23 de abril de 2023
15:04
Priscilla Peixoto – Da Agência Amazônia
MANAUS – Quase metade das mulheres negras sofreram racismo em entrevistas de emprego, é o que aponta uma pesquisa realizada pela plataforma infojobs divulgada neste mês de abril. Segundo o site de empregos, 49,5% das mulheres negras que participaram do levantamento afirmam ter sofrido racismo em processos seletivos e 58,8% declaram ter sofrido preconceito em outras situações, no mercado de trabalho.
Na leitura da jornalista, advogada e ativista do movimento negro no Amazonas, Luciana Santos, a pesquisa, mais uma vez, demonstra um problema histórico, no Brasil, que é reflexo do sistema colonial implantado no País.
“Somos uma sociedade estratificada tendo como base a raça. No caso das mulheres negras isso se agrava, pois temos também o recorte do gênero, e somos um País extremamente machista. Então, quanto mais negra a mulher, mais dificuldade ela vai ter de se inserir no mercado de trabalho formal, porque esse corpo é visto como um corpo subalterno, que deve ser superexplorado, economicamente, e que não serve para ocupar determinados espaços“, considera Luciana.
A ativista atenta para as diferentes formas de exclusão, disfarçadas em nuances racistas.”Durante muito tempo, o critério ‘boa aparência’ foi utilizado para essa exclusão. Hoje, outros critérios são utilizados, pois o racismo se reinventa para que não haja movimentação nesse sistema de castas criado pelo colonizador e que se perpetua com seus descendentes“. destaca.
Mais dados
O levantamento que ouviu 301 profissionais autodeclaradas pretas mostra que o desemprego é maior entre essa parte da população. Conforme a pesquisa, 71,4% das respondentes não estão empregadas atualmente. O texto mostra também que 83% das participantes que, se comparadas às pessoas brancas, têm chances de desenvolvimento profissionais desiguais.
Outras 59,1% creem que o fator racial interfere antes da candidata conseguir entrar na empresa. Além dessa primeira barreira a ser rompida, Luciana Santos lembra da menor chance de ocupação em altos cargos, nas corporações. “Vale ressaltar, ainda, que quando mulheres negras conseguem furar a bolha e adentrar no mercado de trabalho formal, elas, dificilmente, conseguem chegar a altos cargos, mesmo que possuam um currículo equivalente ou superior ao de pessoas brancas“, detalha.
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Gestão em novos moldes
De acordo com dados divulgados no portal Geledés, uma pesquisa realizada pela Consultoria Mais Diversidade e a Revista Você RH mostra que cerca de 70% das empresas brasileiras não possuem um programa de D&I estruturado, com estratégia e planejamento, realizando apenas ações pontuais.
A pesquisa realizada em 2021 também revelou que, à época, apenas 28% tinham uma área específica para o tema. A análise havia sido feita com 293 entidades, nacionais e multinacionais, de 34 países e 23 diferentes setores.
Na leitura da especialista em gestão de pessoas e líderes no mercado de trabalho, Cintia Lima, ainda que a pauta antirracista e temas voltados para a diversidade, equidade e inclusão, seja mais falado, atualmente, nos ambientes de trabalho, a demanda é antiga, é necessário cada vez mais ter apoio e os recursos para criar uma mudança real nas organizações.
“Infelizmente, o preconceito e o racismo, em nosso País, é algo estrutural. Campanhas, momentos de sensibilização e explicações no ambiente organizacional são fundamentais, mas ainda também é necessário fazer investigação do que chamamos de viés inconsciente. O selecionador nem se dá conta que sua expressão facial é de julgamento, que sua fala traz um peso do preconceito, que o seu corporal demonstra uma vontade de afastamento”, explica Lima que complementa:
“(…) Então, que tenhamos mais treinamentos e sensibilização e que as pessoas entendam o que há ainda de preconceitos nelas, e isso não só em processo seletivo, mas também em proposta de promoção, com relação às pessoas negras em cargos de gestão e tantas situações que a gente ainda se depara no ambiente organizacional“, salienta a profissional.