Imagens de satélite monitoram áreas afetadas pela mineração em Carajás, no Pará

Pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale usam projeto para auxiliar na recuperação da maior área de extração de minério de ferro ao ar livre do mundo (Reprodução/MineraJr)

12 de setembro de 2023

13:09

Alessandra Leite – Especial Agência Cenarium

SÃO PAULO – Com o objetivo de avaliar a recuperação ambiental no Complexo Mineral Carajás, no Pará, um grupo de pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV), localizado em Belém, utilizou imagens de satélite para correlacionar o tradicional monitoramento feito in loco com a eficiência da inspeção por sensoriamento remoto.

Por meio da análise de diferentes intervalos de ondas do satélite WorldView, as imagens mostraram que um dos locais, cuja recuperação foi iniciada há oito anos, apresenta índice de 97% de carbono estocado em relação ao solo de florestas nativas do local.

A inovação, que permitiu o uso de satélite para esse tipo de estudo, acelera a obtenção de informações sobre a degradação do solo, bem como da extensão da recuperação.

De acordo com o pesquisador do ITV e um dos autores do projeto, Silvio Ramos, os estudos de predição de atributos do solo a partir de imagens de satélite vem se consolidando, apesar de ainda haver limitações de estudos no Brasil, especialmente na Amazônia e nas áreas de mineração. “A predição e o mapeamento dos atributos do solo, particularmente o estoque de carbono orgânico, visa a redução de custos, a redução do uso de produtos químicos utilizados em análises químicas pelo método convencional, além da melhor visualização dos dados de campo, que auxilia no monitoramento”, explica Ramos.

Imagem de satélite do Complexo Mineral Carajás (Divulgação)

O estudo, publicado pela revista Environment, “Development and Sustainability” observa que o estoque de carbono do solo pode ser obtido a partir de coleta e análise de solo das áreas que se deseja examinar ou por meio do sensoriamento remoto por imagens da mesma área. Desse modo, a partir de alguns índices de cobertura vegetal e de solo exposto, alcançados pelas imagens de alta resolução, é possível realizar correlações e modelagens para o prognóstico do carbono no solo.

Segundo o pesquisador, a partir de uma imagem de alta resolução é possível calcular a porcentagem da cobertura verde e a quantidade de solo exposto em uma área, embora não seja possível afirmar que as imagens de sensores remotos sejam capazes de substituir a coleta física de dados de forma integral. “Essa técnica pode auxiliar como uma ferramenta adicional para melhorar a visualização dos dados de campo. Trata-se de um instrumento com um custo baixo e com a capacidade de otimizar o tempo no tratamento da informação espacial. Porém, ainda assim será necessário fazer a coleta de amostras de solo para a calibração e validação dos modelos preditivos”, enfatiza.

Exploração desde a década de 1970

Carajás é a maior mina de extração de minério de ferro ao ar livre do mundo e vem sendo explorada desde a década de 1970, acarretando relevantes impactos no solo. O resultado do estudo indica o sucesso que iniciativas para recuperação ambiental podem ter diante da degradação causada por atividades como a mineração. “Apesar da importância do carbono no solo, algumas outras variáveis devem ser analisadas, como as relacionadas à vegetação, à biomassa vegetal e à atividade microbiana do solo”, diz o cientista.

Ele explica, ainda, que o mapeamento e a predição dos atributos do solo, como o estoque de carbono, têm grande utilidade para que se possa entender sobre a qualidade e fertilidade das áreas sem a necessidade de ir ao campo, o que proporciona ganho de tempo e redução dos custos.

Conforme o estudo apresentado, é a decomposição de matéria orgânica que garante os elementos essenciais para o desenvolvimento da vegetação e da biodiversidade. O artigo demonstra ainda que no solo em recuperação com elevado índice de carbono também havia um alto índice de elementos como nitrogênio, potássio e boro, muito presentes em solos de floresta nativa.

O estudo assinala que, conforme avançam as tecnologias para monitoramento de impactos no meio ambiente, como na Amazônia, também os processos de recuperação de áreas degradadas ficarão mais efetivos e menos oneroso. “Em outras palavras, gasta-se menos recursos com viagens, amostragens e análises de solo. Assim, podemos dizer que embora não substitua a análise convencional de solo, essa predição pode ajudar no manejo das áreas em recuperação, chegando em lugares em que não foram realizadas essas amostragens”, esclarece.

O estudo destaca também a importância do acompanhamento dos níveis de estoque de carbono no solo para efeito de comparação com as áreas de florestas nativas, bem como ajudar na verificação da efetividade das ações de recuperação dessas áreas.

O processo tradicional de análise de solos é dividido em três etapas: amostragem do solo, análise em laboratório e interpretação dos resultados.

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