Criador do Búfalo-Bumbá, mestre Damasceno tem obra reconhecida como patrimônio do Pará

Quilombola marajoara celebra 50 anos de carreira em 2023 (Paulo Cordeiro/Reprodução)

19 de novembro de 2023

16:11

Daleth Oliveira – Da Agência Cenarium Amazônia

BELÉM (PA) – O quilombola marajoara mestre Damasceno agora tem sua obra elevada ao status de patrimônio cultural imaterial do Estado do Pará, por meio da Lei 10.141/2023 sancionada no dia 13 de novembro. Para ele, que celebra 50 anos de carreira como cantor, compositor e diretor artístico brasileiro, a homenagem é resultado de dedicação à cultura amazônica.

Eu me sinto honrado e feliz, pois estou vivendo e colhendo aquilo que eu plantei. Eu fico ainda mais feliz em ver que estou agradando o povo e deixando o público alegre com meu trabalho em vida. Amanhã, quando eu for, tudo o que é meu fica aqui. E estarei deixando os meus frutos“, conta o mestre à AGÊNCIA CENARIUM AMAZÔNIA.

Mestre Damasceno é o criador do Búfalo-Bumbá, uma homenagem à festividade junina mais popular do Estado do Amazonas, que também tem raízes na Ilha do Marajó, interior paraense. O artista é o cérebro por trás dessas peças de teatro popular, responsável pela elaboração dos enredos, das falas dos personagens e dos vibrantes figurinos adornados com fitas de cetim.

Essa cultura representa o Pará, a Amazônia, o Brasil. Representa nosso trabalho, nosso cotidiano, nossa convivência amazônida. E é um prazer levar a nossa cultura popular pelo mundo afora!“, declarou o mestre.

Nascido em Salvaterra, Damasceno Gregório dos Santos, membro da Comunidade Quilombola do Salvá, no Arquipélago do Marajó, atua na cultura popular desde os 19 anos, quando também sofreu um acidente de trabalho que resultou em sua deficiência visual.

Lei valoriza cultura paraense

A lei sancionada foi aprovada por unanimidade pela Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) no dia 18 de outubro. De autoria do deputado Elias Santiago (PT), o projeto tinha o objetivo de preservar a memória e impulsionar a cultura paraense.

Nossa ideia, quando sugerimos o projeto de lei, foi dar a devida consagração ao mestre Damasceno, por toda a sua contribuição à cultura paraense ao longo desses 50 anos de carreira. Infelizmente, apesar da aclamação popular, muitos mestres só têm a sua obra reconhecida após nos deixarem. Sabemos que não é o suficiente, por isso, propusemos o projeto na função de reparação histórica. É uma honra poder contribuir para a preservação, memória e fomento da nossa cultura”, destaca o parlamentar, vice-presidente da Comissão de Cultura da Casa.

Reconhecimento

O marajoara acumula mais de 400 composições, quatro álbuns lançados e dois documentários: “Mestre Damasceno – O Resplendor da Resistência Marajoara” e “O Boi-Bumbá de Salvaterra e suas Comunidades Quilombolas”. Sua dedicação à cultura popular marajoara foi reconhecida em 2010, pelo Ministério da Cultura (MinC), que lhe concedeu o “Prêmio Maria Isabel”.

No Carnaval deste ano, o mestre foi homenageado na Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, do Rio de Janeiro. A agremiação desfilou na Sapucaí apresentando a chegada dos búfalos no Marajó e a arte marajoara com o enredo “Mogangueiro da Cara Preta“.

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Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga