‘Não temos muito a comemorar’, diz ex-diretor do Inpe sobre políticas para o meio ambiente do governo federal

Ricardo Galvão foi exonerado do cargo após duas semanas de embate do governo contra os dados de desmatamento do Inpe (Reprodução/ Werther Santana)

05 de junho de 2022

16:06

Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS — O físico, engenheiro e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Ricardo Galvão — exonerado, em 2019, depois de discutir com o presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre dados da Amazônia — afirmou neste domingo, 5, em um vídeo publicado nas redes sociais em alusão ao Dia Mundial do Meio Ambiente, que os brasileiros não têm muito o que comemorar. No material, ele explica que os motivos são a degradação dos biomas, especialmente a Amazônia, e a política antiambiental do Governo Bolsonaro.

“Infelizmente, nós, brasileiros, não temos muito a comemorar. Nos últimos três anos, a taxa de desmatamento da Amazônia cresceu substancialmente atingindo cerca de 13 mil quilômetros quadrados no ano passado. Outros biomas importantes, como o Cerrado e o Pantanal, também foram bastante degradados. Infelizmente, apesar de seu discurso ardiloso, o governo brasileiro, de certa forma, estimula essas ações predatórias por meio da sua inépcia e ações erradas”, disse ele.

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Governo estimula

Galvão cita a nova estrutura da Câmara Consultiva Temática, cuja existência foi editada pelo Ministério do Meio Ambiente, do governo federal. O grupo, além de ter a atribuição principal alterada — deixou de ser a implementação de ações de prevenção e passou a ser “qualificação de dados” —, não terá mais a participação de órgãos ambientais como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o próprio Inpe. Os ministérios da Defesa, da Economia e da Justiça e Segurança Pública foram incluídos na nova configuração.

“O Ministério da Defesa tem uma ação louvável na Amazônia, com relação à segurança das fronteiras e de todo o território, mas eles não têm uma missão constitucional de analisar a ocupação da terra sob o ponto de vista de atividades civis. E o que está fazendo o Ministério da Economia nessa Câmara? Será se existem vários economistas que saibam analisar imagens de satélites? Há de se pensar que esses economistas estão lá para defender interesses econômicos”, complementou.

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Veja o vídeo:

Desmatamento

Os últimos dados divulgados pelo Inpe sobre desmatamento na Amazônia foram preliminares e apontaram um número recorde de alertas para o mês de abril, com 1.012 quilômetros quadrados de devastação. O relatório considerou o período entre 1º e 29 de abril. Com isso, os dados de detecção do Deter-B mostram um aumento de 74,5% em relação a 2021 que, por sua vez, também tinha batido o recorde para a série histórica iniciada em 2016, com 579,98km² para o mesmo período.

Ainda segundo o Inpe, o Amazonas é o Estado, no Brasil, que mais desmata em 2022. Até o dia 13 de maio, foram 636 quilômetros quadrados (km²) de devastação no Estado, que concentra 28% dos territórios com avisos de desmatamento em toda a Amazônia Legal no ano. Em abril, foram 346 km² de alertas, o maior registro entre todos os que compõem a região.