Fundador de ONG em Manaus abusava de mulheres em troca de comida e kits de higiene, afirma polícia

Cid Marcos foi preso nesta terça-feira, 7 (Composição: Weslley Santos/CENARIUM)

07 de maio de 2024

16:05

Marcela Leiros – Da Agência Cenarium

MANAUS (AM) – Cid Marcos Bastos Reis Maia, preso nesta terça-feira, 7, durante a operação “O Pai Tá Off“, mantinha relações sexuais com mulheres em vulnerabilidade social em troca de kits de higiene e comida, informou a Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) à imprensa. Ele é o responsável pela Organização Não Governamental (ONG) Pai Salvando Vidas, que desviou mais de R$ 20 milhões em doações, apontou investigação.

Segundo o delegado Marcelo Martins, do 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP), a informação foi confirmada por pessoas que prestavam serviços à ONG e, inclusive, por uma das mulheres que foi explorada sexualmente por Cid Marcos, conhecido como “Pai Marcos”.

Nos deparamos com a situação que achei a mais degradante possível que foi o fato que o Cid Marcos, conforme depoimentos que constam nos autos, mantinha relações sexuais com as usuárias, as adictas atendidas pelo projeto, em troca de kits de higiene, em troca de pratos de comida“, explicou o delegado.

De acordo com a polícia, a ONG “Pai Resgatando Vidas” foi aberta com o objetivo de ajudar pessoas em situação de rua, mas, com o tempo, tornou-se uma “organização criminosa familiar”, que contava com dois locais para receber pessoas em situação de vulnerabilidade social, sendo um localizado em Manaus e o outro no município de Iranduba. Neste último, havia uma suíte onde “Cid Marcos” mantinha relações sexuais com as mulheres.

A ONG era conhecida em Manaus por divulgar vídeos de moradores de rua e usuários de drogas recebendo atendimento e cuidados. Era por meio da divulgação desse suposto trabalho que a instituição fazia os pedidos de doações. Entre as doações recebidas havia de pessoas de pelo menos 15 Estados e de fora do País.

Ainda segundo o delegado, essas pessoas em vulnerabilidade eram exploradas para garantir engajamento nas redes e o lucro das doações. O uso de imagens dessas pessoas pela ONG configurou o crime de maus-tratos, explicou Marcelo Martins.

“Essas pessoas não tinham condições de determinar se elas autorizariam ou não o uso de suas imagens. E depoimentos que nós colhemos de pessoas que eram funcionárias do projeto disseram que ele procurava as imagens mais chocantes possíveis para poder obter mais engajamento nas redes sociais, obter maior lucro com as redes sociais e mais doações. Então, era um estratagema proposital mostrar a pessoa ali no maior estado de degradação possível“, acrescentou o delegado.

Além de Cid Marcos, foram alvos da operação o filho dele, Wilson Bastos; a mãe, chamada de “Dina”; a irmã Priscila; dois sobrinhos; e um filho adotivo. Apenas os dois primeiros foram presos. Os outros estão foragidos.

Investigação

A investigação durou seis meses e, com base em relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), descobriu a movimentação de mais de R$ 20 milhões. Diante disso, a Justiça ordenou a prisão preventiva (oito mandados), o sequestro de bens, busca e apreensão dos imóveis e o bloqueio das redes sociais dos alvos.

A PC-AM disse que a quadrilha sacava grandes quantias e comprava bens para uso próprio, principalmente carros de luxo. Além das prisões, a polícia também fez a apreensão de quatro carros da família.

Os responsáveis pela organização devem responder pelos crimes de organização criminosa, maus-tratos, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

Revisado por Gustavo Gilona