22 de janeiro de 2023
15:01
Ana Pastana – Da Agência Amazônia
MANAUS – Em junho de 2021, a REVISTA CENARIUM publicava, em sua versão impressa/digital, a capa “Genocídio Yanomami”, que tratava da invasão de garimpeiros ilegais que se agrava na região que compreende os Estados de Roraima e Amazonas, no Norte do País, paralela à omissão do governo federal para o avanço da Covid-19 nas comunidades dos povos originários.
No último dia 20 de janeiro, o site Sumaúma publicou que as mortes de crianças com menos de 5 anos por causas evitáveis aumentou 29% no território Yanomami e o número de mortes de meninos e meninas menores de 4 anos passava de 570. A reportagem não mostrou documentos sobre os dados e informou que os obteve por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).
Há décadas, o conflito entre indígenas e garimpeiros ilegais perdura em Roraima. Quando a lei federal proíbe a mineração em terra indígenas, Organizações Não Governamentais (ONGs) apontam para a permanência de 20 mil garimpeiros. O ex-vice-presidente Hamilton Mourão negou, no ano passado, essa estatística e fala em 3 mil garimpeiros.
A realidade é que a crise humanitária na Terra Indígena (TI) Yanomami é agravada pelo garimpo ilegal e pelas doenças. Há relatos de que os garimpeiros impedem os indígenas de atuarem mais amplamente na caça e, também, há informações de que a malária deixa os homens doentes, impedindo-os de procurarem comida.
A crise humanitária não foi priorizada no governo federal. Durante a gestão de Jair Bolsonaro, lideranças indígenas como Dario Kopenawa Yanomami, da Hutukara Associação Yanomami, foram até Brasília expor a situação e pedir a expulsão dos garimpeiros.
“Eles falavam há tempos sobre o cenário, mas não tinham os dados exatos. O acesso a essas informações estava difícil durante o Governo Bolsonaro“, afirma Priscilla Oliveira, pesquisadora e ativista da Survival International para a Agência DW.
Para Joênia Wapichana, que assumiu a liderança da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a situação do povo Yanomami, decretada como crise humanitária, ameaça a atual geração: “Requer ação urgente para evitar mais mortes, principalmente das crianças.“
Em visita a Roraima antes de um compromisso internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se comprometeu a retirar os garimpeiros da TI Yanomami e criticou seu antecessor, Bolsonaro.
“Se ele, ao invés de fazer tanta motociata, tivesse vergonha e viesse aqui uma vez, quem sabe esse povo não estivesse tão abandonado como está“, declarou em entrevista coletiva na capital Boa Vista.
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