31 de março de 2023
20:03
Mencius Melo – Da Agência Amazônia
MANAUS – Após o “Seminário Mulheres da Floresta”, as lideranças femininas pretendem intensificar a agenda de lutas das mulheres em busca de mais espaços de protagonismo. O evento ocorrido em Manaus na última quinta-feira, 30, no auditório da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), serviu de plataforma para as pautas almejadas pelas mulheres do Norte e Nordeste que se posicionaram, diante das perspectivas do encontro histórico ocorrido na capital do Amazonas.
Voz feminina de representação indígena, Wanda Witoto falou com exclusividade à REVISTA CENARIUM sobre o evento. “As mulheres são a representação da força da terra e hoje é necessário se fazer ouvir as vozes dessas mulheres porque assim como a terra, nós estamos gritando. Porque quando se ataca essa terra, ataca-se o corpo dessas mulheres. E hoje somos nós que estamos nesse front, na defesa dos nossos territórios, na defesa dos nossos rios” declarou.
Ainda de acordo com Wanda, não há dissociação entre a mulher e a natureza. “Nossas vozes e nossos corpos estão nesses lugares de luta. Quando defendemos a terra, estamos defendendo também nossos corpos. E fazer a escuta dessas mulheres nesses espaços de poder, que ainda tem um racismo muito grande sobre a nossa presença, é necessário. Estamos aqui como mulheres dos quilombos, das aldeias, marginalizadas nas grandes cidades, nas margens dos rios”, destacou. “Nas questões climáticas nós somos as mais impactadas”, defendeu.
Leia também: Em carta, mulheres da floresta reúnem reivindicações
Pautas
Uma “Carta da Rede de Mulheres Protetoras e Defensoras das Águas e das Florestas do Norte e Nordeste” foi apresentada, durante o evento. No documento, as participantes do seminário elencaram pautas e bandeiras de uma agenda comum que devem nortear a luta por um mundo melhor e um meio ambiente seguro, justo e sustentável. O texto apresenta aproximadamente 30 reivindicações de direitos nas áreas de Educação, Mudanças Climáticas, Saúde, Empoderamento Feminino, Segurança, Desenvolvimento Econômico, Infraestrutura, Regularização Fundiária e Segurança Alimentar.
Para a participante Izabel de Melo Carvalho, liderança comunitária da Reserva de Extrativista (Resex) Catuá Ipixuna, no Amazonas, o encontro tem um caráter político mas ao mesmo tempo místico, por se tratar de natureza. “Acredito que Deus criou tudo o que tem no universo e assim como tem a mãe de Cristo, nós temos a nossa mãe terra. Nós mulheres somos filhas dela e nas nossas mais distintas identificações seja ela religiosa, científica ou tradicional, nos unimos em defesa dela porque é ela que nos conecta”, ponderou.
Objetivo
O documento deve ser apresentado para os governos estaduais e federal, além de lideranças políticas, entre elas a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. “A carta elaborada durante o Seminário de Mulheres da Floresta representa um grande marco na área, porque possui as falas e anseios de mulheres de diversos territórios, ampliando as estratégias de defesa e proteção da Amazônia. Temos certeza que os debates gerados aqui vão promover grandes frutos em prol das mulheres amazônidas”, previu a superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades na FAS, Valcléia Solidade.