Estiagem e altas temperaturas impactam turismo no Amazonas

Estiagem no Lago do Aleixo, em Manaus. (27.set.23 - Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)

27 de setembro de 2023

13:09

Marcela Leiros – Da Agência Amazônia

MANAUS – A estiagem neste período no Amazonas e as altas temperaturas registradas nas últimas semanas preocupam o setor de turismo no Estado, e não há muitas razões para se comemorar o Dia Mundial do Turismo, celebrado nesta quarta-feira, 27. Segundo relatos feitos à AGÊNCIA AMAZÔNIA, tanto por proprietários de agências quanto por turistas, os dois fatores podem contribuir para afugentar os visitantes.

Com previsão de ser severa, a seca no Estado deixa em alerta até mesmo o poder público. Nessa terça-feira, 26, ministros do Governo Lula e o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), anunciaram medidas para combater a seca, como a criação de uma força-tarefa para reforçar as ações realizadas para apoiar as 111 mil pessoas afetadas na região.

Quanto à temperatura, Manaus, capital do Estado, registrou o dia mais quente do ano neste mês. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), no dia 2 de setembro, os termômetros da capital amazonense chegaram a 37,8 °C. Já a sensação térmica ficou em 43 °C.

Termômetro mostra temperatura em Manaus, capital do Amazonas. (24.ago.23 – Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)

O empresário Olímpio Carneiro, proprietário da agência de viagens que leva o seu nome, atribui à seca “atípica” dos rios deste ano a queda de 70% na movimentação de turistas. Ele afirma que, com mais esse desafio, é necessário se reinventar e oferecer outras opções para os clientes.

Com esta estiagem e este calor, os turistas somem. Todos os anos isso acontece [a seca], mas este ano está atípico. Com a seca normal, a queda é 50%, e este ano já está em 70%“, afirma ele, que tem como carro-chefe o roteiro de safári amazônico. “Precisamos nos reinventar, fazendo outros roteiros de praias, cachoeiras, etc. Na seca, levamos nossos clientes a Anavilhanas, Novo Airão e hotéis de selva“.

Estiagem no Lago do Aleixo, em Manaus. (26.set.23 – Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)
Impacto na experiência

A guia de turismo e influenciadora Márcia Rebeca, que produz conteúdos digitais sobre viagens na Amazônia, falou à reportagem, como vem sentindo os impactos da estiagem neste ano. No sábado, 22, ela foi de barco à Aldeia Inhambé, no entorno de Manaus, e no dia seguinte já não conseguiu fazer o mesmo trajeto de embarcação.

Para ir para comunidades indígenas subindo o Rio Negro, que têm apelo turístico mais forte, que fazem imersão, danças, apresentações, os barcos não estão chegando tão perto, as pessoas precisam dar uma longa caminhada, e aí o calor prejudica ainda mais o passeio, fica mais desgastante, principalmente por conta do calor, e quem vem para cá para fazer turismo não está habituado a esse calor todo“, explica ela.

A guia de turismo e influenciadora Márcia Rebeca. (Reprodução/Instagram)

Tem uns percursos mais longos que a gente precisa fazer, na região do Janauari, no Iranduba, por exemplo, onde tem um polo turístico bem forte, que tem trilhas e lagos, e os flutuantes-restaurantes que estão lá já estão sendo levados para dentro do rio, saindo dos afluentes e da parte do lago, o que já prejudica, porque é pelos restaurantes-flutuantes próximos às margens que se fazem as trilhas suspensas para ir para Sumaúma, para o Lago das Vitórias-Régias, e se os flutuantes não estão nessas entradas, o passeio fica comprometido“, conclui ela.

Outros fatores

O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) no Amazonas, Jaime Mendonça, reforça que a estiagem prejudica a navegabilidade de embarcações, e que os associados precisam achar alternativas para agradar o turista.

Essa estiagem é a época que a gente chama de alta temporada, que mais vem viajante ao Amazonas. Então, como esse ano a seca foi muito forte, isso impacta no acesso dos destinos turísticos, dos atrativos, na navegabilidade dos barcos. Tudo isso impacta com essa seca, fora as altas temperaturas, que está acontecendo aqui, em vários lugares do mundo, não é um grande problema, mas impacta também“, explica.

Mendonça fala, ainda, que além dos dois fatores já mencionados, outros influenciam na experiência de turistas no Amazonas. Ele cita a reforma do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes e o desabamento das duas pontes na rodovia BR-319.

O fluxo não caiu em função disso, teve alguns outros pormenores, como a reforma do aeroporto, que deu algum impacto para o pessoal da pesca, mas a gente entende que é um momento que precisa ser vivido, mas que poderia ter sido melhor planejado“, afirma ele.

Desabamento de ponte na BR-319; estrutura ficava sobre o Rio Curuçá. (14.out.22 – Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)

E tem a questão do pessoal que está em Autazes e no Careiro [cidades do interior do Amazonas], que é a BR-319, que caiu as pontes e até hoje não foram recuperadas. Isso atrapalha muito na acessibilidade para esses destinos. São muitas coisas, fora o que acontece com a seca, que é o ‘mínimo’, porque isso você adapta“, finaliza ele.

Edição por Eduardo Figueiredo

Revisão por Gustavo Gilona