‘Mataram seu corpo e tentam matar sua memória’, diz povo Tembé sobre morte de jovem líder indígena
16 de fevereiro de 2021
15:02
Bruno Pacheco
MANAUS – A morte do indígena Isac Tembé, aos 24 anos de idade, ocorrida na noite da última sexta-feira, 12, no interior do Pará, gerou revolta entre o povo Tembé. Policiais militares afirmam que o jovem reagiu com tiros a uma abordagem, já as lideranças da região contestam a versão e alegam excessos das autoridades.
“Mataram seu corpo e tentam matar sua memória quando atacam a índole de nosso jovem guerreiro e liderança exemplar. Isac era um cidadão honrado, professor de história, atuante na comunidade e na organização da juventude”, disse a Associação Indígena Tembé das aldeias Tawari e Zawaruhu.
Isac foi baleado no peito pelos policiais e de acordo com a corporação o indígena fugiu de abordagem enquanto furtava gados. No entanto, o povo Tembé contesta a afirmação e declara que a caçada é uma prática que faz parte da cultura dos indígenas.
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De acordo com o G1, o Ministério Público Federal (MPF) está apurando o caso e chegou a enviar ofícios à Polícia Militar (PM), à Polícia Federal (PF), à Polícia Civil (PC) e também à Fundação Nacional do Índio (Funai) pedindo informações sobre a morte do indígena.
Perda
O jovem líder deixa uma mulher grávida, prestes a dar à luz a uma criança Tembé, “uma garantia da continuidade deste povo originário”, diz a associação do povo Tembé, que emitiu uma nota de repúdio contra a versão dos policiais e exigiu perícia no local da morte.
O documento foi divulgado nessa segunda-feira, 15, pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e cobra uma resposta urgente sobre o caso. “Somos um povo da alegria e da festa, um povo pacífico, ordeiro e cumpridor da lei. Exigimos das autoridades uma apuração rápida, transparente e rigorosa, a fim de identificar e punir os responsáveis por esse crime”, salienta o manifesto.
A entidade reforça ainda que o território Tembé sofre diariamente invasões e ataques por parte de exploradores ilegais de madeira ou de fazendeiros que “insistem em manter a ocupação de partes da Terra Indígena Alto Rio Guamá, por meio de cabeças de gado e de outras atividades econômicas”.
Luta
“Não temos medo. A Constituição Federal protege nossos direitos e o Estado brasileiro precisa fazer cumprir o que manda a Lei maior. Apelamos às autoridades do Brasil e do mundo para que não nos deixem sós! Exigimos que Funai, MPF, Polícia Federal e todos os órgãos competentes venham até o nosso território e vejam o que passamos”, destaca a associação.
Uma reunião pública foi convocada na aldeia São Pedro, Terra Indígena Alto Rio Guamá. Na ocasião, o povo Tembé deve decidir o caminho da luta em busca de justiça. “Exigimos justiça! Punição dos assassinos e mandantes da morte de Isac Tembé”, finaliza a nota.
“A bala que lhe tirou a vida, com apenas 24 anos, atingiu a todos que desde tempos imemoriais habitamos essa terra e fazemos a permanente defesa da floresta e de nossos saberes tradicionais”, lamentam as lideranças Tembé. “Ele saiu para caçar depois de um dia de trabalho na construção de sua casinha para morar com sua família”, continuam.