Veganos e vegetarianos fazem transformações e driblam perguntas em ceias de fim de ano

Ceia de Natal do restaurante Edi Sabor Natural. (Reprodução/Instagram @edisabornaturalveg)

31 de dezembro de 2023

15:12

Marcela Leiros – Da Agência Amazônia

MANAUS (AM) – Nas ceias de fim de ano, é comum ver, nas fartas mesas de famílias brasileiras, alimentos como o peru, aves e porcos, regados a ingredientes de origem animal, como manteiga, ovos e leite. No entanto, há uma parcela de pessoas que aderiu a movimentos alimentares que se abstêm de consumir esses produtos: os veganos e vegetarianos. É também nesta época de festas que eles precisam “enfrentar” comentários sobre as escolhas.

Inicialmente, é importante diferenciar o veganismo do vegetarianismo: o primeiro significa, basicamente, dispensar todos os produtos derivados de animais, incluindo roupas e outros objetos de consumo. Já o vegetarianismo é uma escolha alimentar na qual se retiram os produtos de origem animal do cardápio. Nele, incluem-se o Ovolactovegetarianismo, Lactovegetarianismo, Vegetarianismo estrito, alimentação vegana e Alimentação Plant Based(Veja mais detalhes ao fim da matéria).

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‘Mas é só hoje’

A jornalista Júlia Montecorrado e sua mãe, a advogada Andrea Regina Torres Lobão, aderiram ao ovolactovegetarianismo em 2018. A solução encontrada para compartilhar esse momento junto à família foi levar a própria comida, geralmente uma lasanha feita de soja. Mesmo depois de seis anos, ainda precisam driblar os comentários sobre a escolha alimentar.

“Minha avó sempre comenta que acha que a gente vai ficar fraco se não comer”, explica. “Fica perguntando por que a gente não come peru, se é só um dia”.

A escolha de Júlia Montecorrado pelo vegetarianismo surgiu a partir do amor dela por animais. “Me deixa triste ter que comê-los, ainda mais sabendo que geralmente são maltratados antes de morrer”, disse, acrescentando que, mesmo sabendo que é um posicionamento político, a adesão ao vegetarianismo ocorreu pensando nos impactos na vida pessoal.

A advogada Andrea Regina Torres Lobão e a filha, a jornalista Júlia Montecorrado. (Arquivo pessoal)

Meu ato de ser vegetariano é mais uma ação pessoal, que não percebo tanto impacto nesse sistema que a gente tem. Quase tudo que a gente consome no capitalismo terá uma origem de exploração que contribui também com a ebulição global“, complementa.

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Transformações

O assessor de marketing digital Noa Caetano aderiu ao veganismo há seis anos. Ele, que também precisa transformar a ceia nas festas de fim de ano, conta que é totalmente possível se alimentar sem precisar de alimentos de origem animal.

Nós temos todas as fontes de proteína vinda do reino vegetal, temos a indústria que está cada vez mais se adaptando, trazendo novas tendências, carnes muito parecidas, a questão de textura, cor, até mesmo sabor, pra facilitar a questão da mudança da carne animal para carne vegetal, que também esteja ali dentro do seu paladar, da sua cultura, da sua rotina. Então, hoje em dia nós conseguimos nos alimentar perfeitamente sem nada de origem animal“, explica.

Refeições vegetarianas do restaurante Edi Sabor Natural Vegetariano. (Reprodução/Instagram @edisabornaturalveg)
Veganismo nos negócios

A empresária Edinelza Araújo transformou a escolha pelo vegetarianismo estrito — que não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação — no restaurante Edi Sabor Natural Vegetariano, especializado em culinária vegetariana, ou seja, sem ingredientes de origem animal.

O restaurante surgiu porque eu sou vegetariana estrita vegana há 14 anos. E quando me tornei vegana, não tinha nenhuma opção em Manaus. Acabei me especializando na culinária vegana e percebi que Manaus não tinha [opção de lugar]. Algumas pessoas também falavam para mim que queriam comer uma comida mais saudávelEu quis proporcionar para as pessoas essa experiência de ter um restaurante vegetariano que as comidas fossem gostosas, não só de não comer nada de origem animal“, explica.

A proprietária do Edi Sabor Natural, Edinelza Araújo. (Reprodução/Instagram @edisabornaturalveg)

Com o restaurante em pleno funcionamento, ela passou a oferecer, também, pratos para ceia de Natal e fim de ano. No cardápio deste ano, foi possível saborear pratos salgados que servem oito pessoas: lasanha (de tucumã, shimeji ou palmito, de jaca ou beringela); vatapá (de biomassa de banana com cogumelos shimeji, e de pão com shimeji); soja a casaca; salpicão (de jaca, grão-de-bico, soja ou tucumã), entre outros.

Os preços variaram entre R$ 180 a R$ 290 e as receitas foram criadas por Edinelza Araújo. “Desde o primeiro ano que a gente montou o restaurante, a gente faz a ceia. É um Natal sem produto de origem animal, que realmente tenha vida, poque a gente comemora a vida, e não combina a gente comer animais“, defende.

Cardápio da ceia de Natal do Edi Sabor Natural. (Reprodução/Instagram)
Movimento político

Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira, que promove o vegetarianismo estrito em todos os seus aspectos, podem ser quatro os motivos que levam alguém a se tornar vegetariano: ética, saúde, meio ambiente e sociedade.

O primeiro é sobre uma compaixão pelos animais, defendendo que eles capazes de sofrer e sentir prazer e felicidade, logo, é cruel matá-los para consumi-los. “A maioria destes animais são frangos, porcos e bois – animais que têm uma complexa capacidade cognitiva e sentem dor, sofrimento e alegria da mesma forma que os cães que temos em casa”, declara.

O segundo se refere à alimentação saudável, já que estudos científicos mostram que o consumo de carnes está diretamente associado ao risco aumentado de doenças crônicas e degenerativas como diabetes, obesidade, hipertensão e alguns tipos de câncer. Pesquisa da Universidade de Sydney, na Austrália, publicada na revista científica JAMA Network Open, provou que seguir uma dieta vegetariana ajuda a reduzir o colesterol, o nível de glicose no sangue e o peso.

O terceiro ponto fala sobre impactos da criação e exploração de animais no meio ambiente. “A maior parte do desmatamento da Amazônia tem sua origem na produção de carnes, laticínios e ovos. 97% do farelo de soja e 60% do milho produzidos globalmente são utilizados não para consumo humano, mas para virar ração para as fazendas e granjas industriais, produzindo alimentos a uma eficiência muito baixa”, diz a associação.

Por último, está a questão da sociedade, considerando que a produção de alimentos de origem animal contribui para o desperdício global de alimentos, uma vez que são consumidos de 2 a 10 kg de proteína vegetal (por exemplo, soja) para produzir apenas 1 kg de proteína de origem animal.

Em um mundo com um bilhão de pessoas que passam fome, jogar toda essa comida no lixo é socialmente inaceitável. Ademais, o setor pecuário concentra a maior parte da mão-de-obra escrava rural brasileira.“, conclui.

Conheça os principais tipos de vegetarianismo:

a. Ovolactovegetarianismo: utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação.

b. Lactovegetarianismo: utiliza leite e laticínios na sua alimentação.

c. Ovovegetarianismo: utiliza ovos na sua alimentação.

d. Vegetarianismo estrito: não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação.

e. Alimentação vegana: não utiliza nenhum tipo de produto/insumo de origem animal e que nenhum deles tenha sido testado em animais

f. Alimentação Plant Based: é 100% vegetal (exclui todos os ingredientes de origem animal) e prioriza os alimentos mais naturais e íntegros (também conhecida como whole food plant based diet).

Editado por Marcela Leiros

Revisado por Gustavo Gilona