Festival Kariwa Bacana: encontro do ancestral e contemporâneo no Centro de Manaus

Apresentação do grupo Filhos do Rio Negro. (João Felipe Serrão/Revista Cenarium Amazônia)

11 de dezembro de 2023

14:12

João Felipe Serrão – Da Agência Amazônia

MANAUS (AM) – O Centro de Manaus tornou-se neste domingo, 10, palco de uma celebração que exalta a identidade indígena do Amazonas: o Festival Kariwa Bacana. O evento tece pontes entre as cosmologias ancestrais dos povos originários e a vivência urbana de artistas da Amazônia, na Rua Bernardo Ramos, Zona Sul da capital amazonense.

line up é formado por bandas como Mady e Seus Namorados; Agenor, Agostinho e Léo; a dupla de rap Lary Go e Strela; a cantora indígena Djuena Tikuna; e a agremiação Filhos do Rio Negro, grupo artístico vindo diretamente de São Gabriel da Cachoeira, a 852 quilômetros de Manaus.

Palco do Festival Kariwa Bacana. (João Felipe Serrão/Revista Cenarium Amazônia)

O evento começou com duas rodas de conversa. A primeira, com o tema “Contracolonizando nossos corpos e territórios”, teve participação de Camila Cyrino (Arte e Escola na Floresta) e Thaís Desana (Coletivo Miriã Mahsã), com mediação de Patrícia Borges.

Em fala no debate, Thaís Desana, que compõe o coletivo indígena LGBTQIAPN+ Miriã Mahsã, destacou a importância da reafirmação da identidade indígena no Amazonas.

O coletivo vem retomando o que nos foi tirado. Dentro desse território indígena que é Manaus, a juventude assume um papel de protagonismo nessa luta. Estamos conquistando espaços que nos foram negados, reafirmando nossa identidade. Isso é importante porque outras pessoas nos veem aqui e se inspiram, sabendo que sendo elas indígenas, LGBTs, pretas, elas podem conquistar o espaço que quiserem, por mais que exista violência e preconceito contra esses corpos”, afirmou.

Evento começou com duas rodas de conversa. (João Felipe Serrão/Revista Cenarium Amazônia)

Em seguida, a roda de conversa seguiu com a temática “Ancestralidade e a arte de ser artista amazonense”, com participação de Elisa Maia, artista e produtora cultural; Andira Angeli, multiartista e vice-presidenta da Casa Miga de Acolhimento LGBTQIAPN+; e mediação de Pedro Tukano, do coletivo Miriã Mahsã.

Andira Angeli exaltou a força e resistência dos artistas amazonenses. “Nós não somos vítimas, nós artistas de Manaus. Me recuso esse lugar de vítima. Entendo as dificuldades, mas há uma potência muito grande na arte feita aqui nos coletivos culturais. Nós temos um cenário muito criativo, nas diferentes artes. A gente tem nossa própria linguagem, que tá diretamente ligada com a nossa ancestralidade”, afirmou Andira.

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Exaltação indígena

Festival Kariwa Bacana tem se destacado pelo acolhimento, exaltação da identidade indígena e da pluralidade cultural amazônida. A produtora cultural e comunicadora Patrícia Borges é uma das idealizadoras do evento. De acordo com ela, um dos objetivos do projeto é se apropriar do protagonismo das narrativas amazônicas.

O que motivou o festival foi trazer a perspectiva dos povos indígenas, colocando eles para falar. Quando se fala em cultura na Amazônia, nós somos muito bombardeados pela visão de quem vem de fora. Estamos tentando buscar espaço para que nós mesmos possamos falar quem nós somos e nosso instrumento para fazer isso é a arte, a cultura e a música”, afirmou Patrícia.

Patrícia Borges é uma das idealizadoras do evento. (João Felipe Serrão/Revista Cenarium Amazônia)

De acordo com ela, um dos eixos norteadores do evento também é trazer para o público local a arte produzida aqui. “Nós queremos que os amazonenses, pessoas nascidas aqui, possam conhecer mais os nossos artistas, pessoas da terra que tem composição autoral, que tentam sobreviver da sua arte. Para mim, é muito mais importante quando uma pessoa que é daqui conhece, porque ela vai se identificar e se reconhecer, porque os artistas falam da nossa identidade”, destacou Patrícia.

O produtor cultural e professor Agenor Vasconcelos também é um dos idealizadores do festival. Ele ressalta a importância de ocupar o Centro de Manaus com a cultura produzida pelos povos originários. “Esse é o momento de falar sobre contracolonização. A gente tá em uma rua que foi construída com trabalho escravo indígena e hoje a gente faz um festival que contracoloniza isso”, afirmou Agenor.

Agenor Vasconcelos é idealizador do evento e integrante do grupo Agenor, Agostinho e Léo. (João Felipe Serrão/Revista Cenarium Amazônia)

Ele ainda falou da escolha dos artistas para compor o line up do festival. “A ideia era fazer um festival para juntar manifestações musicais contemporâneas, não tão tradicionais e presas ao passado. Trazer os jovens indígenas que estão produzindo com beats, com baterias eletrônicas e softwares. O Kariwa Bacana é uma festa que pensa e planeja a continuidade das festas tradicionais, pensando em como adaptar para os nossos tempos”, finalizou Agenor.

festival tem patrocínio da Natura Musical 2021 e foi contemplado com o Prêmio Manaus 2022 – Thiago de Mello, da Manauscult. É realizado em parceria com a Sativa Produções (@sativaproducoes), o Centro de Medicina Indígena – Bahserikowi (@centrodemedicinaindigena) e o coletivo Miriã Mahsã (@miriamahsa).

Edição: Marcela Leiros

Revisão: Gustavo Gilona