Amazônia perdeu área equivalente a sete capitais durante Governo Bolsonaro; desmatamento de 2022 foi o pior em 15 anos
19 de janeiro de 2023
11:01
Iury Lima – Da Agência Amazônia
VILHENA (RO) – O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) terminou de mapear o tamanho do estrago que se alastrou pelo bioma em todo o ano de 2022. O resultado é alarmante: só nos últimos quatro anos, durante a gestão do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL), a floresta perdeu mais de 35 mil quilômetros quadrados, uma área maior que a soma de sete das nove capitais da região. É como se Belém, Boa Vista, Rio Branco, Cuiabá, Palmas, Macapá e São Luís tivessem sido retiradas do mapa.
Igualmente grave foi o desmatamento acumulado durante o ano passado. Com quase 11 mil quilômetros quadrados derrubados, o Imazon constatou que a perda de floresta estimada em cerca de 3 mil campos de futebol por dia, entre janeiro e novembro, se manteve até o último dia do ano.
Foi o quinto recorde anual consecutivo no desmatamento e o pior em 15 anos, desde quando o instituto passou a monitorar a Amazônia com imagens de satélite, em 2008.
Só no último mês de dezembro, a floresta perdeu 287 quilômetros quadrados de mata, segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon. O equivalente a 105% mais do que em dezembro de 2021, quando foram devastados 140 quilômetros quadrados.
Na avaliação do coordenador de Pesquisa do Instituto, Carlos Souza Jr., o motivo para o novo recorde foi bem evidente: “Uma corrida desenfreada para desmatar a Amazônia enquanto a porteira estava aberta para a boiada, para especulação fundiária, garimpos ilegais e o desmatamento dentro de Terras Indígenas e Unidades de Conservação”.
“Isso mostra o tamanho do desafio para o novo governo, que precisa agir rapidamente para reduzir o processo de destruição da Amazônia que acelerou nos últimos quatro anos”, ressalta Souza Jr.
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‘Liberou geral’
A devastação aumentou 150% nos quatro anos em que Jair Bolsonaro esteve no poder, refletindo a falta de ações coordenadas para coibir o desmatamento e o desmonte de órgãos federais que deveriam atuar para impedir o aumento da destruição no bioma.
Entre 2015 e 2018, quadriênio anterior, o desmatamento foi um pouco maior que 14 mil quilômetros quadrados.
Para se ter uma ideia do descaso, um estudo do MapBiomas, divulgado ano passado, apontou que o Governo Bolsonaro fiscalizou apenas 2% dos quase 200 mil alertas de desmatamento emitidos desde o início do mandato do ex-presidente.
“Os números registrados nos últimos anos mostram como não fomos capazes de atuar com eficiência para proteger o nosso patrimônio florestal”, ressalta a pesquisadora do Imazon, Bianca Santos.
“Só no último ano, perdemos mais de 3 mil campos de futebol por dia de floresta, na Amazônia. Perdemos áreas para grileiros, garimpo ilegal, madeireiros e muitos outros. São áreas mais difíceis de se recuperar, que representam não só biomassa e estoques de carbono perdidos, mas, também, território indígena e de comunidades tradicionais, áreas de preservação ambiental, mata ciliar, biodiversidade e a possibilidade de incentivo da bioeconomia nessas áreas”, lamenta Santos.
2022 avassalador
Quando o recorte é feito por Estado, Pará, Amazonas e Mato Grosso seguem liderando os índices de desmatamento na Amazônia, com quase 80% da destruição registrada em 2022, que teve o pior dezembro desde 2008. Juntos, os Estados concentraram 8.053 quilômetros quadrados derrubados, mantendo a tendência iniciada em 2019.
Amazonas e Mato Grosso foram os únicos que tiveram aumento na destruição em relação a 2021, segundo o Imazon. O caso mais grave é o Amazonas, onde a devastação cresceu 24%. No Estado, a derrubada vem avançando principalmente na divisa com o Acre e Rondônia, na região conhecida como “Amacro”, aponta o Instituto, onde está localizado o município campeão em desmatamento em 2022: Apuí, com 586 quilômetros quadrados.
“Se nada for feito, o cenário para 2023 será de tendência de aumento do desmatamento com base nos dados da PrevisIA”, alerta Carlos Souza Jr., citando a assertividade de 80% da plataforma de inteligência artificial do Imazon, que estima uma destruição superior a 11.800 quilômetros quadrados até o fim deste ano, caso o desmatamento continue no ritmo atual: área dez vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro.
“Os dados da PrevisIA podem ser usados para priorizar áreas críticas e evitar novos desmatamentos. É possível, também, usar essas informações sobre áreas críticas com alto risco de desmatamento para criar novas áreas protegidas, evitando, assim, futuras derrubadas de floresta e a apropriação de terras públicas não destinadas”, destaca o coordenador de pesquisa. “É mais barato prevenir do que remediar com ações de comando e controle”, acrescenta o especialista.
Segundo a pesquisadora Bianca Santos, a expectativa do time de especialistas do Imazon é de que o atual recorde de desmatamento tenha sido o último reportado pelo instituto, “já que o novo governo tem prometido dar prioridade à proteção na Amazônia”.
“Mas para que isso aconteça de fato”, pondera Santos, “é preciso que a gestão busque a máxima efetividade nas medidas de combate à devastação que já foram anunciadas, como a volta da demarcação de Terras Indígenas, a reestruturação dos órgãos de fiscalização e incentivo à geração de renda com a floresta em pé. Para isso, é prioritário o estabelecimento de um plano integrado junto aos governos estaduais e outras instituições parceiras para combate ao desmatamento”, finaliza a pesquisadora.
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