Brasil de maioria evangélica pode ser menos conservador que o esperado e mais individualista

Evangélicos fazem orações em frente ao Palácio da Alvorada (Pedro Ladeira/Folhapress)

05 de dezembro de 2023

23:12

Winicyus Gonçalves – Da Agência Cenarium Amazônia

BOA VISTA (RR) – O contador Ronilson Pedroso, de 39 anos, é um exemplo da transição religiosa que o Brasil vivencia nos últimos anos. De família católica, ele se converteu para a matriz evangélica do cristianismo e congrega em uma igreja batista de Boa Vista (RR). Ronilson avalia com otimismo o movimento que poderá, em 2032, consolidar os evangélicos como a maior fé nacional.

“O Brasil já foi e sempre vai ser de Deus e esse crescimento só mostra que Deus tem falado ao coração dos seus filhos e que as pessoas têm se convertido. Isso é sinal de bênção para nós brasileiros”, diz Pedroso.

Ronilson Pedroso (Acervo pessoal)

A previsão é de José Eustáquio Alves, doutor e pesquisador em demografia e que trabalhou no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre 1991 e 2010, os católicos caíam 1% ao ano, e os evangélicos cresciam 0,7%. Segundo Alves, são várias as indicações de que a queda do número de católicos passou para 1,2% nos últimos anos, enquanto a subida de evangélicos chega a 0,8%. Aplicadas as taxas num modelo de projeção geométrica, aponta o demógrafo, se chega a essa projeção.

Evangélicos se reúnem na Marcha para Jesus (Rovena Rosa/Agência Brasil)
Fatores

Para o sociólogo Bruno Franques, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), fatores como ativismo evangélico, passividade católica e maior interação entre igrejas evangélicas e política fez o número de evangélicos crescer, impulsionado pelo apoio em massa dos maiores líderes do segmento ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desde a campanha eleitoral em 2018. Apesar disso, ele avalia que um futuro Brasil de maioria evangélica deve manter diversidade de pensamentos.

“O próprio movimento evangélico é muito heterogêneo e diverso. Apesar da pressão de muitos líderes de congregações tradicionais e de grandes igrejas em todo o País, muitos optaram por não votar em um candidato que representasse uma agenda mais conservadora. Acredito em um País evangélico que não representará os pensamentos da extrema direita”.

Franques pontua também que apesar de não acreditar que a sociedade brasileira fique mais conservadora com a ascensão do protestantismo de matiz neopentecostal em todo o País, a tendência é que a influência das pregações de líderes evangélicos, focadas em questões individuais, possa mudar o comportamento do brasileiro frente a questões coletivas.

“A ascensão do neopentecostalismo se deveu muito à resolução de problemas individuais associados, principalmente, a desejos como ser rico, ter um bom relacionamento amoroso e se livrar de doenças, por exemplo. Muito diferente da preocupação da igreja católica, historicamente focada no coletivo e ligada a movimentos sociais que tratam da questão da terra, da comida, da saúde e da educação”, acredita.

Tolerância

Cícera Batista, de 35 anos, congrega na mesma igreja de Ronilson e votou em Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022, assim como 76% dos eleitores de Roraima, que deram ao ex-presidente o maior percentual de votações entre os Estados. Com a vitória do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ela disse que ora e torce para que o presidente faça um bom mandato.

“A palavra de Deus diz que toda autoridade é determinada por ele e que nós devemos orar por ela para que o nosso futuro seja próspero. Estou fazendo isso, e todo o cristão de verdade tem que fazer, independente de quem esteja no poder. Ser maioria, no Brasil, é cumprimento da promessa de Deus e uma responsabilidade para que possamos ser exemplo de fé e de comportamento”, avalia.

Cícera Batista (Acervo pessoal)

Evangélica desde o nascimento, Cícera conta que ser “crente” foi a melhor coisa que aconteceu para a sua vida. “Mas não tenho birra com os católicos, não. Se eles são maioria ou se é a gente, o que importa é o Senhor nosso Deus ser soberano. Amém?”, complementa.

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Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga