Extremistas da Amazônia participaram de ataques em Brasília; relembre

Roniclei Teixeira (à esquerda), George Washington e Yuri Luan. (Reprodução - Redes Sociais e Agência Senado)

08 de janeiro de 2024

15:01

Marcela Leiros – Da Agência Amazônia

MANAUS (AM) – O dia 8 de janeiro de 2023, assim como os dois meses que o antecederam, foram de tensão crescente na capital federal, Brasília (DF), com a participação direta de pessoas da região amazônica. Desde acampamentos golpistas até o ato extremista que culminou na invasão e vandalização dos prédios dos Três Poderes — Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal (STF) e Palácio do Planalto — na capital federal, a história foi desenhada, negativamente, com a colaboração de amazônidas.

Bolsonaristas em atos terroristas em Brasília — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Bolsonaristas em atos terroristas em Brasília. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Logo após aquele dia, investigações já apontavam que partiram de Estados amazônicos, como o Pará, Rondônia e Mato Grosso, os financiamentos dos golpistas que participaram dos ataques terroristas. Não coincidentemente, as localidades fazem parte do arco do desmatamento, região onde a fronteira agrícola avança em direção à floresta. Nesta segunda-feira, 8, um ano depois daquela fatídica data, a 23ª fase da Operação Lesa Pátria busca identificar, em Estados como o Mato Grosso, Maranhão, Rondônia e Tocantins, os financiadores dos ataques.

Um desses atores foi o empresário paraense George Washington de Sousa, de 54 anos, condenado a 9 anos e 4 meses de prisão pela tentativa de atentado a bomba perto do Aeroporto de Brasília, em dezembro de 2022. Ele confessou ter montado o artefato e entregue a outra pessoa, com a intenção de explodir um poste de energia para deixar a capital sem luz. A bomba, que chegou a ser colocada em um caminhão-tanque, foi encontrada pelo motorista do veículo e desativada pela polícia.

Condenado por planejar a explosão de bomba perto do aeroporto de Brasília e ouvido como investigado, George Washington preferiu manter-se calado na maior parte do depoimento. (Jefferson Rudy/Agência Senado)

Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), no Congresso Nacional, o empresário de Xinguara, no Pará, chegou a admitir que frequentou o acampamento bolsonarista montado em frente ao quartel-general do Exército, na capital federal, mas negou que a tentativa de ataque terrorista tivesse relação com o ataque aos Três Poderes e com uma tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, em 12 de dezembro.

Além de George Washington, outros dois paraenses foram identificados como extremistas envolvidos nos ataques terroristas aos Três Poderes em Brasília. Ambos chegaram a publicar vídeos durante o ato antidemocrático, como é o caso de Roniclei Teixeira. Em um vídeo postado na própria rede social dele, o então morador de Jacundá, no sudeste paraense, estimulou a ação e mostrou a invasão. “Bora meu povo brasileiro! Botando os vagabundos para correr, esses filhos da p*ta!”, diz ele no vídeo.

Veja o vídeo:

Rondônia

Dos outros Estados da Amazônia, Rondônia teve pelo menos oito pessoas reconhecidas entre os manifestantes que estavam na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, durante o ato que terminou em ataques terroristas, no dia 8 de janeiro. O rondoniense Yuri Luan dos Reis foi um dos 100 denunciados pela invasão e depredação da sede dos Três Poderes, em Brasília.

Morador de Cerejeiras, distante cerca de 800 quilômetros da capital Porto Velho, Yuri apareceu em um vídeo divulgado três dias antes da invasão à sede dos Três Poderes, junto a outros bolsonaristas que convidavam a população para concentração em frente ao Quartel do Exército, em Brasília. Na ocasião, ele disse que estava em Brasília há quase 60 dias.

Yuri publicou story no Facebook ao chegar na Academia Nacional da Polícia Federal — Foto: Reprodução
Yuri publicou stories no Facebook ao chegar na Academia Nacional da Polícia Federal. (Reprodução)

Yuri também publicou um vídeo, à época, durante a invasão aos prédios dos Três Poderes. “Perdeu, mané! Não amola!!! Barroso“, disse ele, se dirigindo ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso.

Yuri Luan, de Cerejeiras, postou foto na frente do STF no momento da invasão — Foto: Instagram/Reprodução
Yuri Luan, de Cerejeiras, postou foto na frente do STF no momento da invasão. (Instagram/Reprodução)
Tocantins

No Tocantins, pelo menos 12 servidores públicos foram suspeitos de participarem dos atos antidemocráticos e ataque a Brasília. A investigação foi acompanhada pela Corregedoria-Geral do Estado do Tocantins, que informou que ao menos três estavam na lista de presos.

À época, o corregedor-geral Luciano Alves Ribeiro Filho informou que a maioria dos servidores do Tocantins envolvidos foram identificados após denúncias. Das 12 denúncias, sete foram feitas por meio do portal fala.BR, plataforma integrada de ouvidoria e acesso à informação, onde é possível comunicar atos ilícitos praticados contra a administração pública. Os demais se deram pela via institucional, dois deles, via ofício. E três foram identificados a partir da análise da lista de pessoas presas em Brasília.

Bolsonaristas durante confronto com a polícia em atos terroristas contra os 3 Poderes em Brasília — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Bolsonaristas durante confronto com a polícia em atos terroristas contra os 3 Poderes em Brasília (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Represálias

Antes do fatídico dia em Brasília, o país viveu uma escalada de tensão nacional com os acampamentos golpistas em frente a quartéis do Exército em vários estados, inclusive na Amazônia Legal, que duraram dois meses e só foram desmobilizados após ordens judiciais.

REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA repercutiu o assunto em pelo menos duas edições especiais da revista física. A primeira, de novembro de 2022, abordou a “realidade paralela” dos extremistas acampados em frente aos quartéis. A segunda, de janeiro de 2023, questionou “Quem banca os golpistas?

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A concentração nas áreas dos QGs militares reuniu homens, mulheres e até crianças (levadas pelos responsáveis) em uma tentativa de articular um plano para o golpe de estado, e que contavam com financiamento de empresas, conforme mostrou a REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA na reportagem “Protestos antidemocráticos recebem ajuda de ao menos cinco empresas em Manaus“.

Acampamento em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA). (4.nov.22 – Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)

A investigação jornalística causou a ira dos extremistas, que chegaram a intimidar profissionais da imprensa, como a ex-repórter da CENARIUM, Ívina Garcia, e o fotojornalista Ricardo Oliveira.

Foi devastador, ainda mais que a polícia não deu retorno e tive que me afastar do trabalho por segurança. Recebi muitas ameaças que se voltaram até para minha família. Foi horrível se sentir impotente, não poder trabalhar na cobertura que eu estava acompanhando desde o começo. Mas, em compensação, pude ir no dia que desfizeram o acampamento, após os ataques do 8 de janeiro“, compartilha a profissional.

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O fotojornalista Ricardo Oliveira foi abordado por cinco homens em frente ao CMA, que o chamaram de “covarde” (22.dez.24 – César Aleijos/Revista Cenarium Amazônia)

Editado por Marcela Leiros

Revisado por Gustavo Gilona