ESPECIAL Custo Devastação – Amazônia cobra a fatura

Em 2020, desmatamento da Amazônia atingiu 11 mil quilômetros quadrados, batendo recorde de 2008. Em 2021, a devastação vem registrando marcas históricas consecutivas, mês a mês (Ricardo Oliveira/Cenarium)

19 de julho de 2021

09:07

Marcela Leiros – Da Cenarium

MANAUS – Os impactos da devastação da Floresta Amazônica vão muito além dos danos ambientais. Com a destruição das matas perde-se riqueza natural, mas também muito dinheiro. O constante e crescente desmatamento na Amazônia Legal Brasileira poderá gerar perdas de receita de US$ 5,6 bilhões para o mercado da soja e US$ 180,8 bilhões para a produção de carne bovina na região, até 2050. Em reais, nos valores atuais, o montante das perdas econômicas chegaria a R$ 27 bilhões e R$ 888 bilhões, respectivamente. Os números resultam de um estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que indicam que a destruição da Amazônia gera uma reação em cadeia que afeta todo o País e o planeta.

Os dados constam no estudo “Desmatamento reduz chuvas e receita agrícola na Amazônia brasileira”, na tradução em português, publicado, em maio deste ano, por pesquisadores da UFMG no periódico científico Nature Communications. Considerando o desmatamento em toda a Amazônia, as perdas financeiras se tornam ainda maiores, já que o estudo considerou apenas o desmatamento no sul da região, onde a devastação é mais intensa.

A perda dos valores econômicos na região é causada, principalmente, pelas mudanças climáticas que desregularizam o ciclo das chuvas. Este ciclo é regulado pela floresta tropical.

Em 2020, o desmatamento anual da Amazônia Brasileira atingiu 11 mil quilômetros quadrados, índice que bateu recorde de 2008, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Apenas neste ano, os meses de março, abril e maio alcançaram os três maiores recordes de desmatamento da última década, acendendo alertas para o descontrole na fiscalização e combate ao desflorestamento na região.

Apesar de 2050 estar ainda relativamente distante, os impactos econômicos já são sentidos em uma microperspectiva. Neste ano, produtores do Mato Grosso já registraram prejuízos na safra do milho, a cheia dos rios no Amazonas causou impactos e perdas na agricultura do Estado e o crescimento da preocupação com uma crise hídrica no País, ocasionada pela estiagem, já mobiliza o governo federal que vislumbra, em um futuro muito próximo, a necessidade de racionamento de energia elétrica.

As crises na agricultura e na geração de energia elétrica, assim como a ameaça de mercados internacionais deixarem de investir capital no mercado brasileiro são causadas pela falta de controle do governo federal e, até mesmo, devido a uma “política antiambiental”, apontam especialistas. “A falta de política ambiental ou pior, a política antiambiental do governo, contribui para esta crise”, afirma o biólogo do Greenpeace Rômulo Batista.

“A falta de política ambiental ou pior, a política antiambiental do governo contribui para esta crise”, Rômulo Batista, biólogo do Greenpeace.

Biólogo do Greenpeace, Rômulo Batista (Divulgação Greenpeace)

Essa política antiambiental é pontuada por ações do agora ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles – que pediu demissão no último dia 23 de junho – como a redução de investimento em órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Também há projetos de lei e medidas provisórias que tramitam na Câmara dos Deputados e no Senado, que, se aprovadas, contribuirão para que atividades ilegais como a grilagem de terras sejam regularizadas.

Essa “bola de problemas” cai nas mãos dos Estados da Amazônia Legal Brasileira. São eles que arcam com prejuízos como as grandes queimadas, geradas a partir do desmatamento e que causam prejuízos milionários aos governos estaduais, que precisam investir mais dinheiro e esforços em fiscalização e monitoramento.

A economia não é independente da floresta e, há muito tempo, pesquisadores e governantes têm indicado que, cada vez mais, as duas vertentes devem caminhar juntas, pois só assim será possível vislumbrar mais claro no horizonte um futuro econômico sustentável para a Amazônia. É o que apresenta a REVISTA CENARIUM nesta reportagem.