Golpistas do 8 de janeiro planejavam enforcar Moraes na Praça dos Três Poderes

O ministro Alexandre de Moraes foi alvo de planos de criminosos responsáveis por atos antidemocráticos (Montagem: Mateus Moura/Revista Cenarium)

04 de janeiro de 2024

15:01

MANAUS (AM) – O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes revelou ao jornal O Globo que, entre os planos de extremistas envolvidos nos ataques antidemocráticos do dia 8 de janeiro, estava o de enforcá-lo na Praça dos Três Poderes, em Brasília, após um golpe de Estado. Na entrevista divulgada nesta quinta-feira, 4, a quatro dias de completar um ano dos ataques na capital federal, o ministro ainda apontou a suspeita de participação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nos planos.

Segundo Moraes, havia três planos que envolviam capturá-lo e matá-lo. “O primeiro previa que as Forças Especiais (do Exército) me prenderiam em um domingo e me levariam para Goiânia. No segundo, se livrariam do corpo no meio do caminho para Goiânia. Aí, não seria propriamente uma prisão, mas um homicídio. E o terceiro, de uns mais exaltados, defendia que, após o golpe, eu deveria ser preso e enforcado na Praça dos Três Poderes. Para sentir o nível de agressividade e ódio dessas pessoas, que não sabem diferenciar a pessoa física da instituição”, afirmou Alexandre.

Ainda segundo o ministro, há investigações que apuram esses planos, que teriam também uma possível participação da Abin“Inclusive, há outro inquérito que investiga isso, com participação da Abin, que monitorava os meus passos para quando houvesse necessidade de realizar essa prisão”, informou Alexandre.

8 de janeiro

Moraes afirmou que estava em Paris, em viagem com a família, quando ficou sabendo dos ataques antidemocráticos em Brasília. Ele ligou imediatamente para o ministro da Justiça do Governo Lula, Flávio Dino, para saber como os golpistas tinham entrado nos locais, já que em uma reunião de órgãos de segurança em que havia ficado proibida a entrada de manifestantes na Esplanada dos Ministérios.

Alexandre de Moraes disse que ficou ‘chocado’ com a ‘inação da Polícia Militar’ e ainda afirmou que “não precisaria de cem homens do Batalhão de Choque para dispersar aquilo”. O ministro acrescentou, também, que algumas decisões jurídicas foram importantes para evitar “efeito dominó” em outros Estados, como a prisão do ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres e do comandante-geral da Polícia Militar, Fábio Augusto Vieira.

“Eu me certifiquei que as demais polícias militares estavam tranquilas, mas não podíamos arriscar. Ao mesmo tempo, o afastamento do governador (Ibaneis Rocha), para evitar que pudesse ocorrer algo extremista em outros Estados, como eventualmente outro governador apoiar movimento golpista. E a determinação de prisão em flagrante imediata de quem permanecesse em frente a quartéis pedindo golpe”, disse Moraes.

Golpistas praticaram vandalismo na Praça dos Três Poderes (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Investigações

Ao O Globo, Alexandre de Moraes deu mais detalhes sobre o que já se descobriu durante as investigações. Ele afirmou que os discursos nos quartéis onde os golpistas estavam acampados diziam que eles deveriam ir para Brasília.

Conforme Moraes, financiadores ordenavam que deveria ocorrer a invasão do Congresso e que os criminosos deveriam ficar até que houvesse a decretação da Garantia de Lei e Ordem (GLO), para que o Exército fosse retirá-los. Os golpistas planejavam convencer o Exército a aderir ao golpe.

Moraes também afirmou que todos aqueles que tiverem a responsabilidade comprovada, após o devido processo legal, receberão punição.

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Atos antidemocráticos

No dia 8 de janeiro de 2023, uma multidão de extremistas invadiu a Praça dos Três Poderes e promoveu uma série de depredações e vandalismo aos símbolos da República, por não aceitarem o resultado das eleições. O episódio ficou conhecido como “atos antidemocráticos” ou “atos golpistas” do dia 8 de janeiro.

Mais de mil pessoas foram presas na ocasião. A Procuradoria-Geral da República (PGR) indicou a prática dos crimes de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Golpistas, realizada na Câmara dos Deputados, após cinco meses de trabalho, pediu o indiciamento de 61 pessoas, entre civis e militares, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

(*) Com informações d’O Globo.