15 de dezembro de 2023
12:12
Camila Lima – Da Agência Amazônia
PORTO VELHO (RO) – Rodrigo Silco (nome fictício), 34 anos, vive com o vírus do HIV há sete anos. A suspeita iniciou com sintomas atípicos, incluindo nódulo cervical, febre moderada e fraqueza, levando à suspeita de infecção por HIV. A confirmação se deu por teste rápido e desencadeou um processo psicológico complexo, que envolveu desde a hesitação em aceitar o diagnóstico, passando pela falta de conhecimento e o medo da morte.
Apesar de estar a cada dia mais seguro sobre a condição, ele ainda prefere não se identificar. “Recordo que queria perguntar ao médico quando eu iria morrer. Essa era a imagem que eu tinha. Achava que morreria em alguns meses. A imagem que eu tinha era de Cazuza. Imaginava que, mesmo que tomasse medicação, iria ter efeitos colaterais adversos inúmeros, de modo que minha vida não seria mais a mesma. Imaginei que emagreceria. Que ficaria com a saúde debilitada o tempo todo, por isso logo todos iam acabar desconfiando. Que sofreria preconceito, sendo apontado na rua”, disse.
A reação de Rodrigo ao saber do diagnóstico foi buscar informações. Ele desmitificou o HIV, compreendendo que a Aids só se manifesta com o abandono do tratamento. O Sistema Único de Saúde (SUS) foi o aporte para a saúde física e mental, proporcionando acesso a medicações retrovirais gratuitas e estabelecendo uma rede de suporte nos Serviços de Atendimento Especializado (SAE), com abordagem multidisciplinar.
Medo da morte
Rodrigo Silco destaca que o medo da morte pelo vírus mudou ao buscar informações. Ele descobriu que, com tratamento adequado, a vida continua após o diagnóstico. “Devemos desmitificar o que temos de informações de antigas campanhas que tinham a intenção de gerar medo do vírus HIV. Precisamos superar os estigmas, medos infundados e compreender que, com o devido cuidado e tratamento, é possível viver uma vida plena e com qualidade, desassociando a condição do HIV de pessoas debilitadas e à espera da morte”.
Rodrigo conta que vive uma vida comum, priorizando a qualidade de vida associada aos medicamentos. Ele afirma que a cada dia dá um passo para quebrar as barreiras do preconceito, por meio do diálogo entre familiares e amigos sobre a sua condição em relação ao HIV.
“As pessoas precisam entender para quebrar os estigmas da doença, sobretudo, quem tem HIV precisa entender que o tratamento é necessário para uma vida normal pós-diagnóstico. A Aids só será um risco para todos, se quem tem o vírus mantiver os preconceitos sociais acima do seu autocuidado”, alertou.
Diagnóstico
A estatística de 190 mil pessoas soropositivas no Brasil que ainda não iniciaram o tratamento aponta lacunas na disseminação da informação e no acesso aos cuidados.
A situação do HIV/Aids no Brasil entre os anos de 2020 e 2022 revela um aumento preocupante de 17,2% nos casos de infecção. A região Norte se destaca com variações significativas, contribuindo para o aumento nacional.
Norte
No Norte do País, Rondônia se destaca. Enquanto o Brasil registrou um aumento de 17,2%, o Estado foi na contramão e apresentou uma redução de 3,5% nos casos de infecção pelo HIV.
A taxa de detecção de Aids em 2022 em Rondônia foi de 20,6 casos por 100 mil habitantes, posicionando o Estado em uma posição intermediária em relação aos demais Estados da região, com 3,9 óbitos por 100 mil habitantes, taxa abaixo da média nacional, indicando um controle efetivo da progressão da doença.
Dentre esses que apresentaram um aumento expressivo, destaca-se o Amazonas, que registrou uma taxa de detecção de 32,3 casos por 100 mil habitantes. O estado amazônico supera a média nacional nesse aspecto. Além disso, o coeficiente de 6,9 óbitos por 100 mil habitantes também coloca o Amazonas acima da média nacional, indicando uma situação crítica que demanda atenção urgente. Os dados são da Unaids, programa conjunto das Nações Unidas que tem como objetivo liderar e coordenar a resposta global à epidemia de HIV/Aids.
Informação
Trabalhando na disseminação de informações sobre a prevenção e vida após o diagnóstico do HIV, a Comunidade Cidadã Livre (Comcil) tem abordado políticas públicas voltadas para o conhecimento e tratamento do vírus HIV e da Aids.
Karen Oliveira, ativista trans e líder do movimento que ajuda as pessoas em vulnerabilidade social, prestando informações para quebra de paradigmas e preconceitos, afirma que a missão da Comcil é trabalhar dentro das comunidades, principalmente as marginalizadas, com orientações, formas de prevenções e a importância do teste rápido.
“Nós ajudamos as pessoas entenderem que após um diagnóstico positivo, a vida não acabou. Da década de 1980 para os anos atuais, muita coisa mudou. Quem é soropositivo tem qualidade de vida, basta se tratar”, destaca Karen Oliviera.
Vírus x Doença
Segundo Karen Oliveira, mesmo que o panorama da infecção do vírus HIV/Aids tenha uma realidade diferente da década de 1980, muito ainda precisa ser feito. “Precisamos desmitificar o que é o vírus e o que é a doença. O vírus pode ser controlado com os retrovirais e somente com a falta de cuidado é que podemos dizer que a doença vai se manifestar”.
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Edição: Yana Lima
Revisão: Gustavo Gilona