Crescimento do PIB brasileiro impulsa agropecuária e indústria da Amazônia; entenda

Crescimento do PIB (Composição: Weslley Santos/Revista Cenarium)

02 de março de 2024

16:03

Karina Pinheiro – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – O crescimento de 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB), anunciado nessa sexta-feira, 1º, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), influencia em setores com considerável impacto na Amazônia, como a indústria e a agropecuária, conforme explicam especialistas à REVISTA CENARIUM. E esses efeitos não são apenas econômicos, mas sociais e até mesmo ambientais.

A agropecuária, serviços e indústria também foram as principais responsáveis pelo crescimento do PIB. A primeira, por exemplo, foi o setor com maior crescimento em comparação ao ano passado, com 15,1%. As indústrias ficaram responsáveis por 1,6% em relação ao ano anterior, com destaque para as indústrias extrativas, como extração de petróleo e gás natural, e de minérios de ferro.

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Gráfico variação da produção (Reprodução/IBGE)

O economista, especialista em Gestão Empresarial e vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Amazonas (Corecon-AM), Altamir Cordeiro, explica que o crescimento da indústria é favorável à Zona Franca de Manaus (ZFM), o modelo econômico responsável por mais de 80% da arrecadação do Amazonas. Cordeiro ainda aponta a necessidade de aperfeiçoar as condições para melhorar os investimentos produtivos.

“Acredito que com o País melhorando em todos os setores da economia, o Amazonas também terá benefícios, uma vez que a política industrial está sendo incentivada e com as garantias mantidas do PIM [Polo Industrial de Manaus] na Reforma Tributária, podemos aumentar novas plantas industriais e diversificação das plantas já existentes”, disse o vice-presidente.

Crescimento do agro

O economista destaca, ainda, que apesar dos números positivos, algumas considerações devem ser levadas em conta para os resultados em 2024, destacando que o clima do ano passado favoreceu uma supersafra, possibilitando um crescimento do agronegócio brasileiro. A atividade econômica é apontada como uma das principais responsáveis pelo desmatamento na região amazônica.

Nos dois últimos trimestres, a economia brasileira desacelerou e podemos ter um PIB próximo de 2% em 2024. Alguns segmentos da economia foram bastante prejudicados pelas taxas elevadas de juros, principalmente em relação aos investimentos. Sem investimentos, não teremos crescimento sustentável e o país não avança“, apontou Altamir.

Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA/IBGE), o crescimento de produção teve como destaque a soja, com 27,1%, e o milho, com 19,0%. A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, explicou que o resultado recorde da Agropecuária teve influência do crescimento da produção e do ganho de produtividade da Agricultura.

Esse comportamento foi puxado muito pelo crescimento de soja e milho, duas das mais importantes lavouras do Brasil, que tiveram produções recordes“, disse em matéria para o IBGE.

Levantamento Sistemático da Produção Agrícola na região Norte (Reprodução/IBGE)
Agropecuária na Amazônia

Com foco no meio ambiente, o biólogo, pesquisador e doutor Lucas Ferrante alerta que o aumento da agropecuária não contribui para o desenvolvimento econômico do País devido a uma série de fatores que impactam a região amazônica. Ele analisa que o lucro gerado pela atividade está concentrado nas mãos de poucos e que a agropecuária fortalece a grilagem de terras.

“Você não tem uma cadeia de trabalho fortalecida nisso. Tem poucas pessoas trabalhando no ramo, o lucro é concentrado em indivíduos específicos ou em grandes empresas. Isso não agrega para o País, muito pelo contrário, nós temos impacto negativo da pecuária, porque fortalece a rede de grilagem de terras ligada ao crime organizado e, de fato, ao desmatamento na Amazônia. A recomendação para os países importadores é que, se o desmatamento não for zerado, deve haver boicote. O País não pode crescer em uma atividade que tem sido fomentada por crimes ambientais, isso inclusive vai contra o discurso do presidente Lula na COP 30“, afirmou Ferrante.

Um trabalho publicado no International Journal of Climatology, por pesquisadores do Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), observou que entre 1999 e 2019, as regiões que mais perderam floresta tiveram um atraso acumulado de aproximadamente 76 dias no início da estação chuvosa agrícola. Os locais tiveram uma redução de 360 mm nas chuvas e um aumento de 2,5 ºC na temperatura máxima.

A pecuária é uma das maiores ameaças da Amazônia, sem dúvida. Você tem dois fatores ligados aos impactos da pecuária que são bastante preocupantes: primeiro, o aumento do desmatamento, invasão de unidades de conservação e terras indígenas. Inclusive, você tem terras indígenas na Amazônia, como a dos Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, onde você tem gados sendo criados para a exportação e isso não foi removido. E a segunda coisa é o fomento da grilagem de terras, que tem mostrado aumento, principalmente no Amazonas, onde tem ocorrido aumento do desmatamento na Amazônia“, explicou o pesquisador.

O cientista da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Artaxo, destaca que a pecuária utiliza enormes áreas da Amazônia sendo utilizadas por uma pecuária altamente improdutiva. Assim como Lucas Ferrante, ele considera que o dano ambiental é enorme e o lucro financeiro com exportações é relativamente pequeno.

Temos que ter políticas públicas que não permitam o uso inadequado do solo da Amazônia, como o ordenamento territorial, onde você não permite, por exemplo, investimentos em plantações de soja em áreas que já foram desmatadas. Isso pode ser do interesse do agronegócio, deixar claro que a soja que está sendo exportada no Brasil não provém de áreas desmatadas”, conclui.

Editado por Marcela Leiros
Revisado por Gustavo Gilona