Violência no campo tem 2ª maior alta em 10 anos, diz CPT; indígenas são os que mais sofrem

Indígenas foram o que mais sofreram violência no campo, diz relatório da CPT (Reprodução/CPT)

12 de outubro de 2023

11:10

Mayara Subtil – Da Agência Cenarium Amazônia

BRASÍLIA (DF) – O número de conflitos no campo, registrado de janeiro a junho de 2023, foi o segundo maior dos últimos 10 anos, passando à frente apenas do primeiro semestre de 2020. Os dados parciais são da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e foram divulgados na terça-feira, 10. No total, houve o registro de 973 embates, uma alta de 8% em relação ao mesmo período de 2022, quando à época foram contabilizados 900 conflitos.

Quem sofreu mais atos violentos por terra nesse período foram indígenas e suas comunidades, pois representam pouco mais de 38% dos casos. Em seguida, aparecem os trabalhadores rurais sem terra (19,2%), posseiros (14,1%) e quilombolas (12,2%).

Ainda conforme o relatório da CPT, boa parte dos conflitos, em 2023, ocorreram em razão da terra (791). Na sequência, aparece como motivo o trabalho escravo rural (102) e conflitos pela água (80). Cerca de 527 mil pessoas estavam no meio de conflitos no primeiro semestre de 2023.

A CPT também registrou queda no número de mortes em relação ao ano anterior: 14, em 2023, ante 29 em 2022. Um déficit de 51,7%. Mas o relatório revela que 80% dos casos foram na Amazônia Legal e metade das mortes ocorreram em razão da contaminação por agrotóxicos. Aqui, indígenas seguem como os mais afetados, com seis mortes somadas. Depois aparecem os trabalhadores sem terra (5), posseiro (1), quilombola (1) e funcionário público (1).

Também em números exatos, 878 famílias tiveram suas casas destruídas; 1.524 seus roçados e 2.909 seus pertences. Houve também 554 famílias expulsas das terras que ocupavam e 1.091 despejadas judicialmente. Ocorreram ainda 143 crimes de pistolagem; 85 de grilagem e 185 de invasão.

Violência contra mulheres, sobretudo Yanomami

A violência contra as mulheres no contexto do campo registrou alta em 2023. Passou de 94, em 2022, para 107 em 2023: subida de 13,8%. O destaque negativo foi a escalada de violência na terra indígena Yanomami, com registro de estupros de 30 adolescentes por garimpeiros ilegais em fevereiro.

Alvo há décadas de garimpeiros ilegais, o maior território indígena do Brasil enfrentou, nos últimos anos, o avanço desenfreado da atividade ilegal no território. Em 2022, a devastação aumentou em 54%, em relação ao ano anterior – cenário que tem mudado com as ações deflagradas desde janeiro de 2023. Mas segundo dados do próprio Ministério da Defesa, os garimpeiros ainda ocupam 215 hectares do território indígena.

Duas indígenas Yanomami (Divulgação/TV Brasil)

A invasão do garimpo predatório, além de impactar no aumento de doenças no território, causa violência, conflitos armados e devasta o meio ambiente. A ação aumenta o desmatamento, a poluição de rios, devido ao uso do mercúrio, e causa prejuízos para a caça e a pesca. Tudo isso, impacta nos recursos naturais essenciais à sobrevivência dos indígenas na floresta.

Doentes, os adultos não conseguem buscar comida para a família ou cultivar plantações na terra devastada, o que impacta na dieta das crianças, as mais fragilizadas. É um ciclo que leva à fome e tem provocado a grave crise humanitária no território.

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Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga