Escassez de açaí no Pará eleva preços durante entressafra

O fruto do açaizeiro é típico da Região Amazônica (Photo by Saidis/Pexels)

20 de fevereiro de 2024

12:02

Yuri Siqueira – Da Agência Cenarium

BELÉM (PA) – A entressafra do açaí no Pará impõe desafios tanto para os produtores quanto para os consumidores, com preços elevados devido à escassez da fruta típica da região amazônica. Nesse período, nos primeiros meses do ano, quando ocorre o chamado inverno amazônico, a produção da fruta diminui consideravelmente por motivos climáticos.

As chuvas intensas e a menor incidência de luz solar durante esse período reduzem a quantidade e a qualidade dos frutos, resultando em uma oferta limitada no mercado.

De acordo com a Engenheira Florestal Juliana Barros, existem diversas razões que fazem o preço do açaí subir na entressafra, sendo as principais: oferta limitada; demanda constante ou crescente; custos de produção e logística; e a especulação de mercado.

Engenheira florestal, Juliana Barros (Arquivo Pessoal)

“Durante a entressafra, a oferta do açaí costuma diminuir significativamente devido às condições climáticas desfavoráveis. Além disso, os custos de produção e logística podem aumentar devido à necessidade de importar açaí de regiões onde a produção ainda é viável. Isso pode incluir custos adicionais de transporte e armazenamento. Em alguns casos, os preços do açaí durante a entressafra também podem ser influenciados por especulações de mercado, onde os produtores e distribuidores podem ajustar os preços para refletir a oferta limitada e maximizar os lucros”, comentou a engenheira.

Com a diminuição da oferta e a crescente demanda pelo açaí, os preços estão em alta, impactando diretamente os consumidores. Muitas famílias na região amazônica dependem do açaí como fonte de alimento e renda, tornando o aumento de preço uma preocupação significativa. Para o economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia dos Estados do Pará e Amapá, Nélio Bordalo Filho, o aumento do preço do açaí no período da entressafra tem impactos significativos na economia agrícola local do Pará.

“Os coletores de açaí nativo, que dependem da venda do açaí nos municípios produtores, enfrentam dificuldades devido à redução da oferta e ao aumento dos custos de produção, o que afeta aspectos de seu rendimento e sustentabilidade financeira. Além disso, a escassez do produto pode levar à diminuição da atividade econômica em regiões dependentes da produção de açaí, contribuindo para um cenário de desaceleração econômica em áreas rurais”, afirmou.

Nélio Bordalo, economista. (Arquivo Pessoal)

Nélio explica que os coletores de açaí são os responsáveis por subir nas palmeiras e recolher os frutos. Depois disso, os cachos são debulhados e encaminhados para a indústria ou vendidos localmente para atravessadores que transportam o fruto para vender. De acordo com o economista, o período de entressafra é prejudicial tanto para os consumidores quanto para os batedores, e de todo o processo de coleta até chegar à mesa do paraense, quem mais lucra são os atravessadores de açaí.

“Quem faz a coleta recebe parte desse aumento de preço. A maior parte do lucro é dos atravessadores, que ainda estabelecem o preço de venda aos batedores. Para os coletores, não é interessante esse período, pois mesmo com alto preço para o consumidor final, quem coleta não ganha muito. Para os consumidores, eles reduzem drasticamente a compra do açaí batido em função dos preços praticados pelos batedores na ponta final da logística do açaí”, reiterou.

Em muitos pontos de venda, na região metropolitana de Belém, o litro do açaí mais em conta e mais fino não sai por menos de R$ 20. Já em outros estabelecimentos, sequer abrem neste período, e os proprietários buscam estratégias para se sustentar.

Fábio Cardoso é proprietário de um ponto de venda de açaí em Icoaraci, distrito de Belém. Ele comenta que, devido à entressafra e ao aumento na exportação do açaí, os batedores estão sofrendo com a falta do fruto e o aumento dos preços.

“As vendas caíram 50%. Muitos dos nossos clientes não têm condições de acompanhar a alta do preço, então fomos obrigados a diminuir o processamento. A estratégia que estamos usando é que temos que trabalhar intercaladamente, não sendo possível trabalhar todos os dias”, relatou Fábio.

Ponto de venda de açaí do proprietário Fábio Cardoso (Arquivo Pessoal)

A escalada dos preços do açaí durante a entressafra continua sendo um desafio para os produtores, consumidores e vendedores do fruto no Pará. A busca por soluções sustentáveis e equitativas permanece como uma prioridade para as partes envolvidas, buscando garantir o acesso a esse alimento tradicional da Amazônia. 

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Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Gustavo Gilona