Antes querido por bolsonaristas, Danilo Gentili é atacado por filme de 2017 e acusado de apologia à pedofilia
14 de março de 2022
20:03
Malu Dacio – Da Revista Cenarium
MANAUS — A internet tem sido palco desde o último domingo, 13, de uma série de manifestações contra um trecho do filme ‘Como ser o pior aluno da escola’, que tem o apresentador Danilo Gentili como roteirista. A ala cristã — em sua grande maioria bolsonarista — que defende as bandeiras da família e dos bons costumes, descobriu o filme de Gentili, que entrou recentemente no catálogo da Netflix.
Além de Danilo, o ator Fábio Porchat também foi alvo dos ataques e acusado de apologia à pedofilia por uma cena em que o vilão do filme – interpretado por Porchat – pede para que duas crianças realizem atos libidinosos com ele.
Porém, antes de ser atacado e alvo dos bolsonaristas na web, Danilo era querido – por apoiar Jair Bolsonaro e por fazer críticas aos movimentos sociais, a esquerda e ao ex-presidente Lula além de pôr diversas vezes pronunciar discursos misóginos e racistas.
O amor entre o apresentador e o grupo chegou ao fim e até o ministro da Justiça, Anderson Torres, entrou na discussão alegando que já solicitou ‘medidas cabíveis’. “Determinei imediatamente que os vários setores do Ministério da Justiça adotem as providências cabíveis para o caso”, disse o ministro.
Voltou atrás?
Com a reverberação do trecho do filme em um tweet de 2017, ano de lançamento do filme, feito pelo Deputado Federal Marcos Feliciano elogiando o filme, viralizou. Com a repercussão negativa, o deputado e pastor apagou a postagem na rede social. Feliciano disse também que não viu a cena.
“Comunico que apaguei o tuíter de 2017 onde elogiei o filme do Danilo Gentili. Confesso que não me recordo da cena que faz apologia à pedofilia, devo ter saído para atender telefone. Se tivesse visto faria o que sempre fiz com outros filmes, teria denunciado. Ainda dá tempo, tomando providências”, disse.
No Twitter, Danilo disse que falou com o presidente da Frente Evangélica da Câmara Federal, deputado Sostenes, e com o senador Magno, a quem chamou de autoridade no ‘assunto pedofilia’. “Também com juristas de peso e juntos faremos uma ação coordenada”, disse em rede social.
“Reitero que não me recordava da cena específica. O filme como um todo é engraçado e foi isso que elogiei. Vendo a cena separada percebi o quão vil ela é, a classificação indicativa do filme tem que ser no mínimo 18 anos”, finalizou.
Artistas se defendem
Na internet, o apresentador se posicionou a respeito do caso e fez piada do assunto. “Nenhum comediante desagradou tanto quanto eu. Sigo rindo”, afirmou.
Ao Jornal O GLOBO, o ator e apresentador Fabio Porchat afirmou que quando o vilão faz coisas horríveis no filme, isso não é apologia ou incentivo àquilo que ele pratica, isso é o mundo perverso daquele personagem sendo revelado. “Às vezes, é duro de assistir, verdade”, comentou.
“Como funciona um filme de ficção? Alguém escreve um roteiro e pessoas são contratadas para atuarem nesse filme. Geralmente o filme tem o mocinho e o vilão. O vilão é um personagem mau. Que faz coisas horríveis. O vilão pode ser um nazista, um racista, um pedófilo, um agressor, pode matar e torturar pessoas”, lembrou.
“Quanto mais bárbaro o ato, mais repugnante. Agora, imagina se por conta disso não pudéssemos mais mostrar nas telas cenas fortes como tráfico de drogas e assassinatos? Não teríamos o excepcional ‘Cidade de Deus’? Ou tráfico de crianças em ‘Central do Brasil’? Ou a hipocrisia humana em ‘O Auto da Compadecida’. Mas ainda bem que é ficção, né? Tudo mentirinha”, finalizou.