EDITORIAL – ‘Parque das Tribos’: quase 1 mil famílias indígenas em abandono, por Paula Litaiff

Imagem aérea do 'Parque das Tribos' (Suamy Beydoun)

07 de maio de 2024

13:05

A escolha de quem é “merecedor” de receber por aquilo que é de direito é um agravo à dignidade humana e o especial desta edição da REVISTA CENARIUM mostra como o Poder Público trata os povos originários urbanizados de Manaus, no Amazonas, naquele que é considerado o maior bairro indígena em consolidação do Brasil. O “Parque das Tribos”, um nome que traz consigo o estigma da colonização, é o retrato de uma pintura trágica de abandono a quase 1 mil famílias indígenas pertencentes a 35 etnias.

O princípio da dignidade humana reconhece o valor intrínseco de cada indivíduo e estabelece que todas as pessoas devem ser tratadas com respeito e igualdade, independentemente das diferenças sociais e territoriais. Esse princípio orienta a proteção dos direitos humanos e busca uma sociedade justa e inclusiva, segundo a Constituição Federal.

Em Manaus, quem mora no Parque das Tribos não recebe a mesma assistência em serviços básicos de infraestrutura de quem, por exemplo, vive no bairro Ponta Negra, considerado área nobre da capital amazonense. Um levantamento feito pela reportagem da CENARIUM junto à Secretaria Municipal de Infraestrutura de Manaus (Seminf) apontou que, nos últimos quatro anos, a Ponta Negra recebeu dez vezes mais obras do que o Parque das Tribos.

Gestores municipais de Manaus se omitem ao entendimento da legislação sobre os povos indígenas e somente os procuram quando há um interesse da parte deles, como, por exemplo, para a criação de conteúdos midiáticos, tal como ocorreu no mesmo Parque das Tribos quando, em fevereiro de 2024, ano eleitoral, o prefeito de Manaus e assessores foram ao local para fazer selfies com indígenas e lhes prometeram serviços de infraestrutura nas semanas seguintes, o que nunca aconteceu.

O indígena urbanizado, seja do Parque das Tribos ou de outros bairros brasileiros, não é menos indígena do que aquele que está nas aldeias. Ele é tão consciente dos seus direitos como qualquer outro cidadão, que sabe que paga impostos sobre tudo o que consome e tem a compreensão de que o Poder Público é obrigado a devolver esses gastos em serviços.

A professora e escritora indígena Eliane Potiguara, 73, autora de “Metade Cara, Metade Máscara” (2018) faz um paralelo sobre como atuavam os colonizadores de 1.500 e como atuam os colonizadores do século XXI inseridos na política. É Eliane também uma das intelectuais indígenas que mais trata, de forma simples e com esperança, o conceito de dignidade. “É a coisa mais bonita que temos dentro de nós mesmos, mesmo se ela está maltratada”.

O assunto foi tema de capa e especial jornalístico da nova edição da REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA do mês de abril de 2024. Acesse aqui para ler o conteúdo completo.

(Divulgação)
Assista à reportagem sobre o ‘Parque das Tribos’: