‘Nutrir a positividade e olhar o próximo’, aconselha psicóloga para combater tristeza em tempos difíceis

A sensação de felicidade pode ser alcançada na ajuda ao próximo, afirma psicóloga. (Reprodução/ Internet)

30 de junho de 2021

13:06

MANAUS – O Brasil ocupa o segundo lugar no triste pódio da infelicidade, atingindo o índice de 19,8% e perdendo apenas para a Turquia, que lidera com 26,28%. O levantamento foi realizado nos três primeiros meses deste ano pelo economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Daniel Duque.

O estudo considera que quanto mais altos os números, pior o resultado. Um dos principais pontos ressaltados na pesquisa “Índice de Infelicidade” são os problemas econômicos, a inflação, a alta do desemprego e a “solidão” causada pela pandemia. De acordo com a professora universitária e psicóloga Carla Guimarães, a infelicidade do brasileiro frente a todas as demandas enfrentadas vem basicamente da falta de perspectiva. A falta de uma motivação futura acabaria auxiliando para o que ela denomina de “olhar vazio”.

“Quanto de nós estamos nesse momento, sem perspectiva frente a tudo que tem acontecido? Nos últimos tempos têm aumentado muito os índices de depressão e suicídio no Brasil. Sabemos que não podemos fazer um recorte e explicar a infelicidade sem antes partirmos de toda uma estrutura, principalmente a familiar”, pontua a psicóloga.

Exercer o bem ao próximo também é um tratamento que contribui positivamente para o emocional (Reprodução/Internet)

Criar oportunidades e não paralisar

Outra pesquisa divulgada em março deste ano pelo ranking de felicidade do WHR, em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), mostrou que o Brasil aparece ocupando o 41º lugar no ano de 2020, caindo 12 posições se comparado ao ano anterior. Os motivos do desânimo, ansiedade e sentimentos mais complexos também foram considerados, em grande parte, como desencadeados pela pandemia.

A psicóloga aconselhou a como agir para não sucumbir aos retrocessos vividos no País e manter a esperança em tempos difíceis. Segundo Carla, quando a infelicidade ou tristeza excessiva é desencadeada por problemas financeiros, a dica é não estagnar.

“Quando a pessoa fica estagnada diante de um problema, sem movimento, ela não consegue enxergar outras alternativas. O movimento leva a pessoa à criatividade. A própria criatividade traz para a pessoa novas formas, novas possibilidades. O trabalho eleva o sujeito e traz cidadania. Acredito que quando a pessoa se movimenta ela encontra possibilidades e há apoio para essas formas de trabalho”, aconselha.

Para as inúmeras iniciativas realizadas durante o período caótico da pandemia, exercer o bem ao próximo, mesmo em uma situação não favorável, também é um tratamento que contribui positivamente para o emocional. “Na pandemia verificamos a quantidade de pessoas que criaram movimentos em prol dos outros. E quando há movimento do sujeito, há criatividade diante dos problemas. O sujeito fica livre de cair em adoecimento, em patologias que o aprisionaram”, explica Carla.

“Nutrindo o positivo e olhar para o outro”

Mesmo em tempos difíceis é necessário para o ser humano “nutrir a mente” com pensamentos positivos diariamente e ter cuidado de não deixar a vida ser vivida de forma robótica. Além da procura por terapias e consultas psicológicas já conhecidas, uma ferramenta poderosa contra as diversas patologias desencadeadas em tempos de retrocesso pode ser refletir e dar sentido para a vida, atenuando o medo do “amanhã”.

“É preciso parar e pensar: qual é missão que você tem? Estamos em um mundo tão egoísta em que as pessoas querem tanto ser felizes que, muitas vezes, não paramos para pensar que nossa missão de vida pode estar voltada para o outro e não apenas para si mesmo”, lembrou Carla.

A psicóloga lembra que mesmo antes da pandemia, a falta do “porquê” e da não realização já era crescente, mas a crise na saúde apenas ressaltou ou aflorou os casos. A especialista explica que a dopamina e a serotonina são liberadas pelo cérebro no momento da ação e estimulam o sentimento da felicidade e bem estar. Essa ação, se feito constantemente, combate a sensação de insatisfação e infelicidade.

“Eu sempre uso uma frase do psiquiatra Viktor Frankl, que pontua o seguinte Quem tem um “porquê” enfrenta qualquer “como”. Sabemos que não está fácil, mas o start para sair desse ponto negativo pode ser bem mais simples do que imaginamos, em alguns casos. É óbvio que cada caso é um caso, mas cada um precisa buscar dentro de si o “porque e o para que”, finaliza.