Turismo e alimentos regionais são alternativas para economia na Amazônia, apontam especialistas

Pesca do pirarucu no Amazonas (Eduardo Anizelli/ Folhapress)

27 de novembro de 2022

16:11

Marcela Leiros – Da Agência Amazônia

MANAUS – O turismo e a indústria de alimentos regionais são as duas alternativas principais para o desenvolvimento da economia no Amazonas, além da Zona Franca de Manaus (ZFM), segundo apontam especialistas à AGÊNCIA AMAZÔNIA. Porém, mesmo com o potencial dos dois segmentos, economistas, técnicos e representantes da sociedade civil afirmam que falta vontade política para aprimorar esses potenciais.

Deputado federal e integrante da equipe de transição do Governo Lula no grupo de Desenvolvimento Regional, José Ricardo (PT) elenca que o Amazonas tem características e biodiversidade que atraem turistas do mundo inteiro, com seus rios, florestas e povos indígenas, mas falta investimento em infraestrutura básica para receber os visitantes.

Você tem um potencial enorme, pouco explorado, diante do que foi feito até agora, do que existe“, diz ele, acrescentando ainda que o Estado já sofre, normalmente, com serviços instáveis de telefonia, internet, logística encarecida e até precariedade no atendimento de saúde e segurança pública.

Seja para turismo ou para qualquer outro segmento produtivo, nós temos que resolver algumas questões como a comunicação, já que a internet é ruim, o serviço de telefonia é ruim. Segundo é a questão do transporte, a logística. É muito caro, não tem um planejamento adequado de transporte aéreo, fluvial, e isso inviabiliza muitas atividades de modo geral. E você tem ainda a questão de energia, embora isso tenha reduzido muito, nós temos que ter algo mais definitivo“, disse ele.

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O deputado federal José Ricardo (PT-AM). (Divulgação)

O economista e deputado estadual Serafim Corrêa (PSB-AM) vai na mesma ‘rota’ de José Ricardo quando o assunto é turismo e os obstáculos de distância e falta de estrutura. Ele destaca que o potencial do Amazonas no segmento é um caminho, mas tem muito a ser percorrido.

Nós precisamos construir tudo no turismo do Amazonas. A base que tem é muito embrionária, nós não temos um calendário, um roteiro, nós não somos organizados, nosso material humano fica a desejar quando comparado com outros países“, contribui ele.

Alimentos potenciais

Em setembro deste ano, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) divulgou um estudo que apontou que alimentos e bebidas originários dos nove Estados que compõem a Amazônia Legal têm potencial para conquistar mercado nos Estados Unidos, China, Japão e países europeus, como Alemanha. A pesquisa analisou o segmento alimentício de produtos como feijão, gergelim e pimenta-do-reino; café e cacau; açaí, guaraná e abacaxi; castanhas-do-pará; farinhas e preparos de mandioca; e peixes.

Além do turismo, José Ricardo e Serafim Côrrea acreditam no potencial, na região amazônica, da indústria alimentícia com matéria-prima regional, como frutos e peixes. O primeiro enfatiza que o crescimento dessa matriz econômica depende essencialmente do desenvolvimento em área de pesquisa, possível por meio de investimentos em instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e a Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Embrapa).

As indústrias que nós temos no PIM [Polo Industrial de Manaus] têm uma característica: são produtos com tecnologia desenvolvidos lá fora, áudio, vídeo, duas rodas, esses segmentos tradicionais que sustentam o Estado. Nós temos que cuidar de ter projetos que envolvam o uso de matéria-prima regional, produtos regionais, biodiversidade, todo esse potencial que envolve a questão das nossas florestas. Isso passa por pesquisa“, destaca ele.

Côrrea também defende o potencial dos alimentos regionais e cita o advogado Evandro Carreira, político brasileiro que foi senador pelo Amazonas, que pedia, em seus discursos, o aproveitamento das várzeas para o plantio de culturas de período curto e a implantação da piscicultura em tanques-redes, lagos, igarapés e barragens.

Eu vejo que é preciso intensificar a criação de peixes para alimentar o mundo, que era uma tese do Evandro Carreira há 50 anos“, destaca o economista.

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O economista e deputado estadual Serafim Corrêa (PSB-AM) (Marcelo Araújo/ Aleam)

Arcabouço econômico

O economista Inaldo Seixas, que também integra o grupo de Desenvolvimento Regional na transição do governo, discorda do termo ‘matriz econômica‘ usado para se referir aos segmentos econômicos em potencial. Para ele, ‘vetores econômicos’ é o mais ideal para nomeá-los.

Quando você fala em matriz, é algo que possa encadear uma séria de atividades econômicas para gerar emprego, renda, arrecadação, desenvolvimento e muito mais. Então, eu não vejo que tenha espaço, dada a nossa distância, os nossos problemas de logística, comunicação, internet e energia no interior, para falar em matriz econômica, a menos que tivesse outro arcabouço muito potente com incentivos fiscais, financiamento concreto, de atratividades e atração de empresas de diversos setores“, explica ele.

O economista Inaldo Seixas (Jane Coelho)

Mesmo sabendo que não há, ainda, um vetor econômico capaz de competir ou substituir o modelo da Zona Franca de Manaus, Seixas destaca haver setores com grandes potencialidades no Amazonas, como a economia circular, indústria criativa, turismo, da pesca e do petróleo e gás, mas ele acrescenta que a indústria local precisa se tornar atrativa e viável para as empresas.

“Têm potencialidades que é preciso fazer o diagnóstico do porquê as empresas não vêm se instalar e, a partir de aí, tomar uma série de medidas ficais, que possam permitir que as empresas possam querer investir numa indústria em Manacapuru, que potencializa a cadeia Solimões acima, de pesca e criação de peixe, para poder enlatar peixe e exportar para o Brasil e para o mundo. Aí, sim, você desenvolve”, conclui.