Candidato ao Governo do AM interrompe entrevistadores e ataca pergunta sobre Ipaam: ‘Cuidado com sua colocação’

Candidato ao Governo do Amazonas concedeu entrevista aos jornalistas da Rede Amazônica (Rede Amazônica/Reprodução)

13 de setembro de 2022

20:09

Ívina Garcia – Da Agência Amazônia

MANAUS – O candidato ao Governo do Amazonas, Amazonino Mendes (Cidadania), interrompeu, por diversas vezes, os jornalistas e apresentadores da Rede Amazônica Lane Gusmão e Fábio Melo que estavam mediando o quadro “Entrevista com os Candidatos” exibido nesta terça-feira, 13. Durante a rodada de perguntas, Amazonino foi rude nas respostas e chegou a elevar o tom, algumas vezes, principalmente, quando respondia à apresentadora Lane Gusmão.

No entanto, Fábio Melo foi quem recebeu uma resposta “atravessada” ao questionar o candidato sobre o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam).

Passando aqui para uma situação que também preocupa, o Ipaam, que é um órgão estadual, candidato, que tem, hoje, segundo informações que nós temos, de 5 a 6 fiscais apenas. O que o senhor faria com o Ipaam? O senhor vai colocar no lugar, já que o Estado detém aí uma das maiores reservas florestais do planeta? O que o senhor faria?“, indaga o apresentador.

E Amazonino rebateu dizendo: “Olha, cuidado com a colocação. Você fala… Na forma como você coloca, você põe o Ipaam como se fosse um órgão básico e fundamental. Ele é. Quem criou, inclusive, fui eu. Mas existe um Ipaam que está longe de ajudar no processo… de respeito ao ambiente ou coisa que o valha. Ele atua como um órgão imperativo da atividade econômica e, muitas vezes, ele se transforma em um órgão cujo comportamento é duvidoso (sic)“.

Amazonino pede cuidado com as indagações do apresentador (Rede Amazônica/Reprodução)

A apresentadora Lane indaga novamente sobre quais seriam as propostas do candidato para o meio ambiente e melhora do Ipaam, no qual ele responde: “Tem Ipaam e Ipaam. Ao Ipaam nota dez, no meu ponto de vista, nota dez e todo meu empenho e apoio. Ao outro Ipaam, zero, simplesmente riscar do mapa“, responde o candidato.

A entrevista segue sem Amazonino pontuar quais seriam os projetos para melhorar o órgão estadual. A apresentadora Lane, então, pergunta quais os projetos para o meio ambiente e Amazonino responde: “O meio ambiente é uma preocupação salutar internacional e mundial, hoje, ninguém duvida. Não tenho proposta, tenho ações; respeitar as regras e normas ambientais. Isso aí“, respondeu Mendes.

Investigações

Em uma das primeiras perguntas, a apresentadora Lane Gusmão questiona Amazonino sobre o caso Consladel, envolvendo contrato com os “corujinhas” usados na fiscalização de trânsito de Manaus durante a administração de Amazonino Mendes quando foi prefeito, de 2009 a 2013.

À época, a empresa e, o então secretário do Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU) de Mendes, Paulo Henrique Martins, foram denunciados por fraudes na emissão de multas. O serviço de fiscalização foi suspenso desde então.

Em 2012, o seu mandato foi marcado pelo escândalo da Consladel, que era a empresa responsável pela implantação de radares. A Justiça chegou a solicitar o bloqueio de bens de secretários da Prefeitura e, inclusive, os seus (de acordo com informações do TJAM). Como o senhor garante aos seus eleitores, se eleito, não ter um escândalo como esse no seu governo?“, pergunta Fábio.

Amazonino eleva o tom de voz ao responder sobre administração da Prefeitura de Manaus (Rede Amazônica/Reprodução)

Amazonino responde que qualquer administrador público está sujeito a uma situação como tal, ou seja, é um terceiro. “Eu não tenho nada a ver com isso. Eu não sei nem o que é isso, para te confessar honestamente. Só o assunto que um secretário da época, que ele, evidentemente, deve ter suas alegações. Eu, pessoalmente, ao que tive conhecimento, até então, com relação a isso, nada de grave, que eu saiba, pelo menos“, afirma.

Mesmo afirmando que não existe “nada de grave” no caso, o Ministério Público do Amazonas (MP-AM) apresentou denúncia onde afirma que a Prefeitura, por meio do IMMU, e a empresa Consladel teriam desviado cerca de R$ 40 milhões dos cofres públicos.

Amazonino responde a repórter que ele não era o responsável por comprar nada e não tem nada a ver com a ação de “terceiros“. “Mas o senhor era prefeito na época“, diz Lane Gusmão que, prontamente, é rebatida por Mendes. “Sim, e daí?“.

Bens declarados

Ao ser questionado sobre os bens declarados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde Amazonino Mendes registrou ter cerca de R$ 4 milhões, dentre eles, uma casa no valor de R$ 1, em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro. O candidato parece confuso com o valor da casa, mas responde que tem uma casa muito humilde.

“É um dos locais mais badalados do Brasil“, questiona o apresentador. “Não interessa, mas a casa é humildilíssima“, responde Amazonino. “Mas a casa não custa R$ 1″, indaga Lane.

“Isso deve ser coisa do meu contador, eu mesmo não faria isso“, afirma Amazonino Mendes, que parece desconhecer os motivos pelo qual a casa foi declarada com o custo de R$ 1, anteriormente explicados por meio de nota enviada pela assessoria.

Em agosto, quando o valor da residência estampou manchetes de jornais locais, a assessoria de Amazonino respondeu que a casa seria uma “herança” deixada por sua falecida esposa, com documentação incompleta e, por isso, o custo da aquisição deve ser computado como “0”. Por essa razão, o bem foi lançado com valor simbólico de R$ 1.

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O valor de R$ 1, de uma casa na lista de bens declarados à Justiça Eleitoral, atende à legislação e posicionamento da Receita Federal, e o valor declarado encontra-se correto e em conformidade com a legislação pertinente”, dizia a nota.

A ex-esposa de Amazonino Mendes, Tarcila Prado de Negreiros Mendes, faleceu em 2015, porém, a casa deixada para seu cônjuge não apareceu nas declarações de bens de Amazonino em 2020. Ainda segundo a nota, “a regularização do imóvel atendeu as exigências do instituto do usucapião, fato edificado em 18/06/2021”.

No site de Divulgação de Bens do TSE consta o endereço da residência como sendo “Casa C14, rua José Bonifácio, N° 14, bairro Canãa, Praia Grande – Arraial do Cabo-RJ”. A reportagem procurou a casa por meio da ferramenta Mapas do Google, no entanto, o endereço direciona para um posto de gasolina localizado em São Paulo. Quando procuramos pela rua José Bonifácio, no Rio de Janeiro, com a casa número 14, o endereço mostra um residencial Village 2, localizado no Centro.