Imagens da Nasa mostram impacto da seca na bacia do Rio Negro, no Amazonas

(Divulgação/Nasa)

20 de outubro de 2023

13:10

Yana Lima – Da Agência Amazônia

MANAUS (AM) – Imagens do Observatório da Terra, sistema da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos (Nasa), mostram a diferença entre a seca do ano passado e deste ano no Amazonas. As imagens foram capturadas pelo instrumento OLI (Operational Land Imager), a bordo do satélite Landsat 8, e destacam a gravidade da situação na bacia do Rio Negro, próximo a Manaus, capital do Estado.

De julho a outubro, a região enfrenta uma seca severa, registrando níveis alarmantemente baixos de chuva. Na data em que a imagem mais recente foi capturada, o nível do Rio Negro estava em 15,14 metros, conforme dados do Porto de Manaus. Em contraste, no mesmo período do ano anterior, o rio registrava um volume de 19,59 metros, mais alinhado com as condições típicas da estação.

Imagem mostra a comparação entre outubro de 2022 e 2023 (Vídeo: Reprodução / LandSat )
Vazante continua

Desde quando as imagens da Nasa foram capturadas, o nível do rio caiu ainda mais, atingindo 13,19 metros nesta sexta-feira, 20, a maior seca em mais de um século, desde o início do monitoramento do rio amazônico.

Apesar das chuvas registradas no início desta semana, o período chuvoso ainda não chegou oficialmente, segundo o meteorologista Renato Senna, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). A previsão é que as chuvas se intensifiquem somente no fim deste mês. Enquanto isso, o Rio Negro, que atingiu o menor nível desde que passou a ser medido, há 121 anos, deve continuar baixando.

Tomada de drone da seca do Rio Negro no Porto do Cacau Pirêra, município de Iranduba, interior do Amazonas (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)

Até agora, os períodos de seca mais intensa do Rio Negro ocorreram em 2010 (13,63 metros), 1963 (13,64 metros) e 1906 (14,20 metros). Em 2010, pior seca histórica até então, o nível do rio caiu até o dia 24 de outubro, quando a cota foi de 13,63 m, momento em que começou a subir.

“O rio deve permanecer ainda baixando por mais alguns dias, pois será necessário que as chuvas ocorram com maior frequência, principalmente nas principais bacias formadoras dos Rios Negro e Solimões”, explica Senna.

Arte: Mateus Moura

Embora ainda não seja suficiente para conter a vazante dos rios, as chuvas ajudaram a conter focos de incêndios e amenizar a nuvem de fumaça que pairava sobre Manaus e outros municípios da região Metropolitana. Este índice chegou a atingir níveis críticos na última semana levando a qualidade do ar para a segunda pior do mundo.

Segundo especialistas consultados pela REVISTA CENARIUM, essa situação de seca extrema na Amazônia é um lembrete da vulnerabilidade da região a mudanças climáticas e eventos climáticos extremos, ressaltando a necessidade de ações de conservação e manejo responsável dos recursos naturais.

El Niño
Fenômeno El Niño não mostrou sinal de intensificação até agora neste mês, conforme os dados da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA). (Foto: Reprodução/NOAA)

O cientista atmosférico René Garreaud, da Universidade do Chile, destacou que o El Niño desempenhou um papel fundamental no agravamento da seca. Este fenômeno de aquecimento cíclico das águas superficiais no Pacífico centro-leste tem impacto nos padrões de circulação atmosférica, resultando em condições mais secas na Bacia Amazônica.

A seca no Rio Negro e outros rios próximos sofrem consequências significativas, com impacto no abastecimento de água potável em várias comunidades, afetando a navegação comercial e causando a morte de peixes e golfinhos.

O nível do Rio Tapajós chegou a 94 centímetros no domingo, 8, ou seja, 38 centímetros abaixo da seca histórica registrada em 2010 (João Paulo Borges Pedro/Instituto Mamirauá)

A seca também afetou indústrias locais, como a fabricação de produtos químicos, navios e equipamentos elétricos.

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