Entenda cronologia da morte de criança e mãe indígenas no interior do Amazonas

Vista aérea do Benjamin Constant (Reprodução/Prefeitura municipal)

05 de fevereiro de 2024

20:02

Ricardo Chaves – Da Agência Cenarium

MANAUS (AM) – A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) prendeu dois homens por envolvimento nas mortes de uma criança e mãe indígena de nacionalidade colombiana. O caso ocorreu no último sábado, 27, na comunidade Porto Ribeirinho, em Benjamin Constant, a 1.119 km da capital Manaus.

Os autores do crime seriam tio e cunhado das vítimas. O tio irá responder por estupro qualificado e tentativa de homicídio, enquanto o outro indivíduo será acusado de homicídio qualificado por motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima.

O que aconteceu?

No dia 28 de janeiro, domingo, o cacique Robson da comunidade Filadélfia chamou a Secretaria Municipal de Segurança Pública, Trânsito e Defesa Social (Semsep) de Tabatinga, relatando que um comunitário teria encontrado uma criança de 7 anos em uma área de mata da localidade. A criança apresentava ferimento profundo no pescoço e inchaço no lado esquerdo do rosto.

O secretário da pasta, Thiago Felix, instruiu que a criança fosse levada ao hospital. Logo, foram acionados o Conselho Tutelar, Polícia Civil e Polícia Militar. A criança tinha dificuldade na verbalização e estava debilitada. Conforme explicou a delegada Luciana Lima Nasser, titular da unidade policial de Benjamin Constant, uma escuta especializada foi feita na presença de um psicólogo para apurar a situação.

Thiago Felix, secretário municipal de Segurança Pública, Trânsito e Defesa Social de Tabatinga (Reprodução/Semsep)

Ela relatou, da maneira que pôde, o que teria acontecido e informou a possível autoria do crime. A partir daí, começamos a trabalhar para identificar os responsáveis. Foi solicitado exame de conjunção carnal, que apontou que a vítima teria sido abusada sexualmente”, explicou a delegada.

A criança informou que estava coletando Mari, um fruto de origem amazônica, junto com seu irmão de 4 anos, e que sua mãe estava na residência.

Como os corpos foram encontrados?

Na tentativa de localizar os familiares da criança, a força-tarefa identificou uma tia da vítima, que informou que a mãe residia no “Centro”, nome dado à área da roça dos comunitários.

Força-tarefa montada em Benjamin Constant para encontrar mãe e filho desaparecidos (Reprodução/Semsep)

A equipe, composta por agentes da Defesa Civil, Guarda Municipal e policiais da 51ª Delegacia de Polícia Civil, buscou localizar a mãe e o irmão da vítima. Ao chegar à residência, foi constatado que a família não estava presente. A partir daí, as buscas foram intensificadas, já que a mãe e o filho foram considerados desaparecidos.

No dia 29, entre as aldeias Tikuna de Porto Cordeirinho e Filadélfia, dois corpos foram encontrados. A força-tarefa logo identificou que se tratava da mulher e da criança desaparecidos. Ambos estavam a uma distância em caminhada de duas horas. Eles foram encontrados com sinais de disparos de arma de fogo.

Agentes realizam trajeto em busca de mãe e filho mortos em Benjamin Constant (Reprodução/Semsep)
Identificação dos suspeitos e quem são?

Após encontrar os corpos, iniciou-se o trabalho de investigação de suspeitos. A força-tarefa conjunta entre a Polícia Civil, Guarda Civil Municipal e o apoio da Polícia Militar conduziu dez pessoas para a 51ª Delegacia de Polícia Civil. Esses indivíduos incluíam suspeitos e testemunhas.

No dia 30 de janeiro, a PC-AM prendeu um homem de 36 anos por envolvimento nas mortes da mãe e do filho indígenas. O preso seria cunhado da mulher e confessou participação no crime. Conforme revelou a CENARIUM, o suspeito teria acusado a participação de outro indivíduo no crime.

Em depoimento, ele apontou a participação de mais um indivíduo e disse que estariam sob efeito de bebida alcoólica no momento em que o crime aconteceu, em uma casa na roça. Ele contou que sabia que a mãe e os dois filhos estavam sozinhos na residência e foram ao local para cometer os crimes”, explicou a delegada Luciana Lima Nasser.

Equipe policial da 51ª Delegacia Interativa de Polícia (DIP) de Benjamin Constant. (Reprodução/PC-AM)


Segundo a delegada, o peruano confessou que teria sido o autor do estupro qualificado contra a própria sobrinha e alegou, ainda, que teria furado o pescoço da vítima com uma faca.

“Devido ao tiro que a mãe levou, o menino se assustou e fugiu do local, sendo perseguido e morto em seguida. A mãe das crianças foi morta com uma espingarda e, também, foi vítima de estupro”, explicou.

Ainda conforme a titular, o peruano, além de ter violentado a menina de 7 anos, deu chutes no rosto dela, quebrou o seu maxilar e fez com que ela perdesse vários dentes.

“A criança terá, inclusive, que fazer uma cirurgia para operar o maxilar. Os dois indivíduos foram autuados em flagrante e também representamos pelas prisões preventivas deles”, falou.

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Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Gustavo Gilona