Dia do Jornalista: o jornalismo na Amazônia sob a ótica das redes sociais

Fazer jornalismo na Amazônia e com as redes sociais presentes exige, cada vez mais, dos profissionais distribuídos nos Estados da região (Reprodução/Istock)

07 de abril de 2023

13:04

Mencius Melo – Da Agência Amazônia

MANAUS – No dia em que se comemora o Dia do Jornalista, a AGÊNCIA AMAZÔNIA entrevistou profissionais que atuam no mercado amazônico para entender contexto, desafios, dificuldades e realidades do fazer jornalístico na maior floresta do planeta. São transformações, adaptações e inovações que imprimem um novo ritmo à profissão diante do uso de tecnologias, como a internet, e a expansão das redes sociais e suas dinâmicas de comportamento.

Para o jornalista de Belém, no Pará, Vitor Gemaque, a profissão recebe forte impacto da internet e os profissionais precisam acompanhar essa dinâmica. “Os profissionais precisam fazer cursos e as empresas também precisam oferecer essas ferramentas aos seus trabalhadores, mas, infelizmente, você conta nos dedos as empresas que oferecem esses incentivos. Na área industrial, você encontra esses mecanismos, mas isso não é visto no mercado do jornalismo. O patronato resiste muito e os sindicatos precisam fazer pressão“, declarou.

Vitor Gemaque atua no mercado profissional paraense e, atualmente, preside o Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor) (Reprodução/Redes Sociais)

Outra face é o uso da internet e a realidade das redes sociais. “Aqui, em Belém, tem problemas de internet e quando vamos para o interior isso piora muito. São dificuldades até para conversar e isso impacta na qualidade do trabalho”, destacou. “Hoje, com as redes (sociais), tudo se tornou imediato, temos que fazer matérias em minutos, sem uma boa apuração, porque seu concorrente não pode dar o material primeiro, e isso está criando uma geração depressiva. Cresce o número de profissionais doentes por conta das redes sociais. E, para piorar, temos a ‘Inteligência Artificial (IA)'”, lamentou.

Outro jornalista

Gemaque apontou um horizonte comprometedor a partir do uso das “IAs”. “Estamos vivendo o aumento tecnológico com o aumento da exploração e, nesse contexto, é possível encontrar ‘IA’, como ChatGPT, que já escreve matéria, temos, inclusive, informação de que portais e sites já estão usando essa ‘IA’. Estão aumentando a carga de um editor web porque ele é obrigado a ser redator também, ou seja: como se fosse um outro jornalista. A categoria precisa se unir para enfrentar essa realidade”, ponderou.

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Captar as ‘Amazônias’ dentro da Amazônia faz parte da vivência dos profissionais de jornalismo na região (Ricardo Oliveira/REVISTA CENARIUM)

Amazonense de Manaus, mas atuando no mercado de Boa Vista, Roraima, a jornalista Bianca Diniz vê o jornalismo a partir das redes sociais com outros olhos: “Acredito que seja desafiador. O ‘boom’ das redes sociais transformou o jornalismo e a maneira de como as notícias são compartilhadas e consumidas. Possibilitou também uma personalização de preferência do leitor/consumidor, assim como deu origem aos novos formatos e caminhos para os veículos e seus profissionais. As tendências sempre estarão continuamente surgindo, logo veio para ficar”, destacou.

Questionada se a velocidade não compromete o texto, Bianca respondeu: “A velocidade é aliada quando se trata da questão do papel transformador do jornalismo. Como em coberturas de grande repercussão ao redor do mundo, onde a internet proporciona conhecimento dos fatos e possíveis soluções, mas requer cautela na verificação dos fatos, para então virar a notícia. Os usuários das redes também são replicadores de notícias em busca de engajamento. No entanto, é necessário reforçar que somente o profissional da comunicação, o jornalista, está apto a fazer cumprir esse papel“, observou.

A jornalista Bianca Diniz encara a realidade das redes como algo irreversível e que se bem utilizada é uma aliada da boa informação (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Sem vivência

Sobre o fazer jornalístico no maior bioma do Brasil, a jornalista analisa e pondera sobre reconhecimentos, limitações e descréditos. “Embora a Amazônia esteja recebendo mais atenção em termos de visibilidade, no restante do Brasil e no mundo, é preciso reconhecer que há espaço para aprimoramentos, no jornalismo, sobre a região”, pontuou. “Profissionais nortistas e amazônidas se dedicam e se comprometem com a cobertura diária, que não é fácil, em prol da região, no entanto, outros jornalistas costumam receber mais reconhecimento e credibilidade quando abordam o tema Amazônia, muitas das vezes de maneira rasa e sem vivência”, lamentou.

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