Em Manaus, 41,8% da população está em situação de pobreza; número é o maior do Brasil

A maioria das casas em região periférica não possuem saneamento básico (Ricardo Oliveira/Agência Amzônia)

07 de outubro de 2022

15:10

Ívina Garcia – Da Agência Amazônia

MANAUS – Manaus, a metrópole Amazônica, berço da maior floresta tropical, e que já esteve entre as cidades mais ricas do País, ocupa agora a primeira posição no índice de pobreza. Com 41,8% da população em situação de miséria, ou seja, 1.098.957 milhão de pessoas, a capital do Amazonas ainda tem outras 11,1%, ou 290.549 pessoas, em situação de pobreza extrema.

O 9º Boletim Desigualdade nas Metrópoles analisa a estatística de desigualdade das 22 principais metrópoles do País e escâncara a pobreza vivida principalmente em cidades do Norte e Nordeste, onde os índices são preocupantes.

Em consonância com Manaus, outras metrópoles que aparecem no topo das desigualdades são: Grande São Luís (40,1%), Recife (39,7), João Pessoa (39,2%) e Macapá (38,3%), todas localizadas nas regiões Norte e Nordeste do País. Em contraponto a esses números, os índices das metrópoles com menor desigualdade ficam localizados na região Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil: São Paulo (17,8%), Distrito Federal (15,1%), Curitiba (13,1%), Porto Alegre (11,4%) e Florianópolis (9,9%).

Famílias buscam regularizar terra na Comunidade Nova Vida, na zona Norte de Manaus (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

As desigualdades vão para além da superficialidade, que seria comparar rendas de pessoas de bairros nobres aos de mais periféricos. A desigualdade também está representada pela falta de acesso das pessoas mais carentes a coisas básicas, que precisam enfrentar violência urbana, falta de condições melhores de moradia e do acesso e qualidade dos serviços públicos.

Moradores da Comunidade Nova Vida, localizada no bairro Nova Cidade, na Zona Norte de Manaus, relatam que para além dos problemas de saneamento básico e infraestrutura, o acesso à saúde também é negado. “A gente tem que andar até lá em cima, na ‘casinha’ [posto de saúde], e mesmo assim eles não querem atender a gente, porque dizem que não atendem gente daqui“, relata Hilela Garcia, que mora há três anos na comunidade e precisa se deslocar mais de 10 km para ter acesso a tratamento médico.

Muita dessas comunidades, frutos de invasões e ocupações de terra, representam o êxodo urbano que vem acontecendo na capital nos últimos anos. De acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), grande parte das pessoas que moram em Manaus estão concentradas em bairros mais ao Norte e Leste da capital.

A maioria das casas em região periférica não possuem saneamento básico (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Maior bairro de Manaus, Cidade Nova, localizado na zona Norte, possui 121.135 habitantes, em segundo lugar, o bairro Jorge Teixeira, na zona Leste, possui 112.879 habitantes. Na sequência tem o Novo Aleixo, com 96.611 habitantes.

Já no lado oposto da tabela, descartando os bairros industriais, aqueles que possuem menos densidade demográfica, estão localizados nas Zonas Oeste e Sul. Em primeiro lugar, o bairro Ponta Negra, considerado nobre, e possui 5.007 habitantes.

Em seguida, o bairro Puraquequara, localizado na Zona Leste, que possui 5.856 habitantes; logo após vem o Santa Luzia, na zona sul, que possui 6.503 mil habitantes e o Nossa Senhora da Aparecida, também na mesma zona, que possui 6.996 habitantes.

Cheia dos rios e lixo no igarapé do Educandos na cidade de Manaus – (Foto: Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Mestra em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia, Mirella Cristina Xavier Lauschner acredita que uma das questões que levaram a capital a esse índice é a falta de sintonia entre as políticas públicas que já existem.

Hoje, há vários programas e projetos que visam o combate à pobreza, porém, vivemos um problema histórico, o que dificulta a resposta relevante e realmente eficiente nesse processo. Vemos, atualmente, em Manaus, a população cada vez mais em busca de programas de distribuição de renda, como o Auxílio Brasil. Porém, esse programa não consegue retirar a população dessa situação de miserabilidade e de extrema pobreza que se encontram, havendo então a necessidade de políticas públicas que visem o fortalecimento da economia e da geração de emprego e renda“, explica Mirella.

Renda

A renda per capita, ou seja, a média obtida por meio da divisão dos ganhos totais de uma residência pelo número total de moradores, também tem diminuído na região metropolitana de Manaus. Em 2012, ano em que o boletim passou a ser realizado, a renda média era de R$1.327. O valor só diminuiu ao longo dos anos, tendo oscilações até chegar no menor índice, registrado em 2021, de R$967 per capita.

Entre os mais pobres em Manaus, a média de rendimentos, em 2021, chega a ser quase quatro vezes menor que a média geral dos habitantes do País, com R$245,60 para cada morador da residência. O valor, em 2012, era de R$319,70.

A renda per capita em Manaus é menor que em outras cidades do País (Ricardo Oliveira/Cenarium)

Para ter uma noção, no comparativo com metrópoles mais bem desenvolvidas e com baixa desigualdade, como em Florianópolis, os “mais pobres” vivem com R$761,4 por morador, ao mês. A média brasileira chegou a R$338,60, em 2021.

Mirella acredita que uma eficiente gestão, que una a qualificação profissional com os programas de assistência, mudaria o cenário atual. “Manaus tem tido vários editais para cursos de qualificação profissional, para a população se recolocar, ou se inserir no mercado de trabalho, porém, a gente sabe que o desemprego está cada vez mais latente e o mercado informal tem crescido“, ressalta.

É notório que precisa haver por parte do poder público um maior investimento na saúde, na educação, na assistência social, na habitação e na geração de emprego e renda para que a partir do fortalecimento dessas políticas públicas, o povo manauara ou as pessoas que residem em Manaus possam ser oportunizados a elas melhores condições de vida e assim a gente poder enfrentar esse processo“, afirma Mirella.

Economia

Manaus é sede do segundo maior Polo Industrial do País, o qual gera mais de 100 mil empregos diretos e cerca de 400 mil indiretos, e mesmo com isso a capital está entre os piores índices de desigualdade e pobreza.

“É paradoxal. Levando em cota a Zona Franca de Manaus e os empregos que ela gera, que com isso deveria ter uma dinamização da cidade e uma distribuição de renda melhor, ou um resultado da renda média melhor”, afirmou o economista Inaldo Seixas.

Segundo o IBGE, a taxa de informalidade foi 39,7% da população ocupada no trimestre de junho a agosto. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

De acordo com o especialista, os altos índices de desocupação e desemprego influenciam diretamente nos dados da pobreza. “Nós temos uma renda média do trabalhador amazonense e manauara muito baixa, isso está indicando que o País tem problemas de pobreza elevados, que recaem da ausência de políticas públicas tanto federais como estaduais e municipais“.

Partindo da premissa de que Manaus está entre os dez maiores PIBs do País e mesmo assim apresenta resultados sociais muito ruins, então isso é para se pensar sobre a gestão pública do estado“, para o especialista, é preciso foco no trabalho do Governo para decidir quais setores investir, que possam impactar diretamente na melhora dos índices de pobreza.

Veja Boletim completo: