Mais de 50 crianças Yanomami estão internadas em hospital infantil de Boa Vista; 7 estão em UTI

Sessenta e quatro indígenas internados e, destes, 53 são crianças da etnia Yanomami (Jonathas Oliveira/Prefeitura de Boa Vista)

26 de janeiro de 2023

23:01

Iury Lima – Da Agência Amazônia

VILHENA (RO) – Ao menos sete crianças Yanomami estão em leitos de UTI no Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA), instalado em Boa Vista, capital de Roraima. Três delas precisaram ser intubadas, por causa dos graves problemas de saúde. A informação foi confirmada à REVISTA CENARIUM nesta quinta-feira, 26, pela prefeitura municipal que administra a unidade.

Por meio de nota, a administração informou, ainda, que o hospital especializado em atendimento infantil tem, até esta quinta-feira, 64 indígenas internados e que destes, 53 são crianças da etnia Yanomami. As principais causas são diarreia aguda, inflamação gastrointestinal grave, desnutrição severa, pneumonia e malária.

A unidade é a única do Estado a atender crianças a partir dos 29 dias de vida até aos 12 anos. O hospital também recebe pacientes da Guiana e Venezuela. De acordo com a prefeitura, só em 2022, último ano da gestão de Jair Bolsonaro, o HCSA teve 703 indígenas Yanomami internados.

Cinquenta e três crianças Yanomami estão internadas; três estão intubadas em UTI, no hospital infantil de Boa Vista (Jonathas Oliveira/Prefeitura de Boa Vista)

Hospital de campanha

Outra ajuda é o hospital de campanha (HCAMP), anunciado pelo governo federal, na semana passada, depois da visita do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), à Casa de Saúde Indígena (Casai) de Boa Vista.

A estrutura está sendo montada ao lado da Casai, pela Força Aérea Brasileira (FAB), e será inaugurada na próxima sexta-feira, 27, onde, de início, mais de 700 indígenas serão atendidos. Parte dos equipamentos vem do Rio de Janeiro.  

Segundo a FAB, 30 militares, entre graduados e oficiais, integram a equipe do HCAMP, em Boa Vista. Os atendimentos serão feitos por médicos das especialidades de Clínica Médica, Ortopedia, Cirurgia Geral, Pediatria, Radiologia, Ginecologia e Patologia. O hospital também terá enfermeiros, farmacêuticos e técnicos de enfermagem à disposição.

Hospital de campanha para indígenas Yanomami vai ser inaugurado na sexta-feira, 27 (Reprodução/FAB)

Crise sanitária e humanitária

Nos últimos quatro anos, quase 600 crianças Yanomami com menos de cinco anos morreram vítimas de desnutrição, diarreia, malária e verminoses. Doenças que poderiam ter sido evitadas com mais assistência e acesso a serviços públicos de saúde.

“O que acontece com o povo Yanomami não é de hoje, faz tempo que vem acontecendo”, comentou a indigenista e coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Neidinha Suruí.  

“No Governo Bolsonaro, isso ficou muito pior. A ministra Damares não atendeu aos pedidos de contemplar os Yanomami. O presidente Bolsonaro não atendeu, não tirou os garimpeiros lá de dentro. Durante os quatro anos de governo foram feitas inúmeras denúncias”, afirmou a ativista em entrevista à CENARIUM.

Para a indigenista Neidinha Suruí, Governo Bolsonaro deve ser responsabilizado por crime de genocídio (Kanindé/Reprodução)

Também nesta quinta, durante um encontro que reuniu representantes da Saúde de todas as esferas de gestão, o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, se revoltou com a situação de abandono na maior Terra Indígena demarcada do País. 

“Cenas que só vimos em documentários da Segunda Guerra Mundial. Cenas do Holocausto, na Segunda Guerra, quando víamos pessoas com ossos cobertos apenas por pele. E vemos que isso acontece em nosso próprio País. Como se chegou a esse ponto?!”, questionou Torres.

Diretor-presidente da Anvisa comparou imagens da crise Yanomami com o extermínio de judeus (Leopoldo Silva/Agência Senado)

Reportagem do jornal O Estado de São Paulo mostrou que militares da reserva que ocupavam diretorias no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), durante a gestão de Bolsonaro, tiveram planos em mãos para reprimir o garimpo na região, mas não colocaram as ações em prática. 

Trata-se de Samuel Vieira de Souza, que comandou a diretoria da Proteção Ambiental do Ibama e Aécio Galiza Magalhães, ex-coordenador de fiscalização ambiental do órgão.  

“Para mim, o Governo Bolsonaro é responsável pelo genocídio dos Yanomami, porque se vê  imagens de guerra, imagens de Holocausto (…) então, é uma situação de total abandono do ser humano, que foi o que esse governo fez, e eu acredito que ele deve responder pelo ato de genocídio e etnocídio”, concluiu Neidinha Suruí.