Dia de Iansã: conheça significados e rituais sobre o orixá feminino que controla ventos e tempestades

Entidade Iansã representada em pintura. (Reprodução/ Internet)

04 de dezembro de 2021

12:12

Victória Sales – Da Revista Cenarium

MANAUS – Neste sábado, 4, é celebrado o dia de um dos mais conhecidos orixás cultuados no Candomblé e na Umbanda. Iansã, também conhecida como Oyá, é o orixá feminino dos ventos e dos rios, responsável por controlar também as tempestades. A divindade tem o apelido dado por um dos maridos, Xangô.

De acordo com o Pai de Santo, Alberto Jorge, Iansã chega a ser sincretizada como Santa Bárbara na religião católica, mas, segundo ele, a santa nada tem a ver com as religiões de matrizes africanas. “Santa Bárbara protege contra os raios da tempestade. Ela usa o manto vermelho pelo fato de ter sido cristã no primeiro momento dos primeiros séculos da igreja e derramou o seu sangue. Traz a espada que o próprio pai utilizou para cortar a sua cabeça e a coroa de princesa, a mulher”, explicou.

Entidade Iansã (Reprodução/ Internet)

Jorge conta também que Santa Bárbara é tida como a protetora contra os raios. “Aí é que se dá a justaposição de Santa Bárbara com Iansã. A cor vermelha do manto da santa é a mesma cor da roupa de Iansã. A espada da santidade, que foi usada quando ela foi sacrificada pelo próprio pai, é o que protege contra o raios, então está aí feita a chamada justaposição ou amálgama que vai gerar o sincretismo religioso”, destacou.

O Pai de Santo explica ainda que, ao se reverenciar à imagem católica, estavam, na verdade, reverenciando a divindade africana. E por ser a guerreira e protetora do raio, este era uma das coisas mais temíveis para a sociedade antiga, porque era a força da natureza que caía. “Essa devoção fez com que as igrejas ou capelas construídas para a santa católica nas casas sempre tivessem uma imagem de Santa Bárbara para proteger a casa do raio”, avaliou.

História

O culto à Iansã chegou ao Brasil juntamente com os negros escravos. Iansã tem forte espírito guerreiro e já foi de grande serventia quando Oxalá precisava vencer uma batalha e Iansã, antes de se casar, se pôs a ajudar na fabricação das armas para Oxalá soprando o fogo que as forjavam. “Vemos que Iansã tem sua força ligada à participação nas guerras e no domínio dos ventos. Por ser também a senhora de batalhas, esse orixá feminino se destaca ao se mostrar detentora de habilidades e comportamentos tradicionalmente masculinos”, completou Alberto Jorge.

Ao mesmo tempo em que é ligada ao fogo, por sua capacidade de despertar paixões, Oyá também está associada ao poder dos trovões e da eletricidade. Esse último poder foi adquirido junto ao marido Xangô, que lhe ensinou a habilidade em sinal do arrebatador sentimento que lhe tomou ao conhecer a bela divindade.

Rituais

Sendo o acarajé uma comida utilizada no ritual de Iansã, a iguaria também é conhecida, na África, de àkàrà, que tem significado de bola de fogo. A comida é um bolinho de feijão fradinho, fritos no azeite de dendê. A lenda destaca que a mulher de Xangô foi na casa de Ifá, um oráculo africano, buscar um preparado para o marido. Iansã desconfiou da comida e acabou comendo o alimento antes de entregar para Xangô, e nada lhe aconteceu. Chegando em casa, entregou a comida para o marido, que comeu e quando foi falar ao povo, da forma em que Ifá havia pedido, começou a sair fogo pela boca.

Depois do ocorrido, o bolinho de acarajé se tornou uma oferenda à divindade. Mesmo sendo vendido com outras finalidades, a comida é considerada pelas baianas uma comida sagrada, por conta do que aconteceu com Iansã. Feitos com finalidade sagrada, o acarajé deve ser apenas frito, sem recheio, como são vendidos fora do ritual. Ao todo, 9 bolinhos precisam ser ofertados e enfeitados com camarões secos e rodelas de cebola, com mel e dendê.

Oração

“Iansã, mãe e senhora dos ventos e tempestades, das horas aflitas e das almas perdidas.

Dona de todas as direções.

Operosa divindade em prol dos desígnios dos filhos de caídos sem norte e vontade.

Piedade para nós, criaturas que vivemos, à beira das tentações, dos abismos, alheios ao amor do pai Olorum.

Mãe, empresta-nos tua decisão e tua coragem, para o encontro do nosso próprio ser.

Daí-nos um roteiro de esperança e triunfo.

Erradicai a pobreza dos nossos sentimentos, orienta-nos para a verdade, dentro do caminho de devoção ao supremo doador.

Encoraja-nos senhora dos raios, para que nossa própria mente, siga uma só direção: amar a Olorum.

Êparrei, Iansã!”