Estudante indígena Arapium é alvo de racismo em jogos de Medicina em Tocantins

O estudante indígena Vanderson Matteus (Composição de Weslley Santos/CENARIUM)

07 de maio de 2024

16:05

Raisa Araújo – Da Agência Cenarium

BELÉM (PA) – O estudante indígena de medicina Vanderson Matteus, do povo Arapiun, da Aldeia São Miguel, localizada na região do Baixo Tapajós, no Pará, foi alvo de racismo durante os jogos do “X Intermed Norte” em Palmas, no Estado de Tocantins, evento que ocorreu entre 1º e 5 de maio. Expressões pejorativas como “índio, volta pra aldeia” e “índio, volta pra oca” foram dirigidas a ele durante a transmissão ao vivo da cobrança de pênaltis da semifinal de futsal masculino.

Vanderson Matteus está no 5º  período de do curso de Medicina na Universidade Federal do Pará (UFPA), no campus do município de Altamira, cidade do interior, e integra a Atlética Suprema. À CENARIUM, o estudante contou que os insultos ocorreram quando ele marcou um gol contra o time adversário. Veja o vídeo abaixo.

Ato racista foi transmitido ao vivo nas redes sociais (Reprodução/Redes Sociais)

“Quando o menino da nossa atlética roubou o primeiro pênalti, eu peguei e disse ‘eu vou bater esse [pênalti] pra ver se a pessoa repete’. Na hora que eu peguei na bola, a mulher gritou novamente ‘volta pra aldeia, índio’.  Eu pensei que era pra mim mesmo”, relatou Vanderson. 

O estudante também compartilhou o impacto emocional que o incidente teve sobre ele. “Eu sofri muito, eu estou sofrendo muito por isso. Não consegui sair ainda, para nada. Lá chorei muito, a viagem toda chorando, né?”, disse.

Vanderson Matteus está no 5º  período de do curso de Medicina na Universidade Federal do Pará (UFPA) (Reprodução/Arquivo Pessoal)

A Atlética de Altamira tomou medidas para investigar e responsabilizar os envolvidos no incidente, que não foram identificados no período em que ocorreu a disputa entre universidades.

“Repudiamos a ausência de punição à integrante e a demora na identificação por parte da atlética e, sobretudo, repudiamos a negligência das autoridades informadas em dar a devida visibilidade e importância ao ocorrido, sem o devido pronunciamento sobre o caso em nenhuma plataforma oficial”, diz nota da organização do interior do Pará.

Pedido de desculpas

A Atlética Soberana, vinculada à Faculdade Fesar, que é parte do grupo Afya Educacional, era responsável pela transmissão ao vivo do jogo, no Instagram, também se pronunciou sobre o ocorrido, expressando repúdio e indignação com o ato ofensivo direcionado ao estudante.

“Tal ato é uma expressão clara de racismo e preconceito, direcionada aos povos indígenas, que não pode ser tolerada sob quaisquer circunstâncias. Como entidade responsável pela transmissão, sentimos a necessidade de pedir sinceras desculpas ao Vanderson Matheus pelo ocorrido”, disse a instituição.

A entidade lamentou o ocorrido e informou que as medidas cabíveis para identificar e punir o responsável pelo ato deplorável estão sendo tomadas. ”Recebemos as orientações jurídicas necessárias para garantir que o processo de apuração seja conduzido com a seriedade e imparcialidade que a situação exige, e para assegurar que o ocorrido não seja invisibilizado”, informou a faculdade.

CENARIUM tentou contato com a Atlética Guerreira, fundadora do Intermed Norte e organizadora do evento em 2024, mas não obteve retorno. A atlética em questão está vinculada ao Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos (UNITPAC), localizada em Porto Nacional, em Tocantins, também pertencente ao grupo Afya Educacional.

Repúdio

O Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (Cita) manifestou publicamente repúdio ao ocorrido, enfatizando a importância de reafirmar o direito dos povos indígenas de ocuparem espaços diversos e desempenharem variadas funções, repudiando veementemente atitudes racistas que violam os princípios constitucionais.

”Nesse sentido, instamos a organização a identificar os responsáveis para aplicar medidas disciplinares e responsabilizá-los legalmente pelos atos racistas, assegurando que tais comportamentos não encontrem lugar nos eventos”, diz a nota do Cita.

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Editado por Adrisa De Góes