Nikolas Ferreira descarta tratar sobre questões de gênero em Comissão de Educação

Da esquerda para a direita: Débora Menezes, Nikolas Ferreira e Alberto Neto. (Composição Paulo Dutra/Agência Cenarium)

23 de março de 2024

17:03

Ricardo Chaves – Da Agência Cenarium

MANAUS (AM) – O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) afirmou que não pretende tratar do que ele chama de “ideologia de gênero” na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. A expressão, não reconhecida no mundo acadêmico, é utilizada por grupos conservadores contrários aos estudos de identidade de gênero.

A declaração ocorreu neste sábado, 23, em Manaus, onde o parlamentar participou de um evento da direita no Amazonas. O evento contou com a participação de políticos locais como o deputado federal Alberto Neto, o militar da reserva Coronel Alfredo Menezes e a deputada estudal Débora Menezes, todos filiados ao PL no Estado.

Nikolas Ferreira participou de evento promovido por empresários e membros da direita no Amazonas (Divulgação/Hércules Andrade)

“Não [sobre tratar do tema]. Nós temos prioridades, que é a alfabetização, educação financeira. Temos a dificuldade, hoje, da questão da evasão escolar […] Então, ideologia de gênero, pronome neutro, tudo isso nós somente somos contrários porque é trazido pela esquerda pra dentro da escola. Então, a gente tem que fazer uma defesa reativa, por exemplo, da língua portuguesa quando se trata do pronome neutro, a ideologia de gênero também da mesma forma. A gente se coloca como uma reação à ação da esquerda”, disse quando perguntado pela reportagem da CENARIUM

Pesquisadores defendem que o termo ideologia de gênero foi criado para atender a preceitos religiosos e ainda é utilizado com o objetivo de deslegitimar estudos e mobilizações fundamentais para a garantia dos direitos e da liberdade de pessoas LGBTQIAPN+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexuais, Assexuais, sendo que o símbolo “+” acolhe as demais orientações sexuais).

Clã Bolsonaro

A expressão foi usada como motor político de Jair Bolsonaro e seu grupo de apoiadores para aglutinar pautas moralistas a fim de mobilizar militantes e manter a base eleitoral. Uma pesquisa feita pela Agência Diadorim revelou que a “ideologia de gênero” foi repetida 206 vezes no Twitter, Facebook e Instagram do ex-presidente e seus filhos. 

A discussão ganhou força a partir de 2014, período em que o presidente mais usou as redes sociais para falar do assunto, a partir da tramitação do Plano Nacional de Educação (PNE). 

Ao Brasil de Fato, a pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Gênero da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Daniela Rezente, explicou que o combate à chamada ideologia de gênero, surge no final da década de 1990 em reação à uma série de discussões sobre o direito das mulheres iniciadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), protagonizado pela ala mais conservadora da Igreja Católica.

Símbolos com repretação de diversidade de gêneros (Reprodução/Pixabay)

A cientista política detalha que a base do movimento “anti-gênero” é a defesa da chamada “família natural”, expressão bíblica que determina que a instituição familiar é composta por um homem, por uma mulher e por seus filhos. 

A expressão passou a ser usada por grupos evangélicos contrários aos estudos de gênero iniciados nas décadas de 1960 e 1970 nos Estados Unidos e Europa que tratavam sobre a diferença entre o sexo biológico e o gênero. 

Para esses acadêmicos, ser um homem ou uma mulher depende de padrões culturais e comportamentais e não apenas da genitália ou dos cromossomos. Tais características, segundo os estudiosos da área, são adquiridos na vida em sociedade. Por outro lado, grupos religiosos e conservadores acreditam que as conclusões desses estudos sobre o gênero não possuem validação das ciências exatas e biológicas.

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Editado por Adrisa De Góes