08 de março de 2023
21:03
Mencius Melo – Da Revista Cenarium
MANAUS – Uma reunião de rostos, discursos, bandeiras, corpos e territórios, assim foi o ato político organizado pelos movimentos femininos e feministas de Manaus. O evento “Manifesto das Mulheres pela Democracia no Amazonas” aconteceu no Centro de Manaus, nesta quarta-feira, 8, e contou com mulheres e homens dos movimentos sociais indígenas, negros e mistos. A concentração teve início às 15h, na Praça da Saudade. De lá, as manifestantes saíram em marcha pelo centro da cidade, até o Largo São Sebastião, onde está localizado o centenário Teatro Amazonas.
Gritando palavras de ordem e dizendo “não” à violência contra a mulher, a passeata tomou as ruas do centro da cidade. Márcia Dias, uma das organizadoras do evento, declarou: “É emocionante estar aqui, de volta às ruas depois do Estado de morte que nos foi imposta. Hoje, nosso grito reúne toda essa nação: a nação indígena, a negra, branca, mulheres, as mulheres trans, os homens que estão em busca de um Estado que nos inclua, de verdade, sem largar a mão da democracia que nos une”, declarou.
Ativista jovem do movimento indígena, Samêla Sateré estava presente ao ato: “Enquanto mulheres indígenas, temos que demarcar esses espaços, porque são espaços de representatividade e de luta. E, por isso, temos que estar aqui. Falam sobre a cultura indígena, mas pouco se fala sobre a resistência da mulher indígena diante do processo violento de colonização que nós vivemos”, salientou. “O Brasil é terra indígena, o Amazonas é terra indígena e Manaus é terra indígena. Onde nós estamos agora (Praça da Saudade) é um cemitério indígena. Somos o Estado mais diverso do Brasil, com mais de 68 povos. Nós temos o sangue indígena”, afirmou.
Negras e brancas
Natural de São Paulo e atuando em Manaus como ativista ambiental, Ana Clis fez questão de estar no ato. Com sua pele negra e cabelos cacheados, ela falou: “Para mim, tem vários significados estar aqui. Primeiro, porque sou negra e vejo que estamos tomando, cada vez mais, espaços, e isso é importante porque nossa luta precisa ser comunicada. Temos que ir para a rua brigar por nossos direitos. Estar aqui é trazer visibilidade para as nossas lutas e corpos”, avaliou.
A ativista fez um balanço sobre os quatro anos de Governo Bolsonaro. “Estou aqui enquanto mulher negra fortalecendo a luta dos povos indígenas, aliada a pessoas brancas que apoiam a luta desses movimentos. Acredito que os últimos quatro anos nos uniram mais. A violência foi forte, mas não é de hoje. O Brasil tem um histórico extenso de violência contra os povos. Foi uma pena o que aconteceu nos últimos quatro anos, mas isso nos uniu mais”, avaliou. “Nossas lutas são sobre pessoas”, concluiu.
De olhos azuis e pele branca, a italiana Marguerita Genoveze também esteve presente ao ato. Com pintura indígena no rosto e um sorriso de aprovação, ela respondeu à CENARIUM. “É muito importante estar aqui e ter a consciência de ser mulher. Temos que despertar e mostrar a nossa força ao mundo, até porque as lutas de nós mulheres são as mesmas. Pode ser que seja diferente o jeito de lutar, mas as causas e os motivos são as mesmas, porque as mulheres no mundo são irmãs”, sintetizou.
Militância partidária
Representante do jovem partido de esquerda Unidade Popular (UP), a pedagoga Gabriela Valentim declarou que estar no ato é a garantia de resgate do processo histórico. “É necessário estar aqui para poder resgatar o processo histórico dos ataques que sofremos no passado e que permanecem nos dias de hoje, como vimos com o povo Yanomami. O passado e o presente estão cada vez mais interligados, e estar nas grandes capitais é importante, porque a repercussão ganha maior peso e, aí, podemos provocar debates em toda a sociedade”, destacou. “Hoje, é um dia de felicitar, mas também de lutar. Viva às mulheres!”, comemorou.