‘A Amazônia é a farmácia do mundo’, diz economista sobre possibilidade de projeto bioeconômico entre Japão e CBA

Representantes da Jetro e do CBA em visita aos laboratórios do Centro Biotecnológico do Amazonas (CBA) para prospecção de possíveis produtos cuja origem é a Amazônia (Reprodução/Jetro-CBA)

06 de fevereiro de 2023

21:02

Mencius Melo – Da Agência Amazônia

MANAUS – Uma comissão formada por representantes da Japan External Trade Organization (Jetro) veio a Manaus, na última semana de janeiro, para reunir com a direção do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA). A visita teve como objetivo prospectar o mercado de inovação em bioeconomia. A CENARIUM ouviu a economista Denise Kassama para saber quais seriam os resultados desse encontro e quais são os produtos da floresta que podem trazer ganhos econômicos ao Estado. “A Amazônia é a farmácia do mundo! Por isso, acredito na força dos fitoterápicos”, adiantou.

Os representantes da Jetro observam as plantas que podem render, na área de fármacos, e com isso potencializar parcerias entre as duas instituições (Reprodução/Jetro-CBA)

Para a economista, a linha de “remédios da floresta” é a mais promissora aposta dessa possível parceria. “A diversidade da Amazônia é muito grande e eu destaco que os fitoterápicos podem, a partir de pesquisas, trazer curas para doenças como câncer, por exemplo, porque as plantas da Amazônia possuem elementos únicos e isso deveria ter um olhar mais apurado. Os fármacos têm um grande potencial. Lembro que a Natura queria se instalar no Amazonas, mas, por falta de parcerias, acabou indo para o Pará”, recordou.

Ainda segundo Kassama, uma provável parceria entre a Jetro e o CBA mostra que é viável buscar outras possibilidades econômicas e destaca: “Acho complexo essa ideia de ‘nova matriz’ porque chego à conclusão de que devemos é desenvolver outras matrizes que deverão reduzir a nossa dependência da ZFM como nosso principal vetor econômico”, apontou.

Para ela, o turismo é outra saída. “Não entendo como não alavancamos esse setor no Amazonas. Somos o maior Estado da federação, com potencial absurdo. Temos a natureza, mas, não temos a infraestrutura”, lamentou.

Hiroshi Hara e Fábio Calderaro junto aos técnicos do CBA na observação de amostras e experimentos que fazem parte da rotina de trabalho do centro (Reprodução/Jetro-CBA)

Antes tarde

Quanto ao CBA, Denise Kassama acredita que “já passou da hora” de ele dar um retorno à economia amazonense. “O CBA tem 20 anos e (…) já deveria estar rendendo há muito tempo, até porque a Amazônia já existe há muito tempo. Mas, temos um novo governo que diz acreditar e quer investir em ciência e educação. Então, vamos acreditar que agora vai porque antes tarde do nunca”, apostou.

Denise Kassama ponderou que é preciso ter boa vontade política e procurar estruturar órgãos que podem dar respostas para o presente e o futuro econômico do Estado que abriga a maior parte da preservada Amazônia Legal.

É preciso entender que pesquisa científica é uma coisa demorada e cara, mas, no caso do CBA, basta a gente ver que a Suframa cobra uma taxa das empresas e a UEA (Universidade do Estado do Amazonas) vive do PIM (Polo Industrial de Manaus), então, acho que o mesmo pode ser feito com o CBA“, sugeriu.

Comitiva de representantes da instituição japonesa Jetro junto aos técnicos do CBA e as amostras de potencialidades amazônicas (Reprodução/Jetro-CBA)

Encontro

Participaram do encontro o gestor do CBA, Fábio Calderaro, o diretor-presidente da Jetro, Hiroshi Hara, o diretor do Departamento de Comércio Exterior, Hiroyuki Saito, e a analista de Comércio Exterior, Elina Kawaguchi. Após a visita, Hara declarou:

Empresas de base tecnológica japonesas, as startups, têm projetos que estão relacionados à biotecnologia. Pelos projetos em desenvolvimento no CBA, vemos a vasta oportunidade existente, informação que será passada às empresas japonesas as quais incentivaremos a atuar em conjunto com as instituições da região.”

Ao final da agenda entre o CBA e a Jetro, as instituições ratificaram o compromisso de expandir o contato para ampliar o debate sobre biotecnologia na Amazônia, com a possibilidade de realizar atividades, inclusive, híbridas, que cheguem aos potenciais investidores internacionais que buscam contribuir para que a bioeconomia local alcance índices ainda melhores e gerem oportunidades para a sociedade local e mundial.