bens e Serviços (CF-IBS) foi o principal ponto ressaltado pelo governador do Amapá, Clécio Luís (Solidariedade). O colegiado será responsável pela gestão da nova tributação criada. O mandatário amapaense disse ser a favor da reforma fiscal no País, mas teceu críticas à proposta em especial, citando a questão da representatividade na governança.

“A questão que me incomoda diz respeito à governança do Conselho da Federação. A ideia do conselho, filosoficamente falando, é muito importante, mas nesse caso os entes federados precisam se sentir representados como unidades da federação, porque se nós tivermos um conselho onde haja uma hegemonia de uma região sobre a outra, nós perdemos todos os princípios da federação brasileira”, destacou o governador do Amapá.

O chefe do Estado fez, ainda, considerações a respeito das competências do conselho: “Tem uma pequena divergência sobre como vamos estabelecer essas competências desse conselho. Eu temo que, se deixarmos para as competências do conselho serem decididas por lei complementar, os governadores e os Estados perderão a sua autonomia. Esse é um ponto que precisa ser muito bem observado para que a federação se mantenha em pé”, pontuou.

Amazonas
Governador do Amazonas, Wilson Lima (Tom Molina/Revista Cenarium Amazônia)

Dentre os temas expostos no debate, o governador do Amazonas, Wilson Lima (UB), reforçou a importância da Zona Franca de Manaus (ZFM) para a economia do Estado e pediu bom senso dos senadores quanto ao texto da Reforma Tributária. No discurso, ele destacou que a ZFM emprega mais de meio milhão de pessoas – direta e indiretamente – e responde por 70% da economia do Amazonas. Por isso, argumentou, é importante a manutenção do modelo até 2073, como garante a Constituição Federal.

Wilson Lima também reforçou o papel da ZFM para a proteção da floresta amazônica. Ele destacou que o Estado possui 1,5 milhão de quilômetros quadrados e 97% de floresta nativa preservada, grande parte devido à atividade econômica, que contribui para a proteção da cobertura florestal da região a partir dos incentivos.

“Se a Zona Franca de Manaus enfraquece, se a Zona Franca começa a perder a sua força, é começar a tacar fogo na floresta. E aí é necessário também entender que o Amazonas não é só da Amazônia. O Amazonas é do Brasil. Faço um apelo, e o senador Eduardo Braga conhece muito bem essa realidade, para que haja um bom senso do Senado, da relatoria, de levar essas questões em consideração”, alertou o governador do Amazonas.

Mato Grosso
Governador do Mato Grosso, Mauro Mendes. (Reprodução/Internet)

Para o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (UB), a aprovação de um novo modelo de tributação no País é urgente devido à complexidade da atual estrutura econômica. Porém, ele apresentou ressalvas quanto à criação do CF-IBS e defendeu que o colegiado atue na condição de conciliador de tributos em vez de normativo, como prevê a proposta inicial.

“Esse Conselho Federativo terá a importância que esse Congresso Nacional der a ele. Ele pode ser, como disse Bernard Appy, uma câmara de conciliação entre os impostos pagos nos diversos Estados ou pode ser normativo, como a ideia de origem. Se nós dermos muitas aberturas, provavelmente correremos o mesmo erro que corremos na regulamentação do ICMS. O Conselho Federativo não deve ficar apenas normatizando em cima daquilo que é papel deste Congresso Nacional”, ressaltou.

Mendes também fez um alerta sobre o Fundo de Desenvolvimento Regional, previsto na reforma: “O Fundo de Desenvolvimento Regional não é um fundo de combate à pobreza, para isso já existem outros fundos (…) Gostaria que o Senado Federal olhasse para esse fundo com um olhar que enxerga as diferenças sociais que temos nas regiões brasileiras, para que possamos combatê-las”.

Tocantins
Governador de Tocantins, Wanderlei Barbosa. (Tom Molina/Revista Cenarium Amazônia)

A Reforma Tributária ainda deixa dúvidas para parlamentares e governadores. É o que afirma o governador de Tocantins, Wanderlei Barbosa. Um dos questionamentos feitos por ele se refere à reposição de perdas tributárias nos Estados.

“Eu vejo esse fundo federativo e a reclamação dos governadores como algo que não é suficiente para fazer essa reposição das perdas que vão acontecer. A política tributária precisa ficar mais clara para esses envolvidos. Nos últimos anos, nós tivemos alguns pontos que os Estados e municípios não foram ouvidos. Um exemplo é o piso nacional da enfermagem”, salientou.

O governador de Tocantins fez um apelo aos parlamentares do Senado Federal e pediu abertura no diálogo da Reforma Tributária, bem como de outros temas que envolvem as unidades da federação de maneira abrangente, como o pagamento do piso nacional da enfermagem. “É preciso que o Senado Federal e a Câmara dos Deputados convoquem senadores e prefeitos para abrir um debate amplo sobre esse assunto”, destacou.

PEC 45/2019

A PEC 45/2019 propõe a extinção de cinco impostos, entre eles, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) [estadual], o Imposto Sobre Serviços (ISS) [municipal] e a criação de um tributo único, o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). A repartição do IBS entre Estados e municípios seria feita a partir de um órgão criado especificamente para isso. Governadores e prefeitos temem perder autonomia sobre a própria receita com esse novo desenho.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, adiantou que, em setembro, serão feitas novas audiências públicas sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Elas vão reunir representantes de setores da sociedade e especialistas, no intuito de se extrair o sentimento de todos sobre o tema. “A missão está a cargo do Plenário e da Comissão de Constituição e Justiça [CCJ], a quem cabe a missão de analisar a PEC 45, e da CAE [Comissão de Assuntos Econômicos], que tem a função de discutir e amadurecer a proposta”, disse.

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