Cineasta Yanomami tem curta premiado no Festival de Gramado

O curta-metragem será exibido no Festival de Veneza, na Itália (Reprodução)

21 de agosto de 2023

20:08

Winicyus Gonçalves – Da Agência Cenarium Amazônia

BOA VISTA (RR) – O curta-metragem “Mãri hi – A Árvore do Sonho (2023)”, produzido por Morzaniel Ɨramari, cineasta Yanomami de Roraima, ganhou dois prêmios na 51ª edição do Festival de Cinema de Gramado. A produção levou para casa os troféus de melhor fotografia e o prêmio especial do júri.

O curta do cineasta conta com a participação do líder e xamã Davi Kopenawa e aborda sobre o conhecimento dos Yanomami sobre os sonhos. A cerimônia aconteceu na última sexta-feira, 18, no Rio Grande do Sul.

A película é uma produção da Aruac Filmes, coprodução da Hutukara Associação Yanomami (HAY) e produção associada da “Gata Maior Filmes”. Esta é a terceira obra de Morzaniel, que produziu “A Casa dos Espíritos (2010)” e “Curadores da Terra-Floresta (2014)”, além de também assinar a tradução do curta “Uma Mulher Pensando (2023)”, feito por mulheres Yanomami. O cineasta ganhou o prêmio de melhor curta-metragem no festival “É Tudo Verdade” (2023), festival de cinema documental brasileiro que é considerado um dos maiores eventos do cinema da América Latina.

Morzaniel Yanomami foi um dos vencedores do Festival de Gramado (Reprodução/Instagram/@hutukara_yanomami)

Iramari conta que a obra nasceu da oportunidade de falar sobre a cultura dos indígenas Yanomami a partir deles mesmos, sem a interferência de terceiros, e que falar sobre os sonhos para os Yanomami é dialogar sobre o que é especial e comum a todos do grupo indígena.

“Conversamos muito sobre sonhos, porque nós, os Yanomami, podemos sonhar muito longe. Eu posso sonhar com outros mundos, como este mundo aqui. Eu me lembro da lua. Eu posso sonhar com o céu, a chuva, o sol. Foi assim que este filme nasceu, por meio dos sonhos das mulheres, dos sonhos das crianças e dos sonhos dos xamãs, que são os que mais se afastam”, conta o cineasta.

Crise Yanomami

Iramari é considerado o primeiro cineasta Yanomami, etnia indígena formada por 35 mil pessoas e que ocupa uma área entre Roraima, Amazonas e Venezuela. O grupo foi um dos mais afetados durante o mandato do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), por meio de uma combinação de negligência do Estado em ações de saúde e um fluxo de aproximadamente 20 mil garimpeiros ilegais que ocuparam o território indígena, o que provocou uma das maiores crises sanitárias entre os Yanomami.

“Hoje, as coisas estão um pouco melhores. Lula fez apenas uma pequena diferença, uma pequena melhoria. Quando Bolsonaro era presidente, muitos de nós morreram. Houve muita violência, abuso sexual de mulheres por mineiros ilegais, doenças e malária. Em 2018, quando Bolsonaro começou a trabalhar, ele próprio enviou muitos garimpeiros para cá. Os invasores ilegais destruíram muito o território Yanomami. Foi quando os Yanomami começaram a morrer. Eles começaram a matar, a trazer doenças, a destruir a floresta”, conta Iramari.

Festival de Veneza

“Mãri-Hi – A árvore do Sonho” tem uma reserva especial na 80ª edição do Festival de Veneza, na Itália, que acontece de 30 de agosto a 9 de setembro. No dia 4 de setembro será o dia para o cinema indígena, no “Eyes of the Forest” (Olhos da Floresta), que exibirá três curtas-metragens Yanomami e será um dia dedicado ao primeiro cineasta de povos originários, Morzaniel Iramari e ao cinema indígena Yanomami no Brasil.

Iramari falou que pretende usar a oportunidade para fazer um apelo ao público internacional para a luta por direitos dos Yanomami. “Vou falar da luta que temos, hoje, contra os invasores e o Marco Temporal. Falarei sobre as necessidades de saúde e educação do meu povo, mas também falarei de coisas boas, como o fato de ainda existir a nossa cultura tradicional. Vou falar sobre tudo isso contando a história da árvore dos sonhos e como nossos xamãs sonham”, disse.