Empresa que opera Festival de Parintins pode ter direcionado ingressos a cambistas, suspeita MP

Os bois-bumbás Caprichoso e Garantido são os protagonistas da disputa no Festival Folclórico de Parintins (Reprodução/Internet)

09 de junho de 2023

14:06

Adrisa De Góes – Da Agência Amazônia

MANAUS (AM) – O Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM) instaurou uma investigação para apurar o direcionamento de ingressos do Festival Folclórico de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus) a cambistas. O alvo da investigação é a empresa Amazon Best, responsável por comercializar passaportes que dão acesso à disputa dos bumbás Caprichoso e Garantido na 56ª edição do evento, que ocorrerá nos dias 30 de junho, 1º e 2 de julho.

Essa é a segunda vez, em menos de um ano, que o Ministério Público investiga agentes ligados ao Festival de Parintins por irregularidades no festival. Em novembro do ano passado, o MP-AM instaurou inquérito civil para apurar ilicitudes na gestão do Boi Bumbá Garantido. Até o fechamento desta matéria, não informações sobre o resultado desta investigação.

Extrato de Promotoria que detalha a instauração da investigação (Reprodução)

A investigação do Ministério Público contra a Amazon Best ocorre quatro meses após a REVISTA CENARIUM publicar um conteúdo sobre as ligações suspeitas da empresa com a Prefeitura de Parintins. A Amazon Best tem entre os sócios Geyna Brelaz, cunhada do prefeito de Parintins, Bi Garcia (União), e possui o monopólio da venda dos ingressos do festival.

O novo Procedimento Preparatório que instaura a investigação é de 30 de maio deste ano e tem como objeto de investigação a “apuração de eventual prática abusiva ou enganosa com a venda de ingressos em desigualdade de condições ao público em geral para a venda a cambistas” e o investigado é a Amazon Best.

Cambista – em caso de eventos – é aquele que compra o ingresso direto da empresa responsável pela organização e revende em preços mais caros ao consumidor final. A priorização do cambista ocorre, principalmente, quando ele é beneficiado com informações exclusivas sobre data, hora e número de ingressos disponibilizadas nos sites de vendas ou presencialmente.

Comercialização confusa

Em janeiro deste ano, o início da venda de ingressos para o 56° Festival Folclórico de Parintins foi marcado por desentendimentos, confusão e desinformação para os consumidores finais. O processo de comercialização dos ingressos precisou contar com a intervenção de agentes do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-AM) e da Polícia Militar do Amazonas (PM-AM).

Equipe do Procon-AM, na sede da Amazon Best, em vistoria que suspendeu a venda de ingressos (Reprodução/Internet)

Os consumidores relatavam instabilidade no sistema on-line de compra dos passaportes, o que fez os agentes de fiscalização fossem até a sede da Amazon Best, na Rua Nova Prata, N° 225, Conjunto Vieiralves, bairro Nossa Senhora das Graças, para tentar garantir a lisura no processo.

“Lotado, maior confusão, e informaram que estava tendo duplicidade dos lugares, nas vendas no site e físico”, desabafou o advogado José Maria Monteiro, à época. “O cliente comprava uma cadeira no site e outra pessoa que estava na loja física também podia comprar o mesmo assento, ou seja, duplicidade de vendas com um enorme erro no sistema”, descreveu o compositor João Medeiros.

Na ocasião, a Amazon Best informou, por meio de nota, que “problemas técnicos no sistema de bilhetagem colocaram o site no ar antes da programação, o que gerou inconsistência em algumas informações”. As vendas ficaram, temporariamente, suspensas pelo Procon-AM.

Leia mais: Procon-AM suspende vendas de ingressos para Festival de Parintins 2023 após falha no sistema da Amazon Best

A REVISTA CENARIUM entrou em contato com a Amazon Best para buscar o posicionamento da empresa sobre a nova investigação do Ministério Público. Até o fechamento deste material, a empresa não havia respondido.

Ligações suspeitas

A Amazon Best tem entre os sócios Geyna Brelaz, cunhada do prefeito de Parintins, Bi Garcia (União), que possui o monopólio da venda dos ingressos do Festival Folclórico dos Bois-Bumbás Caprichoso e Garantido e deveria faturar, com a venda direta, mais de R$ 5 milhões nos três dias do evento, neste ano, com valores que equivalem a um salário mínimo (R$ 1.302). 

Patrimônio Cultural Imaterial do Amazonas, o Festival de Parintins torna-se inacessível para a maioria das famílias, considerando que a média da renda familiar brasileira é de R$ 1.353 mensais, conforme a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

O contrato de exclusividade da Amazon Best para venda dos passaportes para o festival não está aberto à sociedade. A reportagem da REVISTA CENARIUM apurou que o contrato de monopólio da Amazon Best é fechado diretamente com os presidentes dos bois Caprichoso e Garantido. Os dirigentes não se manifestaram sobre o assunto.

Dados da Receita Federal apontam a cunhada de Bi Garcia como uma das sócias da Amazon Best (Reprodução)

Faturamento obscuro

Sem mostrar critérios de composição de preço e como foi beneficiada com os lugares, a Amazon Best disponibilizou um mapa de comercialização de espaços para três dias do festival no Bumbódromo. Foram colocados à venda 4.492 espaços, além dos 50 camarotes que a empresa não dá transparência para comercialização. O Bumbódromo tem capacidade para 35 mil pessoas, dos quais quase 20 mil espaços são destinados à venda.

Valores dos ingressos para as arquibancadas e cadeiras tipo 1 e 2 (Thiago Alencar/CENARIUM)

Na divisão do mapa da Amazon Best, há 3.306 passaportes para a “arquibancada especial” ao preço unitário de R$ 1.145, que totalizam o faturamento de R$ 3.785.370; 592 passaportes para a “arquibancada central”, com o valor de R$ 1.495, que somam R$ 885.040; 282 ingressos para a “cadeira tipo 2”, com o preço de R$ 980, que contabilizam R$ 276.360.

Já 312 passaportes para a “cadeira tipo 1” possuem o valor unitário de R$ 1.180 que, juntos, fazem R$ 368.160. Se todos os ingressos forem vendidos – como ocorre todo o ano – a Amazon Best fatura um total de R$ 5.314.930. A situação dos outros 15.508 lugares do Bumbódromo não foi explicada pela empresa nem pela Prefeitura de Parintins.