Indicado por Bolsonaro ao STF, André Mendonça distorce fala de Lula sobre Holocausto

André Mendonça (a direita) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Composição de Wesley Santos/Revista Cenarium)

20 de fevereiro de 2024

12:02

Jefferson Ramos – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), indicado por Jair Bolsonaro (PL), distorceu a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que comparou, em entrevista coletiva no domingo, 18, a morte de palestinos por intervenção militar de Israel na Faixa de Gaza ao genocídio de judeus perpetrado sistematicamente por Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial, conhecido como Holocausto.

“O maior erro é apoiar grupo terrorista”, disse Mendonça, durante culto na Igreja Presbiteriana de Pinheiros, em São Paulo, no domingo, 18. André Mendonça é o nome ‘terrivelmente evangélico’ que Jair Bolsonaro prometeu à bancada evangélica que nomearia ao Supremo em 2019. Ao contrário do que o ministro afirmou, Lula classificou, no dia 10 de outubro do ano passado, o ataque do Hamas contra Israel no dia 7 de outubro como ‘terrorista’.

“O que está acontecendo na Faixa da Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus. E você vai deixar de ter ajuda humanitária? Quem vai ajudar a reconstruir aquelas casas que foram destruídas? Quem vai devolver a vida das crianças que morreram sem saber porque estavam morrendo?”, respondeu Lula em coletiva de imprensa na Etiópia.

André Mendonça (a dir) e Jair Bolsonaro (Isaac Amorim/MJSP)

No mesmo posicionamento, Lula ainda chamou de “insana” a resposta de Israel ao ataque orquestrado pelo grupo terrorista.

“Hoje, quando o programa [Bolsa Família] completa 20 anos, fico lembrando que 1.500 crianças já morreram na Faixa de Gaza. [Crianças] Que não pediram para o Hamas fazer o ato de loucura que fez, de terrorismo, atacando Israel, mas também não pediram que Israel reagisse de forma insana e as matasse. Exatamente aqueles que não têm nada a ver com a guerra, que só querem viver, brincar, que não tiveram direito de ser crianças“, se posicionou, à época, por vídeo nas redes sociais.

O ataque do Hamas custou a vida de mais de 1,4 mil pessoas e a tomada de 200 reféns, entre mulheres, idosos e crianças, que ainda estão desaparecidos. Do outro lado, a ação militar de Israel na Faixa de Gaza, iniciada sob o pretexto de aniquilar o Hamas, ceifou a vida de mais de 30 mil palestinos, segundo autoridades palestinas.

No domingo, Israel anunciou que vai invadir Rafah, durante o Ramadã, período sagrado aos muçulmanos que inicia em março, caso os reféns detidos pelo Hamas não forem devolvidos.

Em meio à ameaça de Israel, os Estados Unidos anunciaram que pretendem, pela primeira, propor resolução no Conselho de Segurança da ONU com um pedido de um cessar-fogo na guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, conforme informou a Reuters nessa segunda-feira, 19.

Desde o início da ação militar de Israel em Gaza, duas resoluções propondo cessar-fogo foram rejeitadas pelo Conselho de Segurança. Uma delas foi a do Brasil, vetada pelos Estados Unidos, que detém o poder de veto.

Nenhuma resolução é aprovada sem o consenso de Estados Unidos, Inglaterra, França, China e Rússia. Na ocasião, somente os EUA vetaram a resolução brasileira, Inglaterra se absteve e os outros membros votaram a favor.

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Revisado por Gustavo Gilona