Levantamento mostra que Covid-19 já matou 1.209 indígenas, mas dados do governo federal são divergentes

Indigenous people protesting in the Federal District. (Ueslei Marcelino/ Reuters)

04 de outubro de 2021

16:10

Marcos Lima – Da Cenarium

MANAUS – Passados 18 meses desde o primeiro caso de um indígena infectado pela covid-19 ser registrado no Brasil, 53.798 casos já foram confirmados e 813 mortes, segundo os dados oficiais do governo federal. Deste registros, 8.940 infectados e 142 óbitos foram registrados no Amazonas. O número pode ser ainda maior, já que a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e o Ministério da Saúde não contabilizam os indígenas que vivem no contexto urbano. Somando com o que vivem no contexto urbano, o número de casos sobe para  59.695 e o número de mortes 1.209 com 163 povos indígenas afetados pela covid-19.

Segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que leva em consideração indígenas que não vivem em aldeias, mas se autodeclaram e possuem laços com seu povo, como dispõe a Convenção n. 169 da OIT (ratificada pelo Brasil), o primeiro caso de um indígena infectado com o coronavírus ocorreu em Santo Antônio do Içá, interior do Amazonas, no dia 25 de março e só foi divulgado pelas autoridades no dia 1º de abril de 2020. Um agente de saúde indígena, da etnia Kokama, de 20 anos de idade se infectou ao ter contato com um médico paulista que voltava de férias e estava apresentando sintomas.

O estado do Amazonas é o que mais registrou casos no Brasil, porem é dividido em 7 partes: Alto Rio Negro, Alto Rio Solimões, Manaus, Médio Rio Purus, Médio Rio Solimões, Parintins e Vale do Javari. Os locais com mais casos registrados, segundo a Sesai, foram o Alto Rio Negro com 2.391 casos e 26 mortes e o Alto Rio Solimões, com 2.368 infectados e um número ainda maior de mortes. Foram registrados 52 óbitos naquela região.

Veja também: Kokama: povo indígena clama pela sobrevivência contra Covid-19 na Amazônia

O Brasil é dividido em 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei) pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que atende mais de 800 mil indígenas e que monitora os casos no país. O último boletim, foi divulgado no dia 1º de outubro, mostra que as regiões mais afetas no País, que já ultrapassaram quatro mil casos e mais de cem mortes são o estado Mato Grosso do Sul, com 4611 casos confirmados e 105 vítimas da covid-19 e o sul do estado de Roraima, com 4358 pessoas infectadas e também 105 óbitos.

A vice-presidente da Federação Indígena do Povo Kokama, a indígena Milena Kokama, relatou que as aldeias estão cada vez mais vulneráveis à doença. Os Kokama têm demonstrado um empenho em manter o isolamento social e praticar autoproteção. No entanto, enfrentam a falta de assistência e o descaso de políticas públicas de enfrentamento à pandemia.