Estudo estima que queda no desmatamento da Amazônia resultou em baixa de 8% em emissões de gases do efeito estufa

Brasil tem baixa de 8% nas emissões de gases do efeito estufa em 2022, diz Observatório do Clima (Reprodução/Greenpeace)

23 de novembro de 2023

23:11

Mayara Subtil – Da Agência Cenarium Amazônia

BRASÍLIA (DF) – O lançamento de gases na atmosfera recuou 8% (2,3 bilhões de toneladas brutas) em 2022, se comparado a registros do ano anterior. A causa principal da redução de emissões está ligada à queda nos índices de desmatamento na Amazônia, principal responsável pelas emissões de gases do efeito estufa, no Brasil, ao lado das queimadas, bem como em chuvas torrenciais que resultaram na redução recorde do acionamento de termelétricas fósseis.

É o que diz o relatório do Observatório do Clima, baseado em dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), divulgado nesta quinta-feira, 23. Essa é a 11ª edição do estudo, publicado às vésperas da próxima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP28, em Dubai, a partir de 30 de novembro.

Mesmo com a alta no Cerrado, a diminuição na Amazônia [cuja taxa de desmatamento medida pelo sistema Prodes, do Inpe, caiu 11%, de 13.038 km² para 11.594 km²] puxou o setor para baixo“, cita a pesquisa.

Apesar da redução creditada à Amazônia, o estudo menciona que “as mudanças de uso da terra, que incluem a devastação de todos os biomas brasileiros, responderam por 1,12 bilhão de toneladas brutas de gás carbônico equivalente ou 48% do total nacional“.

Área desmatada na Amazônia (Kathas Fotos/Pixabay)

O desmatamento na Amazônia, infelizmente, ainda é o botão de volume das emissões de gases de efeito estufa do Brasil. O novo governo tem agido para reduzir esse volume, o que tem surtido efeito na Amazônia, mas vai ser preciso continuar esse esforço de comando e controle e políticas de incentivo à economia sustentável para levá-lo a zero“, disse Bárbara Zimbres, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Conforme a análise, a alta nas emissões de gases de efeito estufa nos últimos quatro anos impôs ao Brasil o cumprimento da meta fixada no Acordo de Paris, assinado na COP21 em 2015. Quase todos os países do mundo são signatários do acordo, com exceção de alguns como Irã, Líbia, Iêmen e Eritreia. O objetivo principal é manter o aquecimento global do planeta abaixo de 2°C até o final do século e mover esforços para limitar essa alta em até 1.5°C.

Para sair do campo da promessa e chegar ao resultado esperado, é necessário que o Brasil reduza em 49% as taxas de emissões advindas da perda florestal na Amazônia dentro de dois anos. Tal objetivo é equivalente à média mais baixa de devastação já atestada no País entre 2009 e 2012.

Mas se o País cumprir a meta anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de zerar o desmate até 2030, o País atingirá com folga o compromisso feito no Acordo de Paris. Em setembro, o Poder Executivo anunciou a retomada da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) assumida, originalmente, pelo Brasil, de reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 48% até 2025 e em 53% até 2030.

A meta havia sido alterada na gestão de Jair Bolsonaro (PL), que flexibilizava a proposta. O ato ficou conhecido como “pedalada climática”, pois, na versão do governo anterior, o Brasil deveria cortar as emissões em 37%, até 2025, e 50% até 2030.

Parâmetro nacional

Entre 2019 e 2022, conforme o estudo, o Brasil emitiu 9,4 bilhões de toneladas brutas de gases do efeito estufa, retornando aos patamares observados entre os anos 1990 e início dos anos 2000. O País ainda aparece em sexto lugar no ranking mundial de maiores países poluidores climáticos. É responsável por 3% das emissões globais de gases. O País ficou atrás dos EUA, Rússia, China, Indonésia e Índia.

A agropecuária brasileira é a segunda área que mais emitiu gases de efeito estufa ano passado. No total, 617 toneladas de gás carbônico foram disparadas na atmosfera, o equivalente a 27% das emissões totais do País.

Setor da agropecuária foi o que mais emitiu gases de efeito estufa na atmosfera, diz estudo do Observatório do Clima (Divulgação)

Nos outros setores, o de energia emitiu 412 toneladas de CO2, ou seja, queda de 5% em meio ao ano em que as termelétricas diminuíram as atividades em razão das cheias dos rios. Na sequência, aparem os setores de resíduos sólidos e processos industriais. São responsáveis por 91 e 78 milhões de toneladas em emissões de gases, respectivamente.

Já entre os Estados, o Mato Grosso foi o campeão em emissões de gases de efeito estufa no ano passado. De acordo com os dados, a região corresponde a 17,3% das emissões do País. O Pará aparece na sequência, concentrando 15,6% do total. No caso de Mato Grosso e do Pará, a principal causa da alta nas emissões foi o desmatamento.

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Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga