07 de outubro de 2022
15:10
Ívina Garcia – Da Agência Amazônia
MANAUS – Manaus, a metrópole Amazônica, berço da maior floresta tropical, e que já esteve entre as cidades mais ricas do País, ocupa agora a primeira posição no índice de pobreza. Com 41,8% da população em situação de miséria, ou seja, 1.098.957 milhão de pessoas, a capital do Amazonas ainda tem outras 11,1%, ou 290.549 pessoas, em situação de pobreza extrema.
O 9º Boletim Desigualdade nas Metrópoles analisa a estatística de desigualdade das 22 principais metrópoles do País e escâncara a pobreza vivida principalmente em cidades do Norte e Nordeste, onde os índices são preocupantes.
Em consonância com Manaus, outras metrópoles que aparecem no topo das desigualdades são: Grande São Luís (40,1%), Recife (39,7), João Pessoa (39,2%) e Macapá (38,3%), todas localizadas nas regiões Norte e Nordeste do País. Em contraponto a esses números, os índices das metrópoles com menor desigualdade ficam localizados na região Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil: São Paulo (17,8%), Distrito Federal (15,1%), Curitiba (13,1%), Porto Alegre (11,4%) e Florianópolis (9,9%).
As desigualdades vão para além da superficialidade, que seria comparar rendas de pessoas de bairros nobres aos de mais periféricos. A desigualdade também está representada pela falta de acesso das pessoas mais carentes a coisas básicas, que precisam enfrentar violência urbana, falta de condições melhores de moradia e do acesso e qualidade dos serviços públicos.
Moradores da Comunidade Nova Vida, localizada no bairro Nova Cidade, na Zona Norte de Manaus, relatam que para além dos problemas de saneamento básico e infraestrutura, o acesso à saúde também é negado. “A gente tem que andar até lá em cima, na ‘casinha’ [posto de saúde], e mesmo assim eles não querem atender a gente, porque dizem que não atendem gente daqui“, relata Hilela Garcia, que mora há três anos na comunidade e precisa se deslocar mais de 10 km para ter acesso a tratamento médico.
Muita dessas comunidades, frutos de invasões e ocupações de terra, representam o êxodo urbano que vem acontecendo na capital nos últimos anos. De acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), grande parte das pessoas que moram em Manaus estão concentradas em bairros mais ao Norte e Leste da capital.
Maior bairro de Manaus, Cidade Nova, localizado na zona Norte, possui 121.135 habitantes, em segundo lugar, o bairro Jorge Teixeira, na zona Leste, possui 112.879 habitantes. Na sequência tem o Novo Aleixo, com 96.611 habitantes.
Já no lado oposto da tabela, descartando os bairros industriais, aqueles que possuem menos densidade demográfica, estão localizados nas Zonas Oeste e Sul. Em primeiro lugar, o bairro Ponta Negra, considerado nobre, e possui 5.007 habitantes.
Em seguida, o bairro Puraquequara, localizado na Zona Leste, que possui 5.856 habitantes; logo após vem o Santa Luzia, na zona sul, que possui 6.503 mil habitantes e o Nossa Senhora da Aparecida, também na mesma zona, que possui 6.996 habitantes.
Mestra em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia, Mirella Cristina Xavier Lauschner acredita que uma das questões que levaram a capital a esse índice é a falta de sintonia entre as políticas públicas que já existem.
“Hoje, há vários programas e projetos que visam o combate à pobreza, porém, vivemos um problema histórico, o que dificulta a resposta relevante e realmente eficiente nesse processo. Vemos, atualmente, em Manaus, a população cada vez mais em busca de programas de distribuição de renda, como o Auxílio Brasil. Porém, esse programa não consegue retirar a população dessa situação de miserabilidade e de extrema pobreza que se encontram, havendo então a necessidade de políticas públicas que visem o fortalecimento da economia e da geração de emprego e renda“, explica Mirella.
Renda
A renda per capita, ou seja, a média obtida por meio da divisão dos ganhos totais de uma residência pelo número total de moradores, também tem diminuído na região metropolitana de Manaus. Em 2012, ano em que o boletim passou a ser realizado, a renda média era de R$1.327. O valor só diminuiu ao longo dos anos, tendo oscilações até chegar no menor índice, registrado em 2021, de R$967 per capita.
Entre os mais pobres em Manaus, a média de rendimentos, em 2021, chega a ser quase quatro vezes menor que a média geral dos habitantes do País, com R$245,60 para cada morador da residência. O valor, em 2012, era de R$319,70.
Para ter uma noção, no comparativo com metrópoles mais bem desenvolvidas e com baixa desigualdade, como em Florianópolis, os “mais pobres” vivem com R$761,4 por morador, ao mês. A média brasileira chegou a R$338,60, em 2021.
Mirella acredita que uma eficiente gestão, que una a qualificação profissional com os programas de assistência, mudaria o cenário atual. “Manaus tem tido vários editais para cursos de qualificação profissional, para a população se recolocar, ou se inserir no mercado de trabalho, porém, a gente sabe que o desemprego está cada vez mais latente e o mercado informal tem crescido“, ressalta.
“É notório que precisa haver por parte do poder público um maior investimento na saúde, na educação, na assistência social, na habitação e na geração de emprego e renda para que a partir do fortalecimento dessas políticas públicas, o povo manauara ou as pessoas que residem em Manaus possam ser oportunizados a elas melhores condições de vida e assim a gente poder enfrentar esse processo“, afirma Mirella.
Economia
Manaus é sede do segundo maior Polo Industrial do País, o qual gera mais de 100 mil empregos diretos e cerca de 400 mil indiretos, e mesmo com isso a capital está entre os piores índices de desigualdade e pobreza.
“É paradoxal. Levando em cota a Zona Franca de Manaus e os empregos que ela gera, que com isso deveria ter uma dinamização da cidade e uma distribuição de renda melhor, ou um resultado da renda média melhor”, afirmou o economista Inaldo Seixas.
De acordo com o especialista, os altos índices de desocupação e desemprego influenciam diretamente nos dados da pobreza. “Nós temos uma renda média do trabalhador amazonense e manauara muito baixa, isso está indicando que o País tem problemas de pobreza elevados, que recaem da ausência de políticas públicas tanto federais como estaduais e municipais“.
“Partindo da premissa de que Manaus está entre os dez maiores PIBs do País e mesmo assim apresenta resultados sociais muito ruins, então isso é para se pensar sobre a gestão pública do estado“, para o especialista, é preciso foco no trabalho do Governo para decidir quais setores investir, que possam impactar diretamente na melhora dos índices de pobreza.