Ex-ministro da Justiça tentou impedir eleitores de votarem, afirma colunista

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, durante entrevista coletiva sobre a Operação Eleições 2022 no segundo turno. (Marcelo Camargo/ Agência Brasil)

02 de abril de 2023

16:04

Marcela Leiros – Da Agência Amazônia*

MANAUS – A investigação da Polícia Federal (PF) acerca do envolvimento do ex-ministro da Justiça do Governo de Jair Bolsonaro (PL) Anderson Torres em um golpe de Estado ganhou mais um novo capítulo, de acordo com o colunista da Folha de S. Paulo Lauro Jardim. Isso porque a PF descobriu, segundo o jornalista, que o então ministério de Torres mapeou os locais onde Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi mais votado no 1º turno das eleições no ano passado e usou as informações para atrapalhar a chegada dos eleitores aos locais de votação nestas regiões.

Conforme a coluna de Lauro Jardim noticiou neste domingo, 2, o documento, um “boletim de inteligência”, foi produzido em outubro pela então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar, uma delegada que, posteriormente, foi trabalhar com Anderson Torres na Secretaria de Segurança do Distrito Federal (DF).

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Anderson Torres e Jair Bolsonaro em evento em Brasília (27.jun.2022 – Evaristo Sá/AFP)

Para os investigadores, o material serviu para que Anderson botasse de pé a tentativa de atrapalhar a chegada dos eleitores aos locais de votação nestas regiões, com a célebre operação feita pela PRF, no dia 30 de outubro“, afirma Jardim, acrescentando que Marília ainda tentou apagar o documento do seu celular, mas a PF recuperou parte do material.

A investigação também descobriu uma viagem fora de agenda de Anderson Torres à Bahia, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), dias antes do segundo turno. De acordo com Jardim, o ex-ministro viajou acompanhado do então diretor da PF, Marcio Nunes, para pressionar o superintendente regional no Estado, Leandro Almada, a atuar na operação no dia da eleição.

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Interferência na eleição

O segundo turno das eleições foi realizado em 30 de outubro. No sábado, véspera do pleito, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, proibiu que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) realizasse qualquer operação relacionada ao transporte público de eleitores no domingo, para não atrapalhar a votação, ordem que foi descumprida.

Relatos dos eleitores nas redes sociais, de Estados do Nordeste e Norte do País, mostraram que a Polícia Rodoviária Federal desrespeitou a ordem de Moraes. O ministro determinou então que o diretor da PRF, Silvinei Vasques, interrompesse “imediatamente” operações da corporação sobre transporte público de eleitores, estabelecendo multa pessoal e horária de R$ 100 mil em caso de descumprimento, além de ser imediatamente afastado das funções e preso em flagrante por desobediência e crime eleitoral.

Minuta golpista

A suspeita acerca de um golpe de Estado surgiu a partir da apreensão, pela Polícia Federal, de um documento na casa de Anderson Torres, que ficou conhecido como “minuta golpista”. A minuta de decreto presidencial previa a instauração de estado de defesa na sede do TSE e poderia, de acordo com o texto, levar à prisão de magistrados eleitorais. O decreto entraria em vigor dias após as eleições. Anderson Torres afirma que recebeu o documento de populares e que pretendia descartá-lo.

Em sua defesa, Anderson Torres afirmou que documento estava separado para ser jogado fora (Reprodução)

Torres está preso desde o dia 14 de janeiro, investigado pela Polícia Federal por suspeita de omissão e conivência com os atos de vandalismo em Brasília, no dia 8 de janeiro. À época, ele era o secretário responsável pela segurança na capital federal.

O ex-ministro foi preso por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Quando a prisão foi decretada, no dia 10 de janeiro, ele estava de férias com a família nos Estados Unidos. Após a ordem, Torres voltou ao País e foi detido no Aeroporto de Brasília.

(*) Com informações de Lauro Jardim, da Folha de S. Paulo